Sunday, 30 September 2012

Já não se trata simplesmente de demagogia e arrogância

Agora os “agentes da oligarquia” saqueiam a seu belo prazer em nome
da manutenção do poder…
Os tempos em que os diferentes governantes ainda guardavam e exibiam algum pudor e agiam no sentido de não ofender a moral pública e insultar o senso comum passaram vertiginosamente.
Logo que se revelou que a presença incómoda de Samora Machel já não existia para os apoquentar, os “camaradas” rapidamente enveredaram por caminhos que antes eram absolutamente impensáveis. E quem afirma isto são diversos “camaradas” que antes pertenciam à chamada “linha dura”. Uma linha ao fim ao cabo muito parecida com o que o estalinismo reinante na antes URSS preconizava. Com fervor e fôlego renovados uma boa parte dos “camaradas”que antes se escondiam seus apetites e ideias, arreganharam os dentes e lançaram-se ao assalto do espólio que sempre desejaram.
Numa combinação estreita com os novos valores em voga, uma vez consumada a queda do “Muro de Berlim” e da própria URSS, já não havia como parar ou frear a ala dos que decidiram bater-se pelo “Empoderamento Económico Negro”. De uma maneira estratégica a nova liderança livrou-se do empecilho que algumas figuras defensoras dos preceitos marxistas-leninistas representavam. Foram sucessivamente reformados ou colocados em posições marginais, muitos dos que se arvoravam em ideólogos do regime nos tempos de Samora Machel. Rapidamente se montou um esquema que excluía quem não estivesse disposto em alinhar com os novos paradigmas e isso surtiu os seus efeitos.
O que valia e era essencial para a sobrevivência política alterou-se de maneira profunda e uma nova realidade emergiu.
Se a postura antes apresentada pela maioria dos membros da Frelimo era de acordo com preceitos de pureza e perfeição revolucionária incontestável, cumprimento rigoroso das orientações emanadas pelos órgãos do partido e uma absoluta obediência ao que os superiores hierárquicos determinassem como caminho a seguir, agora agia-se em direcção completamente diferente. Da liderança a preocupação principal era distribuir e redistribuir entre si o que se apresentava com algum valor.
Desde empresas a terras, património do estado e de todos os moçambicanos foi estrategicamente transformado em propriedade privada sem qualquer contestação.
Houve tempos em que a contestação estava fora de questão pois nem no seio do partido nem no seu exterior não havia condições nem coragem para desafiar uma máquina partidária que remetia os opositores a campos de reeducação por simples discordância de uma orientação ou por comportamentos considerados sacrilégios pelo partido. Viviam-se os dias do estado policial e os “camaradas” tomavam posições em função de uma estratégia que não admitia a expressão ou manifestação de qualquer opinião contrária.
Um grupo de moçambicanos, protagonistas proeminentes no movimento de libertação, forçou suas teses políticas e filosóficas, se é que podemos afirmar tal coisa, em todos os outros concidadãos. Não havia pena nem agravo. Tudo se resumia a cumprir com as “orientações”.
Um sistema sofreu uma derrocada real mas deixou uma herança na memória colectiva e institucional.
O partido governamental, Frelimo, procurou mudar mas no essencial sua forma de actuar, os fundamentos orgânicos e a relação hierárquica no seu seio pouco se alteraram. O famoso centralismo democrático impera a todo o gás e a sua expressão é sentida em toda a sociedade.
Uma das características mais notáveis do regime de partido único antes em vigor era sem dúvidas a subordinação de todo o aparelho governamental às directivas do partido. Não havia algo que o partido quisesse que não fosse cumprido integralmente desde a administração de distrito até aos ministérios. Era difícil perceber ou interpretar o comportamento e procedimentos dos membros séniores do partido como arrogância ou demagogia pois em geral os cidadãos estavam a “leste” das teorias políticas. Era fácil ao partido agir e determinar o que todos deveriam seguir sem contestação.
Essa maneira de proceder não foi abandonada logo que o pluralismo político foi instituído com o fim da guerra civil. Com o mesmo partido formando o governo e praticamente com os mesmos actores o que se deu e aconteceu foi uma continuação mais ou menos camuflada do modus operandi anterior. Sem que fosse público o mesmo tipo de instruções quanto a drenagem de fundos governamentais para o partido no poder prosseguiu e cresceu conforme foi considerado estratégico pelo partido no poder.
Sabe-se e é deveras evidente que a maioria parlamentar nunca se manifestou ou agiu em defesa do regulamentado e legislado quanto a utilização ilícita dos fundos públicos para actividades políticas.
Face e perante um ambiente de permissibilidade total, de impunidade institucionalizada, todos os “cabritos estão comendo onde estão amarrados” e a justificação por todos utilizada é de que tudo o que fazem é nome da defesa do regime.
Quando se reabilita uma casa para receber a delegação do PR em “presidência aberta” e se adquirem novos mobiliários, as contas são empoladas a belo prazer do administrador ou governador local ou de suas equipas de administração e finanças. Ou não é assim que as coisas acontecem?
Não vale a pena inventar ou procurar descobrir justificações tanto ao hábito de muitos dos comentaristas televisivos que pululam pelo país. Também de nada vale procurar defender um estado de coisas pela via do silencia estratégico como muitas vezes se observa que fazem dos “críticos pagos pelo regime” para encobrir dossiers inquietantes e incómodos.
Uma das questões vitais para a república moçambicana é capacidade de se criar uma ordem institucional coesa, coerente com os mais altos princípios governativos.
No lugar de deixar-sebas coisas ao sabor do vento e da vontade ou inspiração de cada dirigente há que ver-se adoptado um código de conduta a que todos os agentes do estado se vejam obrigados a seguir. Já é tempo de olhar-se para o panorama político nacional e considerar que outros intervenientes e actores, poderão um dia não muito distante, tornar-se as cabeças do executivo e assim assumirem as prerrogativas inerentes à governação.
Este Moçambique clama por normalização governativa e isso deve ser feito independentemente dos apetites e agendas de que está no poder hoje. Exige-
-se que os políticos combatam a inercia institucional estratégica através da promoção de códigos de ética e moral que tragam credibilidade para a esfera pública.
Subverter a ordem democrática através da institucionalização de práticas promotoras de corrupção e assalto desmedido aos cofres públicos numa directiva que visa garantir as condições de manutenção no poder de determinada figuras de um partido é política mas ao mesmo tempo pode ser “disparar para os próprios pés”.
Aquele atraso na concretização de agendas até bem desenhadas e necessárias para o país e os moçambicanos deriva directamente das práticas que os responsáveis aos mais diversos níveis decidem implementar.
Enquanto os prevaricadores ainda merecerem prémios, emulação e bajulação o país está condenado a continuar tendo no seu executivo gente medíocre e de baixa índole moral e ética.
Quem se beneficiou ilicitamente de suas posições no aparelho governamental jamais deveriam ser recompensado com cargos na esfera privada de topo se isso não é feito como parte de uma orquestração e confraria de caracter “mafioso”. Serviste bem e acima de qualquer suspeita, então a tua reforma é seres PCA desta ou daquela empresa pública ou privada.
A avalanche de rombos e roubos do erário público acontecem num ambiente viciado pela impunidade.
Os gestores públicos ou de empresas públicas não tem receio de “irem aos cofres” sob sua guarda porque sabem que “suas costas estão quentes e são quentes”.
Defender o regime do dia é a justificação que muitos procuram oferecer quando questionados.
E como se sabe, a PGR não tem muito interesse em investigar assuntos que coloquem o partido vermelho em questão. Num ano de congresso do partido no poder, seguido de eleições autárquicas e depois legislativas e presidenciais, é evidente que das instituições que velam pela administração da justiça, não se vai ver muita gente “mexendo em palha ou procurando incendiar a pradaria seca” com julgamentos e detenções de membros do partido vermelho.
Se houvesse vontade política, integridade, verticalidade, hombridade e uma boa dose de honestidade por parte dos integrantes deste governo Moçambique estaria caminhando a passos largos para o progresso.
As falcatruas anunciadas periodicamente nos órgãos de comunicação social são factos reais que em países normais seriam exemplarmente punidos, em nome da justiça, da equidade e da responsabilidade governativa. A questão não é apoiar-se uma agenda puritana ou procurar estabelecer formas de coerção governamental incompatível com os preceitos democráticos. Todos têm o direito de defender-se perante a lei mas de igual modo todos são iguais perante a mesma lei.
Urge que os moçambicanos tomem conta de seu destino e isso passa necessariamente pela interrupção de uma cadeia de comando que não satisfaz nem corresponde aos seus anseios e aspirações legítimas a uma vida digna, entanto que seres humanos com direitos consignados na sua constituição.
Há forças sinistras e interesses conexos conjugando-se para que tudo continue na mesma o que obviamente não aceitável para a maioria dos moçambicanos.
E os moçambicanos mostram-se cada vez mais esclarecidos e informados quanto a sua real situação e ao que impede as mudanças pertinentes.
“Para a frente é o caminho” e decerto que os moçambicanos não desistirão nesta batalha fundamental pela sua vida e dignidade.

Noé Nhantumbo, Canal de Moçambique – 26.09.2012, citado Moçambique para todos

Uma cidade que se regenera


Aos 105 anos de elevação à categoria de cidade, Beira mostra-se renovada mantendo o seu estatuto de segundo maior centro urbano de Moçambique e impondo-se como a que se segue imediatamente à principal economia do país. Nos últimos anos, o desenvolvimento da urbe atingiu proporções gigantescas. Porém, continua a debater-se com problemas de natureza diversa próprios de uma cidade em crescimento. Assegurar a protecção costeira, melhorar a gestão dos resíduos sólidos (lixo) e conjugar a indústria, o comércio e turismo são alguns dos actuais principais desafios das autoridades municipais.
Durante muito tempo, as pessoas tiveram uma visão pejorativa do segundo maior centro urbano do país. Elas olharam para o Chiveve, como é conhecida a cidade da Beira, como uma urbe com diversos problemas, com destaque para a questão do lixo, da precariedade dos edifícios e das vias de acesso. Contudo, a situação mudou.
Presentemente, a cidade é mais limpa. A ausência da cólera e a redução significativa da malária são alguns dos indicadores. O município conseguiu fazer o enxugo das águas, e os charcos e o lixo deixaram de existir.
Com uma população estimada em 431,583 habitantes, Beira é considerada uma placa giratória, para onde converge a migração moçambicana. Tem a vantagem de estar localizada junto ao mar, jogando um papel bastante importante junto aos países do “interland” e, como se não bastasse, é uma autarquia que tem mostrado a complexidade demográfica de Moçambique.
Apesar de ser uma cidade costeira, à sua volta gravitam outros municípios. As pessoas oriundas da região Norte, Centro e Sul do país convivem nesta urbe, onde o desenvolvimento portuário atingiu proporções extremamente boas. Os corredores de Sena e da Beira estão a progredir. A sua ligação ao “interland”, e tendo em conta a crise no Zimbabwe, faz dela uma autarquia de oportunidades para os nacionais assim como estrangeiros.
Beira continua a ser a segunda cidade económica do país, e se o processo de investimento continuar a crescer ao nível actual, vai atingir patamares altos. A cidade não vive apenas da indústria portuária, mas também dum turismo extremamente forte que ainda tem de ser capitalizado, ou seja, há que se conjugar a indústria, o comércio e o turismo para se poder avançar.
A cidade cresce de forma vertical e também horizontal. Vê-se um pouco por todo o lado obras de construção de edifícios modernos, mantendo a linha arquitectónica de uma urbe construída no século XIX. Despontam vivendas nas novas zonas residenciais de uma elite emergente.
Os desafios do município
 
