Saturday, 24 December 2016

Renamo rejeita ex-Presidente Chissano na mediação das negociações de paz

A Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) rejeitou hoje o ex-Presidente Joaquim Chissano como mediador das negociações de paz com o Governo por considerar que ele é parte do conflito.
"Com todo o respeito que temos para com o Presidente Chissano, em nome da abertura e da verdade, e como porta-voz do partido Renamo, tenho a dizer que muitos moçambicanos de bem acham que não é elegível para mediador deste conflito porque ele próprio é parte dele", afirmou António Muchanga, em conferência de imprensa em Maputo.
Segundo o porta-voz da Renamo, Joaquim Chissano "sabotou o cumprimento integral do Acordo Geral de Paz na letra e espírito" ao não integrar homens do maior partido de oposição na Polícia da República de Moçambique (PRM) e no Serviço de Informações e Segurança do Estado (SISE).
Foi no período em que Chissano era Presidente, prosseguiu, "que começou a marginalização dos comandantes da Renamo nas FADM [Forças Armadas de Defesa de Moçambique] e sobretudo em 2004", um ano antes de Armando Guebuza se ter tornado chefe de Estado.
"O Presidente Guebuza veio apenas continuar uma acção planificada e executada pelo Presidente Chissano na sua qualidade de comandante em chefe", observou.
Chissano, disse António Muchanga, "beneficiou das polémicas eleições de 1999, onde mais de 750 mil votos não foram requalificados", quando existia uma diferença de cerca de 200 mil votos entre ele e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama.
"Se tivessem requalificado todos os votos, o presidente Dhlakama era declarado vencedor daquelas eleições", declarou o porta-voz do partido de oposição, acusando ainda Chissano de ter criado "à revelia da Renamo em violação do Acordo Geral de Paz", a unidade especial da polícia Força de Intervenção Rápida (FIR).
"Esperamos que ele peça desculpas à Renamo e ao povo moçambicano", afirmou.
A emissora pública Rádio Moçambique noticiou que o antigo Presidente da República, Joaquim Chissano, manifestou na Quarta-feira disponibilidade para ajudar no processo de diálogo entre Governo e Renamo, caso fosse solicitado.
As negociações de paz pararam na semana passada sem acordo sobre o pacote de descentralização exigido pela Renamo para cessar a crise política e militar e os mediadores internacionais abandonaram Maputo, referindo que só regressarão se forem convocados pelas partes.
No seu discurso do Estado da Nação, o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, disse que propôs à Renamo a criação de um grupo de trabalho especializado para debater a descentralização, "sem distinção política" nem a presença do actual grupo de mediadores para um acordo de paz com o maior partido de oposição.
O centro e norte de Moçambique estão a ser assolados pela violência militar, na sequência da recusa da Renamo em aceitar os resultados das eleições gerais de 2014, exigindo governar em seis províncias onde reivindica vitória no escrutínio.
Além do pacote de descentralização e da cessação dos confrontos, a agenda do processo negocial integra a despartidarização das Forças de Defesa e Segurança, incluindo na polícia e nos serviços de informação do Estado, e o desarmamento do braço armado da oposição e sua reintegração na vida civil.

Os mediadores internacionais apontados pela Renamo são representantes indicados pela União Europeia, Igreja Católica e África do Sul, enquanto o Governo nomeou o ex-Presidente do Botsuana Quett Masire, pela Fundação Global Leadership (do ex-secretário de Estado norte-americano para os Assuntos Africanos Chester Crocker), a Fundação Faith, liderada pelo ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, e o antigo Presidente da Tanzânia Jakaya Kikwete.





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