“Se conhecemos o inimigo e a nós mesmos, não precisamos temer o resultado de uma centena de combates. Se nos conhecemos, mas não os inimigos, para cada vitória sofreremos uma derrota. Se não nos conhecemos nem ao inimigo, sucumbiremos em todas as batalhas” - Sun Tzu, filósofo chinês.
Há três semanas a esta parte tenho recebido inúmeros pedidos por parte dos meus sobrinhos e de alguns amigos espalhados por este “Vale de Lágrimas”, para me pronunciar muito especificamente sobre as eleições intercalares em Quelimane, após a renúncia de Pio Augusto Matos ao cargo de presidente do Concelho Municipal da urbe.
É sempre muito difícil, para alguém que se encontre numa posição exterior aos factos, estar a pronunciar-se sobre eles. Além do mais, a tarefa de escrever para jornais não escapa à supervisão de olhos clínicos (fiscais da gramática) da “Língua de Camões”; e por isso mesmo, requer, para além de concentração e recolha de dados, um trabalho aturadíssimo de “parto literário”, evitando trazer à superfície uma obra não fermentada devidamente. Acontece!
Conheço a cidade de Quelimane há quatro anos.
Quando a conheci levava comigo, em meu regaço, uma gordurosa e cobiçada ementa de desejos, muita esperança e curiosidades, queria realmente conhecer a chamada “capital do coco, o pequeno Brasil” e sua gente, cujas obras na gesta histórica Nacional não há que pôr em dúvida, constituem a plêiade magnífica de um povo lutador e de virtudes.
De facto, encontrei uma cidade histórica que soube manter os seus pergaminhos antigos, os seus bairros de outrora mas, esburacada, e até certo ponto à deriva dos cuidados da edilidade de então. Encontrei uma cidade desdentada, suja e marginalizada, apesar de alguns rasgos de modernidade.
Fiquei indignado, revoltado e confuso. Não quis acreditar na realidade crua e fria que se apresentava gratuitamente diante dos meus olhos, que na altura fora embalsamado por alguns instantes pelo gosto da cultura Zambeziana, mas, mesmo assim, desabafei: “afinal que Pio é este que não pia em seu próprio consulado”? Perguntei a um ex-colega de trabalho a laborar em Quelimane. Como foi possível deixarem alguém que é por sinal filho da terra (ainda que não fosse) levar esta bendita cidade de Quelimane, terra que guarda, orgulhosamente, o ADN dos seus/nossos antepassados, à condição de “miss feia”?
Nenhuma resposta dada na altura amainou a minha indignação, revolta e confusão. Este Pio só pode piar em outro reduto porque cá, no Quelimane que conheci, Matos não duraria por muito mais tempo no pelouro enquanto continuasse a colocar a urbe no pódio das “cidades mais desbainhadas” do país. O futuro do edil estava escrito: Matos iria piar no “mato”, desabafei novamente!
Nessa altura (caso o golpe da sorte o permitisse), juro que teria dito ao então edil de Quelimane, Pio Matos, para “arrumar as botas”, porquanto A validade dum político, o rótulo das promessas que fizer, enquanto dirigente político, acaba quando começam as justificações infundadas e o paleio verbal desnecessário em defesa do cargo que ocupar. Assim se viu, ironicamente, com Pio Matos.
Porque realmente estava escrito nas páginas da gesta histórica de Quelimane: A 22 de Agosto do ano em curso, Pio Matos punha fim o longo reinado de quase uma década e meia à frente da autarquia.
Portanto, apesar de não ser nem membro nem simpatizante do partido de Pio Matos, e por uma questão de convencimento pessoal, achei a decisão do edil cessante sisuda.
Tem por isso, Pio Matos, o meu profundo reconhecimento.
Quem sabe, um dia a roleta da vida lhe dê uma outra oportunidade, desta vez para bem servir os munícipes de Quelimane.
A legislação eleitoral moçambicana prevê eleições intercalares sempre que ocorrer, até doze meses antes do fim de um mandato, a morte ou resignação do presidente de um município. Com a renúncia, forçada ou não, do edil de Quelimane cujo mandato expirava em Fevereiro de 2014, o "ringue político" na 'capital do coco' entrou em cena.
Da parte da Renamo já se conhece a sentença, pelo menos é o que se diz por aí, que em nome dos superiores interesses de seu líder, Afonso Dhlakama, acantonado na rua das Flores em Nampula, a Perdiz não vai à luta democrática.
Mais um degrau se cava na sepultura da Renamo. Já a Frelimo, até à data de despacho do texto, não indicou um nome oficial do candidato ao escrutínio de 7 de Dezembro próximo, limitando-se, pela primeira vez na história deste partido, a sondar a atmosfera política em Quelimane, para enfrentar o já conhecido candidato pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM) o ‘machuabo’ Professor Doutor Manuel de Araújo.