Actualmente, o grande desafio do município é assegurar a protecção costeira. Quando se circula pela cidade percebe-se que há esforços nesse sentido. “Já conseguimos mobilizar alguns fundos, da cooperação suíça, italiana, espanhola, do Banco Mundial e do Banco Árabe de Desenvolvimento. Vamos ter também dum banco alemão (KFW). Todos esses convergem para o objectivo comum que é assegurar a protecção costeira”, afirmou o edil da Beira, Daviz Simango.
Não se verifica apenas a protecção costeira de infra-estruturas, mas também a vegetal. Por outro lado, a edilidade pretende criar condições para garantir o processo de aterros que vai consistir num sistema de dragagem, com base na parceria com a Emodraga e outros intervenientes.
“A nossa intenção é assegurar uma parceria público-privada em que vamos conseguir explorar os solos do mar para se fazer aterros. Vamos criar infra-estruturas sociais, públicas e só a seguir é que as populações poderão construir as suas habitações. Isso vai permitir que haja estradas, redes de água, de esgoto, energia e espaços reservados a serviços públicos, reduzindo a construção desordenada nas zonas vulneráveis a inundações assim como o custo de aterro para os munícipes”, disse.
O outro desafio das autoridades municipais do Chiveve é a gestão de resíduos sólidos. Neste momento, a situação está controlada, mas o presidente do município reconhece que é preciso abrir novas frentes. Ao longo desses anos, a edilidade conseguiu atingir zonas mais problemáticas.
“É preciso fazer um trabalho tradicional em alguns bairros de difícil acesso para os camiões, passando a usar carrinhos de mão de modo que possamos trazer o lixo o mais próximo dos contentores”, afirmou, tendo acrescentado que a edilidade continua a manter o nível de trabalho feito na zona urbana, financiado pela União Europeia.
Para melhorar a situação do sistema de saneamento do meio na zona urbana, foram feitos contactos com o Banco Mundial e o Banco Árabe de Desenvolvimento para a abertura de mais valas, tendo sido criadas as condições para o fornecimento de água e escoamento de excrementos.
O número total de agregados familiares é de 94.804. Há mais mulheres (51 porcento do total da população) que homens (49 porcento) nesta cidade. Apenas 12 porcento da população do distrito da cidade da Beira têm acesso a água canalizada no domicílio, 42 fora dele, quatro consomem água proveniente de poço, e 24 têm acesso a um fontenário. Existem 14 unidades sanitárias (um hospital central, 11 centros e um posto de saúde).
No que respeita à rede rodoviária, a cidade da Beira está ser bastante pressionada pelo grande fluxo de camiões, situação típica de uma cidade portuária e com ligação a vários cantos do continente.
Diga-se, em abono da verdade, que há um trabalho que está a ser feito no âmbito da reparação de estradas, criando-se condições de modo que a urbe tenha várias áreas de parqueamento em zonas à entrada do município e que seja assegurado um encaminhamento directo das viaturas para o porto para se evitar a degradação das vias, pois, em média, por dia, circulam 600 camiões por aquela autarquia.
Refira-se que, depois de Maputo e Nacala, Beira é o terceiro maior porto marítimo internacional de carga de e para Moçambique.
Bairros desordenados e comércio informal
Os bairros desordenados continuam a ser um desafio complexo para a edilidade. Assiste-se à construção de moradias em zonas baixas, dificultando a fiscalização por parte do Conselho Municipal. A cidade da Beira, por estar abaixo do nível do mar, apresenta sérios constrangimentos ligados à erosão. Durante as épocas chuvosas, alguns problemas das zonas periféricas vêm à superfície. Presentemente, os bairros mais problemáticos são Munhava, Muchatazina e Espangara.
O comércio ficou mais intenso. O crescimento económico da Beira aumenta a expectativa de emprego nessa urbe. Como resultado disso, a actividade informal cresce de forma impressionante, o que reflecte o número de desempregados que entra no mercado por dia e de imigrantes que chegam àquela cidade costeira.
“Há que inverter este gráfico, pois isso não agrada a ninguém. Aliás, não se pode admitir que uma mãe com um bebé no colo fique desde o período da manhã até à meia-noite a vender uma bacia de banana, isso não é o destino que Deus nos deu, mas é um desafio e passa, em parte, necessariamente por distribuir espaços comerciais”, reconheceu Simango, acrescentando que “há muitas construções que estão a aparecer e nós pensamos que, apesar do número de entradas no mercado informal ser maior do que no sector formal, há um esforço no sentido de promover e garantir a existência de investimentos”.
Todavia, os financiamentos não satisfazem metade dos cidadãos que precisam de trabalho. A demanda de acesso ao sector informal continua a ser muito grande, tornando invisíveis os esforços da edilidade.
Uma cidade com características próprias
A cidade da Beira é uma das autarquias moçambicanas em que o presidente do município não tem bancada na Assembleia Municipal, o que eleva cada vez mais o exercício democrático a nível da Assembleia. Além disso, é uma urbe que se distingue por ser a única que não é governada pelo partido no poder, razão pela qual tem merecido a atenção dos próprios munícipes. Pese embora as várias circunstâncias e as pressões que existem, ela acaba por se revelar um município que está em franco desenvolvimento. Tem havido muito investimento.
Em termos de actividades normais, o executivo está em condições de assegurar aquilo que é a produção da autarquia. Diga-se de passagem, presentemente Beira é um município não endividado que, com base em recursos próprios, tem conseguido dar resposta às necessidades dos munícipes.
Enquanto nas outras autarquias é o executivo que faz a distribuição dos fundos, na Beira a edilidade simplesmente exerce a sua função de homologação, e quem faz a gestão é uma instituição bancária, não havendo hipótese de viciação ou tráfico de influências.
De um modo geral, a cidade da Beira é uma referência, tendo logrado visibilidade nacional e internacional através dos vários prémios obtidos.
Breve historial
Beira, capital da província de Sofala, tem o estatuto de cidade desde 20 de Agosto de 1907 e, do ponto de vista administrativo, é um município com um governo local eleito. Sendo a segunda maior cidade de Moçambique, conta com uma população de 431.583 habitantes distribuídos por 94,804 agregados familiares.
A cidade de Beira foi originalmente desenvolvida pela Companhia de Moçambique no século XIX, e depois directamente pelo governo colonial Português entre 1942 e 1975, ano em que Moçambique obteve a sua independência. Actualmente, a urbe encontra-se modernizada, embora ainda mantenha algumas áreas degradadas e problemáticas, como é o caso do Grande Hotel Beira.
A povoação foi fundada pelos portugueses em 1887, numa área conhecida pelo nome de Aruângua, tendo suplantado Sofala como principal porto no território da actual província de Sofala. Originalmente chamada Chiveve, o nome de um rio local, foi rebaptizada para homenagear o Príncipe da Beira, Dom Luís Filipe.


Helder Xavier, A Verdade

Saturday, 29 September 2012

A vitória da cobardia

Na semana passada advertimos para o facto de que tínhamos de ter medo do nosso medo e não da Frelimo. Dissemos que o congresso daquela formação política, de forma alguma, devia incomodar os cidadãos deste país. Não devia incomodar por razões, agora, claras, nítidas e cristalinamente óbvias. No casa da libertação dos moçambicanos, onde residem os primeiros no “sacrifício e últimos no benefício” a liberdade de opinião e de expressão morreram.
As poucas vozes que se opõem à ordem vigente provêm das antigas glórias desta formação partidária. Apenas Marcelino dos Santos, Jorge Rebelo, Graça Machel e Mulembwe conseguem dizer, sem pejo, o que pensam e – para não cairmos na injustiça das generalizações – mais alguns rostos anónimos de antigos combatentes.
Os novos rostos da Frelimo não falam, não questionam a liderança e nem propõe coisas fora da órbita do Grande Líder. Os jovens, por seu turno, não propõem nada. Permanecem quedos e mudos. Aliás, levantam a voz apenas quando se trata de exaltar a liderança sábia e clarividente do Grande Líder.
Não se comportam de tal forma porque mamam das tetas do Estado. Este comportamento servil da juventude moçambicana (OJM) não radica de um lugar na Grande Mesa. Este comportamento, quanto a nós, deriva do atrofiamento da capacidade de descortinar injustiças e lutar pela verdade e, também, de algum masoquismo.
Não se justifica que os jovens, reunidos no congresso, não tenham, em algum momento, erguido o punho contra a delapidação de recursos, contra o preço das casas e a falta de emprego. Não é normal que tenha de ser um veterano da luta de libertação nacional a abordar o problema dos jovens.
Não pode ser Rebelo a questionar a censura e coisas que tais. Quem precisa de espaço para opinar e propor soluções é o jovem. Ele é que precisa de desconstruir, para o bem do país, a Frelimo dos libertadores para pavimentar novos sentidos.
Essa, pelo menos, era a esperança de muitos moçambicanos. Queríamos ver os jovens da Frelimo a questionarem a liderança. Mas isso não aconteceu. Reconduziram Guebuza para mais cinco anos. Não deixaram espaço para os jovens. Aliás, os jovens afirmaram que não precisam de espaço. O que é uma tremenda mentira.
Querem espaço, mas são cobardes. Não conseguem enfrentar pessoas com ideias consolidadas ainda que não acreditem nelas. Detestam os megaprojectos, mas não são capazes de exigir a renegociação dos contratos.
Não são capazes de perguntar ao chefe do Estado de onde veio a riqueza da sua prole. Sofrem calados e murmuram nos cantos. Cobardes. Vão morrer sem terem gozado a juventude e vão deixar de ser jovens para passaram pelo mundo sem terem sido homens.


Editorial, A Verdade

Países industrializados injectam 389 milhões de Euros em Moçambique

O grupo de países industrializados (G8) vai lançar, este mês, um novo projecto de melhoria de produção agrícola e segurança alimentar em Moçambique, avaliada em 389 milhões de euros, anunciou o embaixador norte-americano em Maputo, Douglas Griffths, citado pela Lusa.
De acordo com o diplomata, "este projecto do G8 é novo, vai ser assinado ainda este mês nos EUA e deverá contar com o envolvimento também do sector privado para criar emprego e transformar a sociedade".
Em 2005, na Cimeira de Gleneagles, no Reino Unido, o grupo que reúne os oito países mais ricos do mundo comprometeu-se a destinar 19,5 mil milhões de euros por ano a África até 2010, uma promessa criticada por alegadamente não ter sido cumprido integralmente.


