Sunday 22 June 2008

Anda a violência xenófoba

Para onde iremos quando a África do Sul estiver destruída?Houve uma altura na minha vida em que procurei desesperadamente uma empregada doméstica porque não conseguia dar resposta ao trabalho, aobebé e às tarefas domésticas. Dirigi-me ao quadro de anúncios de uma loja de conveniências da vizinhança e anotei alguns contactos. Telefonei a um certo número de mulheres e marquei encontros com seis. Uma delas, sul-africana, não apareceu, mas mandou-me um kolmi. Quando lhe liguei, perguntou-me se podia ir buscá-la, porque não tinha dinheiro para o transporte. Disse-lhe que outras cinco mulheres, que não eram sul-africanas, tinham conseguido chegar a minha casa à hora marcada. Uma delas até veio com uma criança às costas, na neneca.Esse episódio, entre muitos outros, mostrou-me claramente que nós, sul-africanos, achamos que temos direito a tudo. Achamos que o mundo nos deve alguma coisa. Isso é sobretudo verdade para os negros. Não me levem a mal, mas, directamente ou indirectamente, pensamos que o apartheid é uma coisa aque nos podemos agarrar para podermos ser vistos como vítimas, e que tudo nos devia ser facilitado. E aqui estamos nós, 14 anos após o início da democracia na África do Sul, ainda agarrado a 1976. Muitos de nós não conseguem aproveitar o acesso à educação nem a oportunidade para aprender mais e marcar a diferença. Por isso abusámos de pessoas que estão simplesmente a fazer os possíveis por ganhar a vida. Os recentes ataques contra estrangeiros são a prova de que somos uma nação estúpida.'Roubam-nos os empregos e violam-nos as mulheres', dizem os responsáveis por centenas de crianças inocentes estarem agora a viver em tendas com as famílias. Como é que alguém pode tomar em mãos o seu destino quando ossul-africanos, no velho estilo dos bairros negros, se sentam todo odia a apanhar sol, na má língua e a queixarem-se dos estrangeiros quelhes roubam os empregos? Como é que uma pessoa que se esforça tanto por arranjar emprego e por exercê-lo bem merece ser espancada e até queimada?Não percebo como fomos engendrados como sul-africanos. Sei que nãotemos todos a mesma mentalidade, e que há cidadãos instruídos que sãocompletamente opostos a tais actos. Mas a rapidez com que essesataques se espalharam é uma vergonha nacional. Porque é que não participamos de forma tão rápida e colectiva em actividades de construção nacional? E porque estamos tão dispostos a participar quando se trata de coisas que não só destroem vidas humanas como também a economia e a credibilidade do país? Dizemo-nos uma nação civilizada? Tenho vergonha de ser sul-africana. Somos uma nação bárbara, é o nosso pior pesadelo.Pergunto-me o que acontecerá quando finalmente atingirmos o objectivode arruinar por completo o país - a economia, a credibilidade e osvalores sociais - e precisarmos da ajuda dessas mesmas pessoas queandamos a matar. Será que esperamos que esses países cuidem dos nossos filhos como fizeram no tempo do apartheid para regressarem à África do Sul como dirigentes instruídos, sábios e capazes? Ou será que esses países também têm o direito de espancar os nossos filhos, de os queimar vivos e de os escorraçar como se fossem criminosos?

XULU NOMFUND, In “The Times”, 26/5/2008.


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