Thursday, 13 November 2014

Cutucar a onça

Ao ouvir a decisão da Comissão Nacional de Eleições de não dar provimento à reclamação da Renamo por razões processuais veio-me, imediatamente, à ideia uma frase dos nossos amigos brasileiros: “estão a cutucar a onça com vara curta”.
Esta frase é usada quando alguém, normalmente  por irresponsabilidade, provoca uma situação de grande perigo. À letra, significa  que alguém está a irritar uma onça (espécie de leopardo) espetando-a com uma vara curta.
Ora todo este processo eleitoral, que se aproxima do fim, tem sido, na minha opinião, um permanente cutucar da onça-Renamo esquecendo que ela continua com as suas garras intactas e a morar nas mesmas partes incertas.
Ao assinar o acordo de cessar-fogo com o Governo e com Armando Guebuza, Dhlakama afirmou que o fazia convencido de que as partes estavam a agir de boa-fé. Como se comportarão, ele e os seus homens, se chegarem à conclusão de que esta boa-fé não existiu?
No Centro de Conferências Joaquim Chissano o chefe da delegação do Governo afirma, com total cara de pau, que não há partidarização do Estado e que os órgãos de informação do sector público se regem, meramente, pela Lei de Imprensa. Mas será que aquele responsável pode indicar o nome de 1 pessoa, em todo o país, que ocupe uma posição de chefia e não seja membro do partido Frelimo? Não estoua pedir muito, estou a pedir apenas 1. Desde a chefia do Estado até ao chefe de posto, passando por ministros, directores nacionais, secretários permanentes e administradores de distrito. Desde os comandantes de todas as principais Forças de Defesa e Segurança até aos Presidentes dos principais tribunais e do Conselho Constitucional. Desde os reitores e vice-reitores das universidades estatais até aos presidentes dos conselhos de administração de todas as empresas públicas.
1, eu só peço 1.
Quanto aos órgãos de informação do sector público, o ministro Pacheco estava, obviamente, a mostrar o seu sentido de humor. Ainda há pouco tempo, na rúbrica Café da Manhã do Jornal da Manhã, quando foi pedido aos ouvintes que mandassem críticas e sugestões, um grande número deles afirmou que está farto de ouvir sempre os mesmos comentadores que, antes de começarem a falar, já se sabe o que vão dizer. Passou talvez um mês, ou pouco mais,sobre esse dia. Os resultados são que continuamos a ouvir sempre os mesmos comentadores, encabeçados pelo Gustavo Mavie que, de resto, também encabeça a lista dos tristemente celebres G 40. Opiniões críticas ao governo do dia, ou meramente diferentes, nunca. E isso não se passa apenas nesse programa mas em toda a Emissão Nacional da RM.
E, como sei que os jornalistas da Rádio Moçambiquenão são estúpidos e contam, entre eles, alguns dos (tecnicamente) melhor formados da Informação moçambicana, tenho que concluir que não fazem o jornalismo que gostariam de fazer mas sim aquilo que lhes mandam fazer. Porque, em casa, têm uma família à espera do salário ao fim do mês.
Na TVM, no Notícias e no Domingo não douopinião porque, há muito, deixei de os frequentar. Por razões de higiene...
 Mas, voltando ao tema inicial desta crónica, eu daria ao dr. Hermenegildo Gamito Presidente do Conselho Constitucional, um conselho meu. Ao dar
o parecer final sobre as eleições de 15 de Outubro, não cutuque ainda mais a onça. Analise, sem artifícios legalistas, o fundo das questões. Não receba ordens nem recados. Isto se não quiser acordar, um dia destes, com sangue de moçambicanos a sujar-lhe as mãos.



Machado da Graça, Savana,  07-11-2014     

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