RM

Friday, 28 September 2012

Eleição da filha de Guebuza para o Comité Central da Frelimo contestada

Valentina Guebuza concorreu pela lista de antigos combatentes do sexo feminino. Quando foi anunciada como membro do Comité Central, o tom dos aplausos reduziu contrariamente quando foram chamados outros jovens.
A filha mais “sonante” de Guebuza, Valentina Guebuza, herdeira do pai nos negócios da família, tem também ambições políticas. Valentina concorreu e foi eleita membro do comité central, mas não reuniu consenso.
Muitos jovens da praça pública manifestaram a sua indignação à eleição da Valentina, por via de Facebook e Twiter, as redes sociais mais usadas no país.
Porém, mais uma vez, se se considerar que os fins é que contam, fica para a história o facto de Valentina ter sido eleita membro do CC, apadrinhada pelo seu pai. Ela concorreu como antiga combatente – estatuto que lhe é conferido pelo pai, segundo noticiou o CanalMoz.
Valentina foi apadrinhada pelo pai que é presidente do partido, actual presidente da República e presidente da Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACLN).
A eleição da “princesa milionária” – como foi descrita pela revista Forbes África de Agosto de 2012 - criou descontentamento entre os delegados, que estranharam o facto de Valentina ser “antiga combatente”.
Celso Correia também investe em política via Guebuza
Outra cara nova é a do empresário Celso Correia, um jovem que caiu nas graças de Guebuza e foi visto a chegar ao cargo de presidente do Conselho de Administração do Banco Comercial de Investimentos através do grupo Insitec (uma das vacas leiteiras do Chefe do Estado). Sem experiência alguma comprovada na política, Celso Correia entra para o Comité Central concorrendo para Áreas Económicas e Sociais. Correia deixou fora do Comité Central, gestores de topo como Paulo Muxanga, actual PCA do HCB. Entram para o Comité Central para a mesma área Teodato Hunguana (PCA da Mcel e TDM), Rosário Mualeia (PCA CFM), e José Psico (PCA do Instituto Nacional do Turismo).
Alberto Nkutumula é o jovem mais votado do Comité Central
Nova cara do CC é também a do actual vice-ministro da Justiça, Alberto Nkutumula. Foi, de resto, o jovem mais votado em números que exprimem a sua popularidade e aceitação no seio dos membros. A ovação à sua eleição testemunha a sua a quantidade de adeptos que tem. Entram também pela lista juvenil os jovens “camaradas” Henriques Mandava, António Niquice, Osvaldo Pitersburg, Cahimo Raul, Dulce Canhemba, Catarina Dimande, Suzete Dança.
Refira-se que fazem parte do CC 180 membros e 18 suplentes. O Congresso só elegeu 56 membros propostos pela anterior Comissão Política e os restantes 124 foram eleitos a nível das conferências provinciais.

Leia aqui.

Máscara dos socialistas-capitalistas caiu em Pemba

 
Lázaro MabundaLázaro Mabunda
É este o problema que faz com que haja alergia às críticas na Frelimo. Ora, esta alergia só vem demonstrar que os dirigentes da Frelimo vestem-se de pele socialista, mas de espírito altamente capitalista. Isto é, corporalmente socialistas e espiritualmente capitalistas. Esta forma de ser revela-se, também, pela ambição desmedida em concentrar as riquezas nas mãos de poucos, sob argumento de que “não podemos ter medo de ser ricos”.

A Frelimo tentou continuar com o sistema de debates abertos à comunicação social, iniciado no IX Congresso, em Quelimane, em 2006. O objectivo era transmitir não só aos moçambicanos, como também ao mundo, a ideia de que a Frelimo é uma organização transparente, cujos debates, no congresso, são públicos, não havendo secretismo.
Os dirigentes do partido, sobretudo a presidência e o secretariado do partido, julgavam que tivessem o controlo do pensamento dos seus membros, da “unanimidade” no discurso. Não tinham imaginado que havia elementos que tinham pensamentos próprios, ainda não algemados, não formatados pela ideologia partidária. Não imaginavam que havia “quebra de unanimidades”. Por isso, a primeira vez que um membro quebrou unanimidade, a máscara da transparência da Frelimo caiu na baía de Pemba.
Iniciou o frenesim. Conforme contam os nossos colegas que cobrem o congresso (ver jornal O País do dia 25 de Setembro em curso) “Quando a intervenção de Jorge Rebelo, ontem (24/09/2012), começou a questionar a liberdade de opinião dos militantes e da sociedade, em geral, subitamente assistimos a um movimento estranho: os dirigentes da Frelimo mandaram parar a transmissão em directo da Televisão de Moçambique e ordenaram as outras televisões, que sem estarem a dar em directo gravavam o evento, a desligar as câmaras. Daí em diante, as ordens multiplicaram-se pelos oficiais de protocolo para os gestores dos media, sobretudo televisivos e radiofónicos, com algumas contradições pelo meio: ora era para os jornalistas abandonarem a sala, ora era para se manterem, mas com compromisso de não gravarem os debates”.
Ainda narram o seguinte: “Ao fim de algum tempo, clarificou-se a decisão: os jornalistas mantinham-se na sala, apenas com autorização de gravar mensagens de “partidos amigos e irmãos da Frelimo” e dos delegados ao congresso. Quando fosse a vez dos debates, as câmaras deveriam manter-se desligadas e os jornalistas... vigiados. De nada valeram os protestos dos jornalistas. A decisão foi mesmo avante. Facto curioso é que, quando Rebelo falou, vários camaradas comentaram, nos corredores, que o veterano ideólogo não tinha razão.”
Não é primeira vez Jorge Rebelo vir a público dizer que não há crítica na Frelimo. E não é o único. Sergio Vieira e outros também já o disseram. “Sem diálogo, não vamos longe. Temos que permitir às pessoas falarem sem qualquer medo de represálias. Isso não acontece no nosso partido e na sociedade em geral”, disse, no congresso, Rebelo, acrescentando que a intimidação manifesta-se de forma mais grave na comunicação social, amordaçada por agentes do Estado.
Para o ideólogo da Frelimo, citado pelo jornal O País, o perigo disso é os chefes não terem a percepção do que os membros pensam e querem, e, consequentemente, não poderem tomar as medidas necessárias para corrigir os seus erros. Rebelo entende que ninguém é perfeito. “Mesmo os chefes erram. Por isso, é preciso que saibam o que a população pensa. (…) no passado, não era assim. Espero que este congresso encontre um caminho para poder haver abertura. Havendo abertura, este partido seria muito mais forte.”
Na verdade, se os pronunciamentos de Jorge Rebelo podiam ser vistos como especulação dos “mulatos e canecos”, conforme se tem vindo classificar o grupo dos críticos internos do partido, os dirigentes da Frelimo fizeram a questão de apresentar publicamente as provas do que Rebelo havia dito: alergia à crítica, o controlo de opiniões dos membros e da imprensa.
Não restam dúvidas que a decisão, não só deixou cair a máscara da transparência nos debates do partido, como também a Frelimo, tal como disse Lourenço de Rosário, “deu um tiro no pé”.
Rebelo foi, ainda, mais longe, lançando o repto sobre a necessidade de se parar com a onda de racismo interno na Frelimo. “Muitas vezes, a unidade nacional é apenas um slogan utilizado nos discursos. Não se indica qual o conteúdo dessa unidade nacional. Ultimamente, fico preocupado quando oiço certos pronunciamentos de dirigentes altos da Frelimo, que querem dividir-nos, que dizem haver moçambicanos genuínos e não genuínos. Eu próprio já não sei se sou genuíno. Será pela cor? O Manuel Tomé e a Graça (Machel) são bem mais claros que eu. Esta é uma questão séria”.
A opinião de Rebelo foi reforçada por Óscar Monteiro, um dos que críticos internos, os ditos “mulatos e canecos”. Monteiro levantou, ainda, outras questões interessantes: “O partido Frelimo cresceu através do debate e da incorporação permanente de novos conhecimentos. Isso pressupõe irmos buscar as pessoas a cada momento, através da discussão, o que elas têm para dar para enriquecer o pensamento colectivo” e que há uma expressão na história da Frelimo que é “crescer por ondas”. Quer dizer “que todos vamos desenvolver aos poucos, os que estão à frente e os que estão atrás. Isso é o que permitiu à Frelimo, em dez anos, com poucos intelectuais, chegar à independência como um movimento com grande pensamento. Isso permitiu segurar o país independente. Não tínhamos técnicos especializados.”
E finalizou: “Eu diria que é esse o esforço a fazer permanentemente. A intenção de Jorge Rebelo sintetiza bem a forma de como nós crescemos, sem amarguras, sem convencimento de que só uns é que sabem. Eu acho que esta abertura e esta humildade de ouvir dos outros é que são as marcas que fizeram esta nossa organização”.
É estranho que a Frelimo venha com a decisão de encerrar as portas à imprensa só porque um dos seus membros quebrou o “pacto de unanimidade”, uma vez que os seus estatutos (artigo 8) já prevêem, como deveres do membros, “cultivar o espírito de crítica e de auto-crítica”.
Pareceu-me que os dirigentes da Frelimo se tivessem esquecido que os direitos e os deveres não são para enfeitar os estatutos, mas para serem exercidos plenamente pelos membros.
A paralisia cerebral da maior dos membros da Frelimo só irá perpetuar o medo, intrigas e discriminação. Através da crítica interna, a Frelimo deve dar o exemplo de como se combate a concentração de riqueza num grupinho. Deve perceber que “Luta contra imperialismo”, “contra a burguesia” e “contra a exploração” tem de ser desencadeada de dentro da Frelimo para fora, porque, hoje, os imperialistas, os burgueses e os exploradores estão mais dentro do partido do que fora dele.
O que me impressiona na Frelimo é a qualidade e a dimensão da hipocrisia dos seus dirigentes. Insistentemente, ainda que estejam conscientes de que o seu hino desajustou-se com o tempo, continuam – fizeram-no neste congresso – a incitar os “operários e camponeses” a unirem-se “contra a exploração”, além de ainda acreditarem no triunfo de um sistema que, não só deixou de existir, como também eles mesmos já o diabolizam.
Entoaram, em voz alta, no início do congresso, o seguinte refrão do seu hino: “Somos soldados do povo marchando em frente pela paz, pelo progresso, sempre avante unidos venceremos, socialismo triunfará”.
Quando a Frelimo entoava o seu hino nacional, estava pregado nas imagens das televisões. A minha intenção era ver se alguns dos burgueses, exploradores, da Frelimo abririam as bocas para dizer: “Avante operário, camponeses, unidos contra a exploração”. Para a minha surpresa, é que os capitalistas nem esconderam os seus rostos, muito pelo contrário, levantaram-nos, entoando em voz alta: “avante operários camponeses, unidos contra exploração”.
E a questão que me ocorreu foi: quem de todos que estão naquela sala é operário, quem é camponês? Quando lançasse o meu olhar, só via mais capitalistas, exploradores, proprietários de bancos, dos centros comerciais, de empresas de construção civil, de reservas e de empresas de exploração mineira, de transportes e comunicações, entre outras. Não consegui ver sequer um camponês, nem um operário.
A ideia de que na história da Frelimo havia uma expressão de que se devia “crescer por ondas”, “que todos vamos desenvolver aos poucos, os que estão à frente e os que estão atrás”, foi esquecida. Agora é o contrário. A ordem é “crescer por atrofiamento”. Quer dizer, poucos vão desenvolver rapidamente, os que estão à frente, cada vez mais à frente, e os de trás, cada vez mais atrás.
É este o problema que faz com que haja alergia às críticas na Frelimo. Ora, esta alergia só vem demonstrar que os dirigentes da Frelimo vestem-se de pele socialista, mas de espírito altamente capitalista. Isto é, corporalmente socialistas e espiritualmente capitalistas. Esta forma de ser revela-se, também, pela ambição desmedida em concentrar as riquezas nas mãos de poucos, sob argumento de que “não podemos ter medo de ser ricos”.
A outra prova da alergia à crítica é o facto de a Frelimo ter recolhido todos os exemplares do jornal “O País” do dia 25, que continham as declarações de Jorge Rebelo, eventualmente para os incinerar. Uma estratégia própria dos líderes híbridos marxistas-putinistas/capitalistas.
O racismo e a xenofobia de que se queixou Rebelo (moçambicanos genuínos e não genuínos) podem ser vistos como uma estratégia das lideranças do partido de minimizar o poder de crítica dos tais “moçambicanos não genuínos”. Não é primeira vez a ouvir falar-se de questões raciais na Frelimo. No ano passado, estas questões foram levantadas, até, por alguns jornalistas com mentalidade formatada pela ideologia do partido, nos habituais encontros anuais com o Presidente da República, igualmente presidente do partido. Dizia-se que o debate sobre a necessidade de renegociação dos mega-projectos era uma polémica levantada por “brancos”, os tais “moçambicanos não genuínos”, uma clara indirecta aos intelectuais do Instituto dos Estudos Sociais e Económicos (IESE).
Quer dizer, para alguns membros da Frelimo, o que determina a genuinidade de moçambicanidade é a cor da pele. Interessante critério, mas bastante preocupante, na medida em que este problema vem do interior da Frelimo, partido no poder. Esse é indício de que a unidade nacional ainda não é uma garantia.
É legítima a preocupação de Jorge Rebelo, por sinal ideólogo do mesmo partido que hoje o considera “moçambicano não genuíno”. Jorge Rebelo, tal como outros “mulatos, canecos e brancos” moçambicanos, não só lutou pela libertação deste país, pela unidade nacional, como também continua a prestar um contributo indispensável para o desenvolvimento do país. Na verdade, estes “moçambicanos não genuínos” são mais “moçambicanos genuínos” do que os que se auto-intitulam como tal, curiosamente, os mesmos que já negociaram o país nas bolsas europeias, americanas e chinesas.


