A marcha de protesto contra o assassínio do constitucionalista Gilles Cistac foi hoje interrompida em Maputo pela Força de Intervenção Rápida (FIR), alegando falta de autorização para o percurso final da manifestação.
A marcha foi travada a meio da manhã por cerca de 30 homens da FIR, altamente armados e munidos de equipamento anti-motim, que bloquearam a avenida Kenneth Kaunda, no centro da capital, quando centenas de pessoas se dirigiam para a praça da Paz, a poucos quilómetros do local.
Cerca das 10:30, os manifestantes começaram a dispersar e, apesar de palavras de revolta contra a presença de "um exército", não se registou nenhum episódio de violência.
"Não se aborreçam pela atitude arrogante do presidente do município, ele segue aquilo que o mandam fazer", declarou aos manifestantes, a curta distância do cordão policial, Alice Mabota, presidente da Liga dos Direitos Humanos, uma das organizações promotoras da marcha, acrescentando que "a liberdade vai triunfar, tal como o colonialismo foi derrotado".
Alegadamente, o Conselho Municipal de Maputo apenas autorizara o pedido da marcha apresentado pelo núcleo de estudantes da Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane, cujo percurso terminava nas instalações do estabelecimento de ensino, e negou a solicitação das organizações da sociedade civil e que terminava o evento na praça da Paz.
"É de lamentar que a polícia tenha sido mobilizada, fortemente armada, para atacar os manifestantes", disse à Lusa Ivone Soares, líder parlamentar da Renamo, uma das figuras políticas de oposição que respondeu à convocação da manifestação em memória do jurista.
"Sendo uma marcha pacífica e em nome das liberdades fundamentais, as autoridades deviam até juntar-se, mostrando sua indignação pelo recrudescimento da criminalidade em Moçambique", afirmou a dirigente política, concluindo que "a barreira da força especial acaba mostrando que não estão preocupadas com a liberdade de expressão".
Centenas de pessoas iniciaram às 7:45 uma marcha no centro de Maputo, em memória constitucionalista de origem francesa, no local onde o académico foi abatido na terça-feira a tiro por desconhecidos, num crime que assumiu dimensões políticas devido às suas posições jurídicas desfavoráveis ao partido no poder.
A marcha, promovida por organizações da sociedade civil e pelo núcleo de alunos da Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane, da qual Cistac era docente, foi encabeçada pela filha do constitucionalista e seguida por académicos, estudantes, membros do corpo diplomático e dirigentes da oposição, sob forte vigilância policial.
Os manifestantes traziam 't-shirts' pretas com as palavras "je suis Cistac" e gritavam "eu também tenho opinião", "quem será o próximo?" e "não tenho medo", dirigindo-se para a Faculdade de Direito, cujo muro exterior está coberto desde terça-feira com flores e cartazes em memória de Gilles Cistac.
"Podem matar quantas pessoas quiserem, Moçambique tem 25 milhões de habitantes e os intelectuais vão-se produzindo. Nunca vão calar a liberdade", declarou à Lusa a presidente da Liga dos Direitos Humanos, acreditando que "um dia vai haver justiça"
A Renamo implicou directamente "radicais da Frelimo" no homicídio de Cistac, mas o partido no poder já negou o envolvimento num crime que continua por esclarecer.
Na semana anterior ao assassínio, o académico anunciara que ia apresentar uma queixa contra um homem que se identificava no Facebook pelo pseudónimo de Calado Kalashnikov e que acusou Cistac de ser um espião francês e de ter obtido a nacionalidade moçambicana de forma fraudulenta.
So a palavra "FRELIMO", é um crime, ninguem desconhece.
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