Saturday, 7 March 2015

Ex-diretor da polícia criminal moçambicana duvida que assassinos de Cistac sejam capturados



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Maputo, 07 mar (Lusa) - O ex-diretor da Polícia de Investigação Criminal (PIC) moçambicana António Frangoulis disse hoje à Lusa duvidar que os autores do assassínio do constitucionalista Gilles Cistac sejam capturados, embora haja todas as condições para esclarecer o caso.
"Penso que há todas as condições para se chegar aos autores, se imperar a boa vontade. Mas, tal como estamos habituados - e a sensação não é só minha, é de milhões de moçambicanos -, nada vai acontecer. Se acontecer, melhor ainda, vai ser a primeira vez", declarou António Frangoulis, à margem de uma marcha realizada hoje em Maputo em memória do académico, assassinado na terça-feira por desconhecidos no centro da capital moçambicana.
O criminalista recebeu a notícia do homicídio do antigo colega na Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane com "dor e consternação", considerando que se tratou de "um golpe duro para democracia e para a civilização" e até uma "regressão" nos progressos alcançados nos direitos humanos e cívicos.
"Nem parecemos um povo que já deu passos gigantescos desde a Constituição de 1990 para cá", comentou António Frangoulis, ex-deputado da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique, partido no poder) e candidato não eleito pelo MDM (Movimento Democrático de Moçambique, segunda maior força de oposição) nas últimas legislativas.
O constitucionalista moçambicano de origem francesa Gilles Cistac foi assassinado a tiro por desconhecidos na terça-feira no centro de Maputo.
O académico era um dos principais especialistas em assuntos constitucionais de Moçambique e, em várias ocasiões, manifestou opiniões jurídicas contrárias aos interesses do Governo e da Frelimo.
Em entrevistas recentes, Cistac considerou que não há impedimentos jurídicos à pretensão da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) de criar regiões autónomas no país, contrariando declarações opostas de quadros da Frelimo.
Na semana anterior ao assassínio, o académico anunciara que ia apresentar uma queixa contra um homem que se identificava no Facebook pelo pseudónimo de Calado Kalashnikov e que acusou Cistac de ser um espião francês e de ter obtido a nacionalidade moçambicana de forma fraudulenta.
"Lamentavelmente o senhor Calado e a sua turma decidiram que tinham de calar", comentou hoje António Muchanga, porta-voz da Renamo, no início da marcha em memória de Cistac, acrescentando que esta "é uma manifestação necessária e que dignifica o povo moçambicano".
"Ninguém se deve calar", disse por sua vez, no mesmo local, Lutero Simango, líder parlamentar do MDM, que espera ver "toda esta dor e tristeza transformada numa fonte de energia" e que "todos continuem a sua luta".
Não era visível hoje nenhum dirigente da Frelimo na marcha convocada pelo Núcleo de Estudantes da Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane e por organizações da sociedade civil, embora o partido no poder tenha condenado publicamente o crime e negado qualquer envolvimento, como fora sugerido pelo líder da Renamo, Afonso Dhlakama, e por um semanário local.
Ao fim de mais de duas horas, a marcha de centenas de pessoas foi interrompida por uma força policial de elite, altamente armada e munida de equipamento antimotim, alegando falta de autorização para o percurso final da manifestação.

Lusa

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