Lázaro Mabunda, O País

Deixemos que a Frelimo se divida em dois para que os lambe-botas enlouqueçam de vez!

- Sobre o X Congresso da Frelimo

Muito já foi dito pelos mais insignes analistas e sumidades na matéria. Apenas queria ver o outro possível penteado em relação ao “bicefalização” do poder na Frelimo. Pelo que o Presidente Guebuza é o único candidato à presidência da Frelimo. Então, ele voltará de Pemba com mais um mandato por cumprir! Tudo bem.
Durante muito tempo pensei contra esta “inovação”. Na verdade, muitos que alinham pelo diapasão fazem-no por temer das macabras intenções do actual titular do cargo mais importante do país. Mas tudo isto não passa, ou pode não passar de mera especulação e nervosismo.
Eu vejo uma oportunidade em separar as águas; em ter um presidente a tempo inteiro e cuidar dos assuntos do país e um outro a cuidar do partido Frelimo. E mais, se este modelo se alargar até os níveis mais baixos da hierarquia partidária, as possibilidades para o alargamento das liberdades, redução da corrupção e conflito de interesse, debate democrático que se reflicta directamente no desenvolvimento económico serão maiores e benéficas para o cidadão e país. Esta decisão tem quanto a mim o potencial de finalmente ter-se o acesso ao Estado e Governo pelo cidadão, até agora capturado.
Explico-me:
Eu apoio a ideia de que o presidente da República não deve ser ao mesmo tempo titular de nenhum cargo político dentro do partido em que milita. Venha ele do MDM, Frelimo, Pamomo ou Ngonhamo.
Em teoria isto tem inúmeras vantagens para o cidadão, para o bolso do povo pagador do imposto, para os doadores, etc., pelas razões que abaixo elenco mas que não se limitam por ai.
1. O presidente da República poupara tempo em benefício dos assuntos estritamente do Estado: O Presidente da República livre de qualquer outra responsabilidade partidária teria mais tempo para se ocupar com assuntos do Estado, com o povo que o elegeu, com a governação. O Presidente de todos e acima de todos interesses partidários, evitaria misturar assuntos e confundir palanques. Provavelmente seria uma oportunidade par ao povo deixar de ser insultado e chamado de “distraídos, apóstolos da desgraça, antipatriotas, etc. e assim engajar-se na luta pelo melhoramento das suas vidas. Seria, por assim dizer, um presidente de todos e acima de todas as suspeitas; que separaria as águas frelimistas das do Estado e Governo.
2. Corrupção e conflito de interesse: talvez seja o ponto de põe todos moçambicanos, pagadores de impostos, nervosos. Os moçambicanos têm a sensação de que o actual presidente da República é quem está mais interessado em estar no poder para proteger o seu império económico. Verdade ou não, talvez seja por isso que existe uma relutância em ver a bipolarização do poder como coisa boa na Frelimo, pelo menos enquanto imperar a sombra ou mão de Armando Guebuza nisso. Na verdade, a bipolarização do poder poderá mitigar a incidência do conflito de interesses ou mesmo da corrupção neste país. Se não o fizer, pelo menos as mesmas práticas corruptas serão muito mais fáceis de detectar e denunciar. A confusão entre viagens do Estado e viagens do partido poderá acabar; OS CONSELHOS DE MINISTRO ALARGADOS AOS SECRETÁRIOS PROVINCIAIS DA FRELIMO E OUTROS QUADROS SUPERIORES DO PARTIDO irão acabar. Se isto acontecer, será muito fácil impugnar. Aliás, é sempre bom lembrar que o dia que o regime mudar, deveremos cobrar o dinheiro gasto no convite, transporte e acomodação de todos os membros estranhos a máquina de administração do ESTADO que participaram nestes tipos de encontro e que não foram poucos.
3. Prestação de contas: com um presidente da república “desconectado” do Partido, as presidências abertas poderão acabar, pelo menos nos moldes em que operam. O seu formato poderá sofrer alterações para dar lugar à mais abertura e discussão de assuntos que de facto interessam ao estado e as populações. A máquina do Estado poderá resgatar o seu papel de organizador destes altos eventos, ao contrário com o que acontecia até bem pouco tempo, em que os Secretários e responsáveis políticos eram os que triavam os dez cidadãos, entre outras práticas macabras, limitadoras das demais liberdades individuais. Acima de tudo, a sentido de posse (ownership) do chefe do Estado será de facto maior do que o actual, na medida em que por hora, tudo se imputa a Frelimo e sua liderança ou aos apóstolos da desgraça.
4. Preste ele contas ao Presidente da Frelimo ou não, a verdade é que os cidadãos moçambicanos experimentarão uma outra forma de relação com a governação, esquecendo por instantes a negra sombra absolutista que imperou nos últimos anos neste país. Pelo menos ela, estará acomodada algures, longe da pele do cidadão.
5. Em suma, a decisão do partido Frelimo em separar as lideranças CONSTITUI UM PASSO GIGANTE RUMO A VERDADEIRA DESPARTIDARIZAÇÃO DO ESTADO. O tricle down desta decisão tem o potencial de fazer avançar a nossa democracia e alavancar o pais pelo desenvolvimento!
Mas para que o povo Moçambique tire dividendos desta “inovação” é importante que vá mais além, colocando isto na constituição da República de Moçambique.
E mais.
É importante que esta “inovação ou adequação” se desdobre até os níveis inferiores da administração partidária, como por exemplo:
a) Limitando os titulares de cargos executivos do partido para que apenas fiquem por lá. Porque não faz muito sentido que um Secretário numa área específica seja ao mesmo tempo director de um gabinete numa universidade, semeando lá, terror aos colegas e constituindo-se em autêntico poder paralelo ao legalmente instituído.
b) Eu conheço até familiares e amigos que ocupam cargos de direcção no Partido Frelimo e são também chefes nas diversas repartições do Estado. Se Guebuza quer ser Presidente da Frelimo a tempo inteiro então deve igualmente ter uma máquina ao seu serviço a tempo inteiro, adoptando regimes muito fortes de incompatibilidade.
Melhorar as condições salariais dos membros da Frelimo
c) Também sei que a Frelimo é dos maus pagadores que este país tem, de tal sorte que os seus trabalhadores se socorrem do Estado para compensar o défice, fomentando assim um autêntico festival de práticas incestuosas e conflito de interesse que, invariavelmente combustibilizam a corrupção galopante. O acesso a direcção ou a posições no aparelho do Partido Frelimo é por assim dizer o primeiro passo para o acesso irrestrito aos recursos do Estado.
d) Mitigar o assalto aos cofres do Estado por esse grupo de pessoas passaria também por impor sérias restrições aos titulares de cargos de direcção do partido Frelimo no acesso a cargos de direcção no aparelho do Estado, confinando-os apenas ao partido, quanto muito ao sector privado. Para isto acontecer, o partido deverá (1) ter vontade, (2) pagar bem os seus trabalhadores e (3) profissionalizar seus quadros.
e) Guebuza não pode “mufar sozinho” no partido, enquanto os seus elementos engordam em copas do Estado moçambicano, dedicando pouco tempo para o estudo aprofundado e estratégico de diversas matérias à eles adstritas.
f) Guebuza não pode “mufar sozinho” no gabinete do partido enquanto os seus elementos o enganam sistemática e inteligentemente, através da única forma que conseguem provar que trabalham: o Facebook. É a velha máxima do trabalhador moçambicano: eles fingem que nos pagam e nos fingimos que trabalhamos.
g) É importante que o Congresso discuta a profissionalização dos seus quadros também. O trabalho político partidário não deve ser levado a cabo por quem está disponível a faze-lo ou um por caça-tesouros como aqueles que ouvimos sempre nas tardes dos fins-de-semana na RM. Três ou dois comentadores que sempre CONCORDAM ENTRE ELES DO PRINCIPIO ATE O FIM DO PROGRAMA (durante uma hora ou uma hora e meia) desafiando assim a inteligência do jornalista entrevistador.
Com a emenda dos Estatutos da Frelimo, existe uma oportunidade mais que soberana que os moçambicanos deverão não perdê-la, para tomar de volta o Estado, até agora capturado.
Se Armando Guebuza volta como presidente da Frelimo a tempo inteiro, então, é legitimamente exigível que os componentes da máquina executiva do partido também sejam a 100% disponíveis para o partido. Mais, o “enforcement” do artigo 75 da proposta dos Estatutos combinado com o estatuto do funcionário público e um Presidente da República de Moçambique a tempo inteiro, abrem-nos uma oportunidade soberana de chamar os cornos pelos nomes.
Estas medidas vão deixar os lambe-botas completamente loucos. Agradar dois polos de poder não vai ser fácil, até que descubram o paradeiro do verdadeiro poder.


