Wednesday, 3 December 2014

Por uma democracia sem burlas!


 Está claro que, agora, a paz só pode ser-nos assegurada pelo Conselho Constitucional e só este órgão poderá salvar-nos de uma nova tormenta. Este órgão, que “não é carne nem é peixe”, porque os seus poderes são muito relativos, dado que não chega a ser tribunal, é, apesar de tudo, a réstia de esperança para não virmos a tornarmo-nos um país definitivamente inviável. Dhlalkama deixa isso claro na entrevista. Mas ele próprio também tem de entender que a Frelimo o quer levar na conversa, ao ponto de o levar a calar-se perante a indubitável fraude, que ninguém pode ter agora dúvidas que existiu.
Dhlakama, nesta entrevista concedida ao “Canal de Moçambique”, deixa claro que tem consciência de que a paz é essencial, mas claro que não pode ser só ele a ter consciência disso.
A democracia não pode continuar a ser um permanente exercício de burlas.
É totalmente irresponsável quem continuar a pensar que a democracia é um dado adquirido, quando, a olhos vistos, a consciência cívica dos moçambicanos cresce e, com o andar do tempo, os cidadãos se tornam cientes de que os “marqueses de Nanchingweia” são cada vez mais inaptos para continuarem a dirigir o país ou para escolher os seus herdeiros.
Para que Moçambique continue o seu curso normal e de progresso e a ser diferente de outros países africanos onde se viveram processos semelhantes ao que trouxe Moçambique da colonização à Independência e da Independência à democracia e terminaram mal, é preciso continuar-se a respeitar os cidadãos e a evitar que se digam disparates absurdos como o que se ouviu, há pouco, do dito “homem do primeiro tiro”.
Não podemos eleger a hereditariedade dos violentos que passam a vida a chamar violentos aos outros. Por isso não nos podemos calar perante fraudes monstruosas. Se nos calarmos, nunca mais haverá democracia.
Indo-se à história universal, vemos que, por exemplo, Portugal chegou à democracia com um golpe de Estado, a França chegou à Liberdade, Igualdade e Fraternidade com uma Revolução e mesmo Moçambique chegou à Independência com violência, porque a outra parte recusou o diálogo e fingiu que o queria. Quando, de facto, a exclusiva ideia de quem está no poder é perpetuar o direito de oprimir os outros, negando critérios civilizados de escolha, como é o caso das eleições, pode restar apenas a violência como alternativa. Por isso é preciso que a verdade nas urnas não seja para ser resolvida com Dhlakama, mas sim com os eleitores.
Os eleitores querem saber quem ganhou e querem saber os resultados direitinhos.
Dhlakama alerta que só depois do Conselho Constitucional se pronunciar se saberá o que se seguirá a mais esta “fraude” eleitoral, em que aos próprios cidadãos, aos próprios eleitores, continuam a ser escondidos os editais e actas a pretexto de a lei estar elaborada desta ou daquela forma, que seguramente nunca poderá ser, no espírito do legislador, com o sentido de esconder toda a verdade a quem usou o dia 15 de Outubro de 2014 para dar o seu voto a quem lhe pareça melhor para nele delegar o exercício da soberania que pertence ao povo como constitucionalmente está previsto no Artigo 2 da “Lei Mãe”.
O país não pode ficar refém nem de proporcionalidades nos órgãos eleitorais nem de proporcionalidades num Conselho Constitucional. Não pode continuar esta farsa. Não compete a estes dois órgãos eleger. Compete ao povo. Não compete à Polícia! Compete ao povo. Não compete senhor Naife ou ao senhor do cofió, escolhido, como se sabe, por uma burla, que quem a construiu até já a confessou.
O país, de facto, não quer guerra, nas também não quer continuar a ter eleições em que a vontade dos eleitores é falseada por uma clique amedrontada, e que até duvida dos méritos do pluralismo democrático.
Ficou já por demais demonstrado que o povo moçambicano quer a democracia, mas não quer que a construção da democracia permaneça uma falsidade que está instalada para impedir os cidadãos do país de serem efectivamente soberanos.
Os portugueses sabem que Salazar e Marcello Caetano também faziam eleições fraudulentas e tentavam a todo o custo chamar àquilo democracia. Não passava afinal de um simulacro. Não passava de uma burla, até que um dia as Forças Armadas puseram fim a toda aquela trafulhice. As Forças Armadas colocaram-se ao serviço do povo e nunca mais houve guerra em Portugal. Passou a haver uma democracia em que até já os ex-primeiros-ministros vão para a cadeia.
O partido de Salazar era a União Nacional. Na “Mudança na Continuidade” passaram a chamar-lhe Acção Nacional Popular (ANP). Em suma, foi uma tentativa de continuarem a enganar os portugueses, para poderem continuar a explorá-los e a impedir a Independência das colónias, para que uma elite depravada continuasse a chupar o suor dos cidadãos, quer da metrópole das ditas “províncias ultramarinas”, quer de quem aspirava a ser definitivamente soberano.
As Forças Armadas portuguesas acabaram por compreender que era urgente pôr termo às pretensões dessa elite depravada que se habituou a explorar os cidadãos de um país e de territórios estrangeiros ocupados, fingindo seguir princípios democráticos depois de se aperceberem que estavam no fim das suas capacidades de continuarem a enganar o povo.
Os militares portugueses jogaram uma cartada fundamental contra um regime que se instalou por António de Oliveira Salazar o ter salvo de uma enorme catástrofe financeira, mas que depois acabou oprimindo.
As Forças Armadas salvaram Portugal e abriram caminho para que a paz deixasse de ser uma aspiração enganosa.
A Frelimo e Samora Machel foram essenciais para que a Independência de Moçambique fosse conquistada. Como os militares portugueses foram imprescindíveis para libertar Portugal.
Hoje a “democracia” que temos não é democracia nenhuma.
Como também não era democracia nenhuma a democracia que Salazar e Marcello Caetano quiseram fazer crer que existia em Portugal nos tempos em que as eleições eram fraudulentas como são hoje em Moçambique.
A democracia deve ser um sistema para regular os poderes, de modo a impedir que se instalem no poder confrarias mafiosas.
Em Moçambique, não queremos guerra, mas também não queremos que nos enganem com eleições fraudulentas. Como não queremos que venham de fora procurar legitimar eleições fraudulentas.
Dhlakama foi sempre um homem que aparentemente contribuiu para que a democracia se instalasse em Moçambique. Mas também não nos podemos esquecer que Dhlakama, apesar de ser um militar de grandes méritos, tem-se revelado ingénuo politicamente em momentos decisivos. Vai numa de grande político, e depois espalha-se. Desta vez, corre o risco de os seus generais o deixarem a falar sozinho, se “vender a democracia ao Diabo”.
Terá um destino diferente de Savimbi, porque ele acabará como o par dos que enveredaram pela Unita Renovada.
Estrategicamente, em termos militares, Dhlakama tem sido um mestre, mas, não querendo Moçambique mais guerra, ele tem de saber evitá-la sem vender a democracia e os seus homens.
Não basta que um homem que já demonstrou imensas qualidades se perca a dar mais prioridade ao seu ego do que a uma democracia consistente, em que toda a oposição caiba, e não seja só ele e a Frelimo a estarem no centro das atenções.




Editorial do Canalmoz

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