Como não se conhece, ainda, os restantes candidatos ao "ringue democrático" em Quelimane, vou encerrar o texto dedicando algumas linhas ao concorrente Manuel de Araújo, indivíduo que conheço apenas de obras feitas e do retrato da comunicação, nada mais do que estas duas balizas orientadoras. Sei que foi militante da Renamo, onde chegou a deputado da Assembleia da República pelo círculo eleitoral da província da Zambézia, além de possuir um currículo preenche de actividades sociais e políticas em prol do desenvolvimento do país.
Além de jovem candidato, o Professor Doutor Manuel de Araújo é académico de créditos firmados. Ao aceitar regressar à política activa, a quem diga que ele atropela o convencimento pessoal e a vida empresarial, para resgatar Quelimane do pódio das “cidades mais desabainhada ” do país.
Já dizia o escritor zambeziano Arrone Cafar Fijamo que “a grandeza do verdadeiro amor sentimental duma alma bem formada, revela-se nos momentos em que é preciso pôr-se de parte a totalidade dos interesses pessoais, por vezes até a própria vida, para a salvação de quem se estima e se ama, que esteja desesperado no limiar dum perigo eminente”. Posso estar enganado, podemos sempre estar enganados, é preciso não ter a certeza de coisa nenhuma, mas todos os elementos de um estudo minucioso levam à esta conclusão: o Professor Doutor Manuel de Araújo é o Messias que trará de volta à Fénix cidade de Quelimane a categoria das “cidades mais abainhadas” e lindas do Mundo.
Julgo ser pelo restauro de valores materiais, imateriais e integrado do incomensurável mosaico cultural de Quelimane em particular e da Zambézia em geral, que a oportunidade, desta vez para bem servir os munícipes de Quelimane.
Como não se conhece, ainda, os restantes candidatos ao "ringue democrático" em Quelimane, vou encerrar o texto dedicando algumas linhas ao concorrente Manuel de Araújo, indivíduo que conheço apenas de obras feitas e do retrato da comunicação, nada mais do que estas duas balizas orientadoras. Sei que foi militante da Renamo, onde Professor Doutor Manuel de Araújo aceitou o desafio de candidatar-se à presidência do CMCQ. Diga-se a bom da verdade, é uma tarefa hercúlea que exige milagre! Não é tarefa fácil ressuscitar um doente que uma comissão inteira de trabalho levou décadas a destruir e que hoje, valha-me o exagero, encontra-se em estado de SOS, se não mesmo em situação de coma inusitado.
Foi também por isso que ele, Manuel de Araújo, perante câmaras de televisão, derramou idilicamente lágrimas por sua terra e seus paladinos. É pecado um homem chorar? Mas essas lágrimas valeram-lhe muitos elogios, afectividade e como não podia deixar de ser críticas de amigos, mormente de seus detractores que o acusam de impostor.
Como obrigar um filho da terra a colocar barragens em seus olhos, perante uma situação que cria asco a todos. Uma cidade órfã dos seus dirigentes, de capital de “coco buracos”, passou a ser a ‘capital dos buracos’! Pourquoi Quelimane?
Temos gente em Moçambique, vestindo-se de capas de analistas políticos, que acha que o Professor Doutor Manuel de Araújo não deveria candidatar-se a estas eleições, deixando a edilidade (famosa por conservar o ambiente usando uma vasta frota de táxi de bicicletas) e também famosa pela gastronomia (o frango à zambeziana) refém de políticas pervertidas. Os zambezianos têm tudo isto, mas não é bruto como alguns”capivaras” agouraram e agouram!
E eu pergunto: porquê fazer prognósticos antes do “jogo” se um futebolista português já ensinou que na vida também é possível fazer-se “prognósticos no fim do jogo”?
Parasitas do trabalho alheio, é o que eles são. Se não fosse pelo MDM (partido à qual o Professor Doutor Manuel de Araújo não pertence) as críticas viriam à mesma. Como independente não sabemos o que esses analistas diriam, mas diriam à mesma qualquer coisa desabonatória, já que para eles “dizer só por dizer” é uma atitude.
Enquanto esses analistas cantam a plenos pulmões, com imenso entusiasmo e com os olhos cheios de ódio o vaticínio da derrota do candidato Manuel de Araújo, eu diria citando uma das tochas guerreiras do povo Maubere, Xanana Gusmão, “(…) as causas justas nunca se firmaram com facilidade. As justas têm-se imposto pela força de vontade dos seus combatentes, pela heroicidade dos que se batem pelo ideal que proclamam”. Alguma dúvida?
Como não tenho permissão nem arcabouço espiritual para dar ou mandar recados a quem quer que fosse, ainda mais em quem não conheço pessoalmente, espero que a candidatura do Professor Doutor Manuel de Araújo seja uma candidatura de mudança de ciclo, de rotura com o passado recente, seja enfim uma candidatura de esperança. Que seja, acima de tudo, o ‘Messias’ de Quelimane. "Dhinoutamalelani" (obrigado).
Gento Roque Chaleca Jr., em Bruxelas, O AUTARCA – 28.09.2011, citado no Moçambique para todos