Egídio Vaz, Contrapeso. Leia aqui.

Thursday, 27 September 2012

Esposa de Bakhir será chamada a depor

Uma fonte policial garantiu ao Canalmoz que a esposa do empresário Mohamed Bakhir Ayoob, detido na passada sexta-feira em Maputo, será chamada para depor.
Zeinab Bahkir, filha do empresário Momade Bachir Sulemane (MBS), irá depor sobre o seu marido. A fonte da polícia acredita que Zeinab não estivesse a para das "acções criminosas" do seu marido.
Até ao momento, a polícia chamou duas cidadãs para prestarem depoimentos na PIC (Polícia de Investigação Criminal). Selvanir Hanfi compareceu à polícia, onde ficou retida durante quase toda a segunda-feira, depois de ter dado garantias de que iria colaborar, dando a informação que possui sobre o empresário.
A outra cidadã, Leyla Brito, muito conhecida na sociedade média alta da cidade, não compareceu à polícia e está incontactável. Chegou a ter a sua conta no Facebook desactivada, mas alguém disse que recentemente voltou a estar activa. Estas duas cidadãs, moças da alta sociedade da capital, teriam recebido presentes milionários do empresários Bakhir, nomeadamente viaturas avaliadas em quase 200 mil dólares.

 “Jovem fã de carros, viagens e mulheres”
 
A fonte policial disse que a Polícia possuía mandado de busca e captura a Bakhir desde Julho, mas só sexta-feira passada é que executou, pois esperou para colher provas suficientes contra o empresário. A mesma fonte descreveu Bakhir como “jovem fã de carros de alta cilindrada, de mulheres e de viagens ao Dubai, para onde levava amigos e amigas”.
Segundo a mesma fonte, Bakhir pagava passagens a grupos de amigos para Dubai e São Paulo, Brasil, onde passava finais de semana em hotéis de luxo.
 
Bakhir está num lugar seguro
 
Quanto ao paradeiro actual de Bakhir, a fonte policial disse que “continua num local seguro, separado dos operacionais dos raptos,” também detidos pela Força de Intervenção Rápida.
“Descobrimos ainda alguns cartões escondidos na casa de banho de Bakhir. São tudo parte de mistérios de uma investigação minuciosa, que serão esclarecidos. Não é em três dias que iremos provar tudo isto, mas o certo é que as provas de que já dispomos são suficientes”, disse a fonte policial.
Contactamos o Comandante Geral da Polícia, Jorge Khalau, para ouvir a versão oficial da Polícia sobres este caso, mas disse que “neste momento não quero comentar sobre o assunto”.

@SAPO

Jornais confiscados e eleição presidencial com 23 votos brancos

MEDIAFAX Especial X Congresso da Frelimo


Pemba, 26 Set. (mediaFAX)- Enquanto Eneias Comiche lia no pódio do Congresso os princípios de liberdade de imprensa e pluralismo defendidos na proposta de programa do Partido Frelimo, zelosos seguranças colocados na sala de plenários e cercanias recolhiam zelosamente dos delegados, esta terça-feira, cópias do jornal “Savana”e de “O País”, a mando do secretário de Mobilização e Propaganda, Edson Macuácua.
A edição do “Savana” tinha como tema de capa “O Congresso das Alas”, dando conta da existência de várias tendências no interior da Frelimo e “O País” fez capa com Jorge Rebelo, o militante da velha guarda que se insurgiu contra o racismo, a falta de abertura e diálogo e as pressões sobre a comunicação social.
Apesar de o “Savana” ter sido proibido de circular no recinto do X Congresso da Frelimo por instrução expressa de Margarida Talapa (da Comissão Política do partido), centenas de exemplares da última edição do semanário foram distribuídos gratuitamente aos delegados entre domingo e terça-feira desta semana. Aparentemente, o que enfureceu Macuácua foi a capa de “O País” dando grande destaque às declarações de Rebelo, depois de na segunda-feira, o “controleiro”dos media ter desesperadamente tentado evitar que a STV (o canal televisivo pertencente ao mesmo grupo de “O País”), transmitisse a intervenção no jornal da noite, o programa mais visto do país, com uma audiência média de 1,5 milhões de telespectadores diários. Segundo apurou o “mediaFAX”, os responsáveis da STV garantiram que não tinham filmado a intervenção de Rebelo, mas transmitiram uma cópia alternativa de um operador que se encontrava na sala à altura. Na segunda-feira à noite, a TVM, a televisão estatal “ignorou” Rebelo e a STV, não só abriu o jornal com a intervenção do mais crítico depoimento do Congresso, como recolheu as declarações do reitor da Universidade Politécnica, Lourenço do Rosário que considerou a decisão de Macuácua em cortar os “directos” televisivos como “um tiro no pé” da própria Frelimo. O “mediaFAX” sabe que foi necessária a intervenção do presidente Armando Guebuza para que os “directos” sobre os debates fossem reintroduzidos terça-feira, mas as sessões acabaram por ser manchadas pela repressão contra os dois jornais moçambicanos já referidos.
Quarta-feira, Edson Macuácua contactou um dos responsáveis do jornal “Savana” para explicar que foram “medidas de segurança” que levaram ao confisco dos jornais e que eles seriam restituídos posteriormente. Macuácua, que em paralelo com o secretário-geral, Filipe Paúnde são acusados pelas alas críticas da Frelimo de “malemisar” o partido, antes do congresso, tentou controlar os comentaristas que colaboram habitualmente com os canais televisivos, sendo apontado agora, durante do Congresso, de controlar quem diariamente se apresenta nos comentários da televisão estatal. O “mediaFAX” sabe e tem a identificação do sociólogo que na noite de terça-feira recebeu instruções por intermédio da direcção da TVM para desqualificar e minimizar os conteúdos da intervenção de Jorge Rebelo. O antigo “idéologo” da Frelimo precipitou da segunda-feira o corte abrupto do “directo” que estava a ser feito pela TVM, passando a ser transmitidas apenas mensagens de saudações das províncias e de delegações estrangeiras. O termo “malemisacão” deriva do antigo líder da juventude do ANC da África do Sul, Julius Malema que é visto como racista, ambicioso político populista e de ter enriquecido ilicitamente utilizando expedientes políticos.
Dado o grande número de inscritos nos debates do Congresso, foi imposta a regra de três minutos por intervenção, o que acabou por prejudicar as intervenções de Sérgio Vieira e Graça Machel que gostariam de ter mais tempo para explicarem os seus pontos de vista. Vieira, que vai neste Congresso abandonar o Comité Central, conseguiu fazer passar a ideia de criação de um fundo soberano decorrente da exploração dos recursos naturais. Machel, que trazia uma intervenção escrita, conseguiu passar a ideia da necessidade de maior qualidade da militância no partido e da necessidade de se diminuir a distância entre “os dirigentes da Frelimo e os outros”. Depois de ser interrompida por três vezes por Guebuza, Graça Machel abandonou o pódio. Guebuza teve de fazer uma excepção à regra dos três minutos para com o antigo presidente Joaquim Chissano que na sua intervenção, quarta-feira, depois de perguntar se ainda tinha mais tempo, foi acompanhado por uma estrondosa ovação dos delegados.
Nas delegações estrangeiras quem não conseguiu falar foi o representante do PSD de Portugal, Morais Sarmento. Quando o seu nome foi chamado, já se encontrava a caminho do aeroporto. Ao que o “mediaFAX” conseguiu apurar, Sarmento, sendo do partido governamental em Portugal, ficou irritado por antes dele terem discursado os representantes do Partido Socialista e do Partido Comunista de Portugal, ambos na oposição. Outros partidos que não apresentarão mensagens são a Renamo e o MDM, a oposição parlamentar à Frelimo e que não se fizeram representar no Congresso.
Quarta-feira foi o dia para eleição do candidato único Guebuza a presidente da Frelimo.Foi eleito por 98,76% dos delegados 23 votos em branco. Decorrente desta inevitabilidade, o dia do Congresso aconteceu, sobretudo, fora do espaço da reunião com os vários “lobbies” e campanhas muito activos, sobretudo para a eleição dos 64 membros do Comité Central(CC) que serão conhecidos em Pemba. De entre os nomes mencionados, avulta o de Valentina Guebuza, filha do presidente e gestora de parte dos interesses económicos da família e também conhecida como “princesa”, depois de um artigo na revista “Forbes” a ter comparado a Isabel dos Santos, a filha do presidente angolano José Eduardo dos Santos. Os críticos consideram que esta candidatura, a vingar, passa para o exterior a ideia de sucessão dinástica, como acontece na Coreia do Norte. Outro empresário na corrida é Celso Correia, um jovem que preside ao grupo Insitec, um dos maiores do país. Outros nomes mencionados na ala juvenil são os de Carlos Mussanhane, envolvido no gabinete da esposa do presidente Guebuza, Osvaldo Pitersburgo, o presidente do Conselho Nacional da Juventude, Catarina Dimande, apresentadora de televisão e nora do general Alberto Chipande e Alberto Nkutumula, vice-ministro da Justiça e habitualmente o porta-voz do Conselho de Ministros. Na ala ministerial, Manuel Chang, o ministro das Finanças, muito discreto em questões políticas, poderá ser também candidato ao CC.

(mediaFAX). Leia aqui.

Hoje é o dia mais importante do congresso

Comite Central.

  • Hoje, deverão ser eleitos os novos Comité Central, Comissão Política, secretário-geral e Secretariado do Comité Central
  • Manuel Chang, Salvador Namburete, Celso Correia e Valentina Guebuza são alguns dos notáveis que se candidatam a uma das 50 vagas no CC
Depois da óbvia eleição de Armando Guebuza a presidente do partido, ontem, perspectiva-se, hoje, um dia de grandes novidades, no congresso da Frelimo, em Pemba. Com efeito, o dia de hoje deverá dar-nos a conhecer os novos integrantes do Comité Central, o órgão máximo deste partido, no intervalo entre congressos, da Comissão Política, bem como o (novo) secretário-geral e sua equipa, o secretário do Comité de Verificação, igualmente e sua equipa.
Na eleição ao Comité Central e à Comissão Política são garantidas as novidades, dado que os estatutos determinam obrigatoriedade de renovação de 40% dos membros em funções nestes órgãos. Ou seja, no caso da Comissão Política, dos actuais 21 membros, oito deverão abandonar o órgão.
No caso do Comité Central, dos actuais 180 membros, 72 não deverão continuar a integrá-lo no próximo mandato de cinco anos, substituídos por novas caras.
Dos 180 membros, 130 foram já eleitos ao nível das conferências provinciais, devendo unicamente ser homologados pelo congresso, amanhã. Assim, sobram as 50 vagas de nível central para completar o quadro. Podem ser candidatos a estas vagas todos os militantes deste partido, desde que não tenham concorrido e perdido a nível distrital e provincial. Por exemplo, Sérgio Vieira tentou renovar o seu mandato no Comité Central, concorrendo em Tete, mas deu-se mal, pois perdeu. Com isso, perdeu também a possibilidade de concorrer nas eleições de hoje.
Ou seja, para entrar neste órgão, os militantes podem fazê-lo por dois caminhos: concorrendo nas províncias ou agora no congresso. O primeiro processo já aconteceu e é o que elegeu os 130 membros. O que vai acontecer, hoje, é o que elegerá os restantes 50 lugares.
São vários os candidatos às 50 vagas disponíveis, sobressaindo nomes como os dos ministros das Finanças e da Energia, Manuel Chang e Salvador Namburete, respectivamente; o empresário Celso Correia; a filha do... presidente Guebuza, a empresária Valentina Guebuza, entre outros nomes.
    Jeremias Langa, O País

Quem vencerá não será a democracia nem os moçambicanos…

Mascarada de democracia ensaia-se e concretiza-se em Pemba

Com pompa e circunstância os moçambicanos são levados mais uma vez a assistir a um espectáculo de grandiosidade que na sua vida real não existe. Outros dirão que é mais um exercício de legitimação de uma liderança que já entendeu que sua sobrevivência com o actual status está intimamente ligada a sua posição no aparelho partidário ora em Congresso.

Noé Nhantumbo, Canalmoz. Leia aqui.

Wednesday, 26 September 2012

Simpatizantes da Frelimo e do MDM envolvem-se em escaramuças na praça dos heróis em Nampula

Os jovens simpatizantes dos partidos Frelimo e do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) envolveram-se esta terça-feira (25) em pancadarias na Praça dos Heróis em Nampula. A escaramuça começou quando a caravana do partido Frelimo tentou, sem sucesso, impedir a presença dos jovens do MDM naquela Praça.
Uma tentativa de diálogo entre as partes fez subir ânimos e tudo foi resolvido a murros. A iniciativa foi dos jovens da Frelimo. Não é primeira vez que uma situação idêntica acontece em Nampula nas celebrações de efemérides.
Um dos episódios mais recentes aconteceu a 3 de Fevereiro, o outro no 1º de Maio e outro ainda a dia 25 de Junho, todos este ano. Entretanto, a situação, que apela medida correctivas por quem de direito, está a virar moda nas datas festivas ligadas a História de Moçambique, da qual nenhum partido pode procurar tomar protagonismo em prejuízo do outro.
No caso desta terça-feira, os jovens simpatizantes da Frelimo aproximara-se dos do MDM e, violentamente, tentaram expulsá-los da Praça dos Heróis. Não ouve registos de situações alarmantes nem detenções.

Nuno Miguel, A Verdade

Tuesday, 25 September 2012

Uma pequena alteração estatutária que pode mudar o país

Pemba, Moçambique, 25 set (Lusa) - No segundo dia do X congresso da Frelimo, os delegados começaram a debater a revisão dos estatutos, longe do olhar dos jornalistas, a qual, pela alteração de um pequeno artigo pode mudar a história de Moçambique.
O artigo 75 é dos mais pequenos mas tornar-se-á decisivo se, como tudo indica, for aprovada a nova redação do ponto 1: "Os eleitos e executivos coordenam a sua ação com os órgãos do partido do respetivo escalão e são perante este pessoal e coletivamente responsáveis pelo exercício de funções que desempenham nos órgãos de Estado ou autárquicos".
A parte final da frase, que responsabiliza os eleitos "pelo exercício de funções" no aparelho de Estado, constitui a novidade e é por ela que se têm manifestado receios de que o futuro chefe de Estado pode ser controlado pelo presidente do partido que, pela primeira vez na história do país, deverão ser pessoas diferentes.
Armando Guebuza está impedido constitucionalmente de concorrer a um terceiro mandato na Presidência da República mas é o único candidato à sua sucessão na liderança do partido.
Será, pois, perante ele que responderá o futuro Presidente da República, se for da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), como parece inevitável, de acordo com a alteração proposta.
O debate de revisão estatutária foi fechado aos jornalistas, assim como os debates que se lhe seguem, numa decisão inesperada e concretizada por rabiscos no programa que já tinha sido distribuído, feitos à mão por responsáveis partidários e que assinalam as sessões abertas e as fechadas.
Resta à comunicação social os resumos feitos pelo porta-voz do congresso, Edson Macuácua, que, na segunda-feira, desvalorizou a alteração ao artigo 75.
A proposta de revisão, disse Macuácua, "apenas se trata de uma alteração técnica, sem ferir, sem alterar, sem diminuir o espírito" do artigo 75.
O porta-voz disse que esse "espírito" é o de permitir que o partido avalie o desempenho dos seus militantes que "são responsabilizados pelo exercício de certas funções com base na confiança" política.
"Este é um princípio basilar que tem paralelo em qualquer parte do mundo", disse Edson Macuácua.


Lusa

“As pessoas não falam à vontade na Frelimo e na sociedade”

Jorge Rebelo, antigo ministro de Informação
Jorge Rebelo quebrou os consensos no congresso de Pemba.
- “No passado, a Frelimo não era assim”, Jorge Rebelo
- “Nós crescemos sem amarguras, sem convencimento de que só uns é que sabem. Eu acho que esta abertura, esta humildade de ouvir dos outros é que são as marcas que fizeram esta nossa organização”, Jorge Rebelo.
Ao segundo dia, Jorge Rebelo afirmou-se como a voz dissonante do X congresso da Frelimo, que decorre em Pemba, quebrando o ambiente de unanimidades, que vinha desde o primeiro dia de trabalhos. Rebelo foi ao pódio reclamar maior abertura para os membros poderem apresentar as suas opiniões, “que, quando divergem das opiniões oficiais, ou são proibidas ou são reprimidas, no momento em que as pessoas querem falar.”
Jorge Rebelo vincou que “sem diálogo, não vamos longe. Temos que permitir às pessoas falarem sem qualquer medo de represálias.” Neste momento, ajuntou, “isso não acontece no nosso partido e na sociedade em geral.”
Rebelo disse que a intimidação manifesta-se de forma mais grave na comunicação social, segundo suas palavras, amordaçada por agentes do Estado.
Para o ideólogo da Frelimo, o perigo disso é os chefes não terem a percepção do que os membros pensam e querem e, consequentemente, não poderem tomar as medidas necessárias para corrigir os seus erros. Rebelo entende que ninguém é perfeito. “Mesmo os chefes erram. Por isso, é preciso que saibam o que a população pensa.”
Já fora da sessão, perguntámos-lhe se “foi sempre assim na Frelimo”. Jorge Rebelo respondeu que “no passado, não era assim. Espero que este congresso encontre um caminho para poder haver abertura. Havendo abertura, este partido seria muito mais forte.”
Na sua intervenção na sessão do congresso, Jorge Rebelo abordou igualmente a unidade nacional. Disse que era uma questão importante para o país, “mas, muitas vezes, a unidade nacional é apenas um slogan utilizado nos discursos. Não se indica qual o conteúdo dessa unidade nacional.”
Acrescentou que, “ultimamente, fico preocupado quando oiço certos pronunciamentos de dirigentes altos da Frelimo, que querem dividir-nos, que dizem haver moçambicanos genuínos e não genuínos. Eu próprio já não sei se sou genuíno. Será pela cor? O Manuel Tomé e a Graça (Machel) são bem mais claros que eu”, brincou, para logo a seguir retomar o ar sério: “Esta é uma questão séria”.
ÓSCAR MONTEIRO ASSINA POR BAIXO
Óscar Monteiro, outro histórico da Frelimo, corrobora as palavras de Jorge Rebelo. Entrevistado pelo nosso jornal à margem do congresso, o antigo ministro de Samora Machel entende que, numa organização, há sempre a tendência de as pessoas pensarem que todos os assuntos já estão resolvidos. “O partido Frelimo cresceu através do debate e da incorporação permanente de novos conhecimentos. Isso pressupõe irmos buscar as pessoas a cada momento, através da discussão, o que elas têm para dar para enriquecer o pensamento colectivo.”
   Jeremias Langa e Nelson Belarmino,  O País

Rebelo falou “demais” e Frelimo proibiu “directos” nos debates


X Congresso da Frelimo.
“A Frelimo deu um tiro no pé com esta decisão”, diz o académico Lourenço do Rosário.
Quando a intervenção de Jorge Rebelo, ontem, começou a questionar a liberdade de opinião dos militantes e da sociedade, em geral, subitamente assistimos a um movimento estranho: os dirigentes da Frelimo mandaram parar a transmissão em directo da Televisão de Moçambique e ordenaram as outras televisões, que sem estarem a dar em directo gravavam o evento, a desligar as câmaras.
Daí para diante, as ordens multiplicaram-se pelos oficiais de protocolo para os gestores dos media, sobretudo televisivos e radiofónicos, com algumas contradições pelo meio: ora era para os jornalistas abandonarem a sala, ora era para se manterem, mas com compromisso de não gravarem os debates.
Ao fim de algum tempo, clarificou-se a decisão: os jornalistas mantinham-se na sala, apenas com autorização de gravar mensagens de “partidos amigos e irmãos da Frelimo” e dos delegados ao congresso. Quando fosse a vez dos debates, as câmaras deveriam manter-se desligadas e os jornalistas...vigiados.

   Jeremias Langa,
O País

MDM renuncia a candidatura à Internacional Democrática do Centro

O Movimento Democrático de Moçambique (MDM) renunciou a candidatar-se à vice-presidência para África da Internacional Democrática do Centro (IDC), para se focar nas eleições autárquicas de 2013 e gerais de 2014, disse à Lusa fonte da organização.
Daviz Simango, presidente do MDM, disse que ao assumir a candidatura o partido seria obrigado a dividir a atenção nos próximos dois anos, cruciais para aquela formação politica, o que podia comprometer a preparação dos escrutínios eleitorais.
"Optamos por não nos arriscar. Temos duas eleições nos próximos dois anos que queremos preparar da melhor maneira possível, pelo que não seria viável velar por duas agendas gigantes (democracia em África e eleições internas)", disse Daviz Simango, presidente do MDM e também autarca da Beira.
O mesmo responsável disse que, apesar de renunciar à candidatura, o MDM continua empenhado na causa.
No sábado, Daviz Simango foi recebido em audiência no Vaticano, juntamente com outros líderes políticos da IDC, da Europa, África, Ásia e América, para transmitir solidariedade aos povos oprimidos por regime antidemocráticos.
"Manifestamos o nosso compromisso com a democracia em África e no mundo" disse Daviz Simango.
O MDM tem oito deputados na Assembleia da República de Moçambique e gere os municípios da Beira, a segunda cidade do país, e de Quelimane, a quarta cidade.
(RM/Lusa)

Monday, 24 September 2012

Carta Aberta ao Presidente da República e da Frelimo

“Nunca corte o que você puder desatar” – Joseph Joubert Wiliam James costumava pregar a «vontade de acreditar». Pela nossa parte, nós cidadãos atentos, gostaríamos de pregar «o desejo de duvidar.» Aquilo que é preciso não é vontade de acreditar mas o desejo descobrir que é exactamente o contrário. Permita-nos, senhor Presidente, que em nome de todos os Cidadãos Atentos deste país, o saudemos primeiro pelo seu trabalho e, segundo, que nos conceda a “licença democrática” para escrever as linhas que se seguem.
Era uma vez, senhor Presidente, dois países no Estado moçambicano: Um chamava-se Moçambique e outro Frelimo de Guebuza. Ás vezes os dois parecem-se um só, mas isso, está claro que não passa de uma mera ilusão de óptica criada pelos chineses e pelos ocidentais e evidentemente pelas multinacionais que projectam a suas sombras ampliadoras sobre Moçambique de tal modo que parecem mais importantes do que realmente são.
O país da Frelimo, sim, da Frelimo de Samora, Chissano, a vossa Frelimo, tem a idade dos cartões de abastecimento, dos fuzilamentos sem justa causa, dos assassinatos sem rosto e nós, seus cidadãos, principalmente os atentos, estamos, primeiro já cansados da vossa história mal contada e de palavras como “Bandido Armado”, “Futuro Melhor”, “Força da Mudança” e, segundo, cansados de competir convosco, a Frelimo de Guebuza, e de tentar parecer maior do que vocês!
No entanto, temos a certeza de que em breve, o Povo moçambicano se reunira do Maputo a Rovuma e pronunciará a única palavra mágica que vocês não conseguem suportar – a palavra NÃO – e assim os anos de faz de conta chegarão ao fim e o país da Frelimo de Guebuza será desfeito e um novo país tomará o seu lugar. Tudo dependerá, senhor Presidente, de uma reunião que terá lugar dentro de dias.
É estranho, senhor Presidente, que o primeiro a prevenir Moçambique no tempo de Samora, quando o país caminhava na ilusória segurança atrás da linha entre o maioismo tipo deng xiao ping e o marxismo o tipo stalinista – foi o senhor e agora na sua liderança está entre uma espécie de mitológica linha entre o capitalismo selvagem e socialismo selvagem, atrás da qual repousa um país despreparado para enfrentar um mundo de moderna tecnologia e poderio económico assim como estava despreparada a Frelimo de 1980 para a guerra contra a Renamo.
Mas o certo é que o senhor Presidente, com a sua presença, sempre teve o quase fantástico dom de impedir que o Povo percebesse a diferença entre os dois países - Moçambique e Frelimo de Guebuza.
Em 1990, embora o país estivesse destroncado economicamente, com muitos moçambicanos apoiando a política do General Dlhakama , o senhor conseguiu convencer esses aliados do General de que Moçambique é igual a Frelimo.
Falou desde 2004 em nome de milhões de moçambicanos que nem sequer sabiam que existe mas cometeu um erro: formou o seu governo com os melhores apanhas bolas do Governo da outra Frelimo. Quer dizer, não se preparou convenientemente para assumir a cadeira de Estado mas sim para assumir a cadeira partidária.
Naqueles primeiros dias trágicos, o senhor era um homem que criou muitas expectativas, um homem que de certo modo tinha determinado apoio popular – mas graças à sua autoconfiança e inabalável determinação, em pouco tempo o senhor transformou a expectativa aos olhos do Povo em desilusão.
Caso único na história: um político “exilado internamente” na primeira Republica que conquistou à custa das fraquezas da liderança da segunda Republica, o seu próprio país – a Frelimo de Guebuza.
Em 2004, o senhor era talvez a figura mais credível para colocar Moçambique no rumo certo e moderno. Só que o senhor se deixou levar pela palavra “empresário de sucesso”. Agora, depois de tanto tempo, nós cremos, senhor Presidente, que a sua demissão pelo povo moçambicano significaria algo mais que a sua decisão de permanecer como Presidente da Frelimo.
Para muitos o senhor não deve continuar a alimentar ilusões quanto à sua permanência de governar Moçambique a partir da Frelimo. É altura de deixar o poder para ir tomar conta dos seus netos e negócios. O Povo sente que a sua saída voluntária é um sinal de que, na era da internet, os “grandes líderes” estão a ficar obsoletos.
É que a sua presença no leme de Moçambique já faz cada vez menos sentido, porque as suas prioridades já se confundem com negócios e política, e isso é incompatível com as inspirações do Povo e com um mundo em que a técnica das soluções económicas tende cada vez mais a assumir o poder, independente de toda a ideologia e toda a política. O Povo quer coisas práticas. Ter saúde, boa alimentação e educação, coisas possíveis que o seu país – Frelimo - pode conceder ao Povo, naturalmente.
Depois, é bem possível que a posteridade venha a considerar o senhor como o maior paradoxo do nosso tempo. Será que o capitalismo é a solução para o socialismo democrático? Nós, cidadãos atentos, já descobrimos atempadamente que a diferença entre o socialismo e o capitalismo está assente não só nos lucros excessivos do segundo mas esta na influência social que o acompanha e que tende a aumentar.
Senhor Presidente, o que o socialismo da Frelimo quer, entenda-se, é precisamente apanhar ambas as coisas. O lucro e a influência pois nesta fase, o seu país, a Frelimo como partido de índole socialista, acumulou e acumula todo o tipo de riqueza e influência mas descarrilou-se nos excessos. Perdeu-se entre os caminhos do capitalismo e socialismo.
Depois, como se dedica inteiramente ao seu país histórico, político e mitológico – essa “pérola do indico” (Frelimo), como o senhor o denomina – o senhor fez mais do que qualquer outra figura nacional para romper com o seu próprio passado histórico e cultural.
Temos consciência de que o senhor está a dar liberdade político-empresarial aos seus tentáculos para “capitalizar” Moçambique para resolver o problema do seu pais – Frelimo de Guebuza. Por exemplo, quando o senhor Presidente se encontrou com a “Movimento muçulmano” estava a pensar em “tentáculos”.
O encontro abriu um precedente grave e altamente perigoso. Porque é que nunca quis reunir-se com os Desmobilizados de Guerra, Madgermaene’s, trabalhadores dos Caminhos-de-Ferro e em menos de 48 horas depois de uma ameaça à “greve empresarial” fez o que todo o Povo pensava que não iria fazer, ou seja, reuniu-se com o “Movimento”?
Para nós, senhor Presidente, isso significou uma grande fraqueza, afinal de contas, o seu calcanhar de Aquiles deve ser um segredo muito importante que o “Movimento” possui e que pode ser divulgado a qualquer momento.
Ora, se com a sua atitude queria demonstrar que os muçulmanos lhe ficassem gratos e seguissem a sua orientação política, pode ter a certeza que poderá ficar frustrado pois eles já consultaram os seus livros sagrados e concluíram que o senhor não é nenhum “Maomé”, é simplesmente um Presidente do seu país – Frelimo de Guebuza.
O senhor esquece-se de que contribuiu no passado para que a Constituição da Republica do pais – Moçambique – fosse um instrumento que espelhasse as aspirações democráticas do Povo, como é que agora incompreensivelmente quer mudar primeiro a constituição do seu pais – Frelimo de Guebuza – para poder mudar também a nossa Constituição. Para que fins? Será que pretende pôr fim às “brincadeiras políticas” da sua oposição interna porque a externa já a colocou no “bolso democrático”?
O senhor Presidente sempre foi acusado desde o tempo do “24 horas-20 kilos” de ser anti-ocidental. No entanto, o maior serviço que hoje presta ao seu pais – Frelimo de Guebuza – recolhendo recursos de outro país – Moçambique – é enriquecer o Ocidente e empobrecer as futuras gerações.
E, agora, senhor Presidente, vamos de certeza absoluta, depois da realização do 10° Congresso do seu pais – Frelimo de Guebuza – dar uma boa risada lembrando que as suas “ambições ditatoriais” foram confirmadas.
O que vai restar amanhã, dessas “ambições”? Sabemos que o capitalismo durante a Luta Armada de Libertação Nacional sempre o repugnou. Como é que agora está aliado grosseiramente ao capital estrangeiro? Estará a pensar no desenvolvimento de Moçambique, no lucro ou na influência sócio política?
Sabemos que tem, senhor Presidente, todas as suas raízes profundamente cravadas no marxismo maioista ao estilo Deng Xiao Ping – uma Nação com dois sistemas (capitalismo e socialismo). Temos a plena consciência de que foi o senhor que cortou o esquema do paroquialismo marxista tradicional – quebrou o centralismo democrático – fila pelo poder, de facto não era a sua vez de liderar o seu pais – a Frelimo – era a vez do General Alberto Chipande.
Essa situação foi vista como uma “reforma” embora seja hoje acusado de concentrar demasiado o poder, e é exactamente o seu esforço para manter essa concentração que lhe causará brevemente a sua derrota. É que para os quadros e militantes do seu país – reforma é algo popular como reformar nipa.
Senhor Presidente, nós cidadãos atentos temos a certeza absoluta de que não dorme seguro porque se aproxima o ano de 2014. Um dia, vai ter que deixar a Ponta Vermelha, é uma certeza. Porque é que quer perpetuar-se no poder? Porque é que o seu secretário-geral diz as barbaridades políticas que diz?
Qual é a intenção? Porque é que quer cortar a tradição do seu país – Frelimo?! Porque é que agora quer sobrepor o valor individual ao colectivo? O senhor por acaso foi escolhido porque Chissano o escolheu como seu sucessor? Depois da morte de Mondlane como foi? Depois da morte de Samora como foi? Temos a certeza de que foi o colectivo que o escolheu com a anuência da “quadrilha política”, ou não foi? Porque é que agora tem que ser diferente? Reformas? Parece-nos que não é isso?
Senhor Presidente, diz um provérbio popular que os prudentes falam por que tem algo a dizer e os insensatos porque gostariam de dizerem qualquer coisa. Portanto, deixe que os seus camaradas escolham o seu sucessor agora no Congresso para desanuviar as vossas tensões internas. Não se intrometa pois se o vier a fazer, futuramente vai pagar muito caro.
Se no tempo de Chissano prendia-se somente directores, hoje no seu tempo prende-se ministros e no tempo do seu sucessor vai se prender quem? Presidentes da Republica, disso não tenha dúvidas e para o seu caso, esses seus camaradas que um dia traíram Chissano, caso não se comporte bem no Congresso, a partir de 2015 vai iniciar o seu “julgamento político atacando a sua filha, perceba isso.
Para tirar Chissano do poder atacaram politicamente o seu filho, quem não se lembra disso? O modus operandi é o mesmo. Fala-se agora de Nympine? Bastou o pai sair do poder para não mais se falar dele!
Nós, cidadãos atentos, sabemos porque é que afirmamos isso. Fomos nós que publicámos a programação da sua Presidência Aberta em Inhambane que por prudência o senhor alterou. Assim como está a reagir, o senhor corre sérios riscos de levar um golpe de Estado, disso não tenha dúvidas e porquê?....porque se esqueceu de que os conflitos internos são de base dupla.
Primeiro, porque as pessoas designadas para novos cargos precisam de reconhecer que os conflitos são internos e, segundo, precisam de certificar-se de que as suas acções baseiam-se na realidade. As acções do seu país – Frelimo de Guebuza - não são reais.
Depois as ordens que dá não são cumpridas! Porquê? Porque não tem na sua posse todos os factos pertinentes, daí que não tenha controlo sob as decisões de comando porque não tem acesso à execução e à sua respectiva operacionalidade. Por isso mesmo notamos, senhor Presidente, este anarquismo pessoal, partidário e executivo.
Há que revolucionar o seu país – Frelimo de Guebuza - em todos os sentidos, senhor Presidente, para revolucionar o outro pais – Moçambique, pois a única coisa que os seus mais próximos colaboradores fazem é “identificar o inimigo”.
Procuram coisas que um canalizador procura numa pia entupida. Uma revolução consciente, senhor Presidente, talvez seja uma coisa saudável no seio do Comité Central já que o processo sóciopolítico com a permanente globalização está a levar a “individualização” do seu próprio país – a Frelimo.
O Comité Central não está a produzir ideias, logo também não está a antever as crises (5 de Fevereiro de 2008 e 1 e 2 de Setembro de 2010). O facto de algumas figuras históricas criticarem publicamente os seus próprios camaradas é sinal de que as políticas traçadas nos intervalos dos congressos não estão a alterar a natureza dos seus membros, isto é, se os membros continuam lambebotistas, corruptos, se são camaleões vão continuar camaleões, se são do tipo deixa-andar, vão continuar do tipo deixa-andar.
E, agora, senhor Presidente, nós cidadãos vamos escrever aquilo que provavelmente lhe desagradará muito: suspeitamos que o senhor alterou a agenda do Congresso no que toca às discussão da sucessão para depois do Congresso com a intenção de perder.
Pois, contra as provas estatísticas, previsões e relatórios que indicavam derrota da sua facção, o seu secretário-geral e porta-voz anunciam conscientemente a sua intenção de não renunciar se os eleitores do Comité Central rejeitarem suas medidas “legislativas” Porquê? Porque o senhor de facto não quer sair.
Porque não está cansado de continuar a facturar! Porque o seu próprio insolúvel dilema é modificar o seu país – Frelimo - à custa de Moçambique. Porque todas as suas prioridades são materiais e a dos moçambicanos são morais e espirituais. Porque o senhor sabe que o Povo já não pode suportar mais a sua riqueza e da sua família (filhos e netos).
Suspeitamos muito que o senhor vai ter que sair a força porque esse é o único meio de evitar o fracasso político da Frelimo nos próximos tempos. A quadrilha política vai obrigá-lo a fazer isso. O senhor Presidente prometeu combater o deixa-andar, a corrupção, burocratismo e o crime organizado. Não conseguiu. Conseguiu sim colocar o capital estrangeiro em massa a explorar as riquezas naturais sem autorização do Povo.
O senhor pensou que enfrentava um país que fosse a Frelimo mas não é. Moçambique não é Frelimo e Frelimo não é Moçambique. Hoje os moçambicanos pensam em termos de melhores salários, empregos, habitação e tudo isso agora está numa caixa fechada lá na Pereira de Lago.
Resta-lhe ainda, senhor Presidente, 2 anos e tal de poder estatal porque o que conta em África é o poder estatal e não partidário. Resta-lhe tempo para que reflicta o bastante sobre tudo isso e mais alguma coisa. Não continue querendo o poder porque vai sair muito magoado deixando uma aura de rejeição e ingratidão.
Nós sabemos que quem controla o Estado e a maioria dos partidos políticos da oposição é a Frelimo mas também sabemos que não consegue controlar toda a Sociedade Civil, sobretudo a não seguidista. Esses sim um dia vão lhe criar uma grande surpresa. Os dias 1 e 2 de Setembro já foram um serio aviso.
Senhor Presidente não transforme dinheiro em votos porque o Povo moçambicano não tem dinheiro pois existem varias maneiras de se iluminar o Povo e a Frelimo. A Liberdade e a democracia que a própria Frelimo ajudou a conquistar não podem ser uma espécie de um pedaço de carvão ou uma garrafa de gás a ser mostrado como um osso para uns cães obedientes.
Lembrar senhor Presidente de que se alguns dos seus camaradas (Paundes, Edson e camaradas) têm o pretenso amor pela sua pessoa, camarada Presidente, engana-se pois tem que saber que para além do amor ser a melhor causa para galvanizar a vida social também leva à ruína social e política. Sabemos que precisa de manter-se no poder ou perto dele porque é uma estratégia de sobrevivência para consolidar o seu império empresarial.
Sabemos que controla o Corredor da Beira depois de ter sacrificado o General Alberto Chipande. Os interesses estratégicos do país estão a ser preteridos a favor dos interesses empresariais de Guebuza.
Sabemos que está a governar o país pensando na sucessão. Hoje, cada passo que dá leva em conta a questão da sucessão. As nomeações de ministros, governadores, pca’s estão dentro dessa lógica. O que quer é manter-se no poder a todo o custo e nem que seja por via partidária ou de um delfim. Os seus sinais de vitalidade demonstram isso mesmo, de que não se vai retirar. Uma pergunta, senhor Presidente: o seu projecto vai para além de 2030?.
Mas por outro lado, também sabemos que a única instituição que pode evitar isso é próprio seu país – a Frelimo de Guebuza. Só forças internas das Frelimo podem evitar isso. Não existem outras forças que possam travar esse ímpeto. A Frelimo é que tem legitimidade constitucional para viabilizar ou não um poder seu e dos seus mais próximos camaradas. Sabemos que o seu país - Frelimo - é um factor estratégico de sobrevivência porque não tem ideologia nem princípios.
Sabemos senhor Presidente que neste preciso momento sóciopolítico está a distribuir mais pobreza do que riqueza, está a distribuir menos justiça eleitoral, está a administrar mais corrupção do que combatê-la; está a apoiar-se mais no espírito do deixa-andar do que combatê-lo e de facto para melhor entendermos a sua figura socorremo-nos das palavras escritas do livro por acaso ainda não publicado ao qual nós cidadãos atentos tivemos acesso, Força e Fraqueza do Socialismo da Frelimo, do General K que diz o seguinte: (…) “ninguém ainda soube, como ele, evoluir através das malhas da lei sem deixar nunca de se conformar, a letra. Guebuza soube e sabe lutar contra o Estado.
E se o “Estado é o povo organizado” ; Guebuza passou e passa a vida em guerra constante com o povo e com a sociedade. Guebuza e seus aliados forçaram o Estado a deixar ao capital vida bastante para desenvolver todo o seu poder. E tão alto levam o seu poder, que chegam a submeter o Estado e a fazer dele o protector incondicional dos seus interesses particulares (…).
Como vê senhor Presidente, nós cidadãos atentos temos coragem para lhe dizer o que os outros não dizem porque queremos o seu bem. Discutimos, fazemos análises porque queremos que este pais cresça, queremos que as nossas crianças vão a escola todos os dias, mas também queremos justiça, uma normal distribuição da riqueza para todos.
Fizemos esta carta porque encontrámos argumento válidos para tal: se figuras proeminentes da nossa Sociedade fizeram cartas abertas ao líder da oposição, o General Afonso Dlhakama, funcionários anónimos das instituições ligadas às Forças de Defesa e Segurança e diversas organizações da Sociedade Civil elaboraram cartas abertas para si, porque não o Cidadão Atento escrever uma carta?!
Sim, temos duvidas e queremos ter “vontade de acreditar” mas também “desejo de duvidar” e ter duvidas não é ficar perdido, nem ser incapaz de decisão. Pode dar um pouco mais de trabalho do que ter certezas mas isso , senhor Presidente implica reflectir sobre diferentes cenários, superar alternativas, ouvir pontos de vista de terceiros e considera-los e mesmo arriscar opções, mas ao mesmo tempo , enriquecer dar-nos maior consciência dos pontos fortes e nossas fraquezas.
Discuta neste Congresso a sucessão para poder colocar o pais no rumo certo, tudo esta muito tenso, estamos todos sentados num barril de pólvora e sobretudo deixe que os delegados escolhem conscientemente o seu sucessor evidentemente com a anuência da quadrilha política.
Dizemos isso exactamente porque causa das palavras de Alberto Montaner - «Os nossos medíocres revolucionários nunca foram além de uma análise epidérmica dos males sociais. Eles excitam revoluções sangrentas como o fito de sanar as situações injustas. Não compreendem que, nestes tempos modernos, as revoluções mais profundas não são as que se desenvolvem em casernas ou nas montanhas mas em laboratórios e nos gabinetes da mais temível inteligência». Faça ai no Congresso pois lá fora a revolução esta prestes a explodir.
De modo que, senhor Presidente, o seu país – Frelimo de Guebuza nunca vai triunfar sobre Moçambique se não fizer uma revolução por dentro do seu país – Frelimo de Guebuza. Como dizia Albert Einstein: «Nos momentos de crise, só a imaginação é mais importante que o conhecimento», senhor Presidente, use a imaginação!
Senhor Presidente aconselhamos-lhe o seguinte: Não corte nada, não corte a sua amizade longa com os elementos da quadrilha politica, desate o que esta difícil e o que é que esta difícil? Debater a sucessão! Debata e de a sua opinião a bem da Frelimo e do Povo.
Senhor Presidente, pode ser que estejamos do mesmo lado mas que queiramos coisas diferentes. Percebemos que ser hoje da Frelimo é um acto de fé porque nos facilita muita coisa, mas o que nos queremos é a criação de uma verdadeira Frelimo, uma NOVA FRELIMO.
Para terminar, como sempre um pouco a reboque de Jesus Cristo, diremos: “perdoa-lhe Pai porque eles não sabem o que fazem”, mas nesta situação peculiar impunha-se uma emenda: “perdoa Guebuza, não pelo que ele vai fazer no Congresso mas pelo que não vai fazer”.


A VERDADE