Friday, 11 October 2013

Insegurança

Quando os ricos se sentem inseguros até nas suas torres de marfim é porque as coisas estão feias. Aliás, muito feias. Os raptos começaram na cidade de Maputo e rapidamente atingiram as urbes da Beira e Nampula. A sempre pronta Polícia da República de Moçambique (PRM) apresentou, para mostrar trabalho, uns rostos escanzelados de um bando de zés-ninguém, mas deixou sair do país, da forma mais ridícula possível, um dos prováveis cérebros do problema. Os raptos não tardaram a voltar a semear medo e insegurança no seio de uma das classes que mais dinheiro movimentam no país, como que a desmentirem retumbantemente a eficácia da PRM no combate ao crime.
Em surdina as pessoas contam que tudo o que diziam aos “investigadores” chegava aos ouvidos dos malfeitores. Foi, aliás, por isso que as vítimas deixaram de colaborar com a Polícia. Com o andar do tempo, aquilo que parecia ser problema de uma comunidade alastrou-se a todos os que aparentam ter algum dinheiro. Os novos factos deitam por terra a convicção segundo a qual estávamos diante de um problema de uma ou duas comunidades. Os raptos vieram para ficar e a PRM mostra-se incapaz de apresentar um antídoto para estancar a sangria. Esse é, diga-se, o grande problema.
Porém, o mais vergonhoso é a possibilidade de termos uma Polícia subserviente e controlada por uma quadrilha de malfeitores. Aquando das manifestações de 1 de Setembro o Governo inventou, para conter novos focos, o registo dos cartões SIM. Ou seja, foram tão rápidos para proteger a integridade do Estado e a manutenção do poder nas mesmas mãos, mas incrivelmente lentos para resolver um problema que afecta milhares de cidadãos.
O surgimento de novos grupos é uma coisa inevitável. O normal mesmo será que apareçam empreendedores nesta área. Ou seja, indivíduos com vocação para o negócio que terão de começar da base. Isto é, raptando por quinhentas. Por este andar e nível grotesco de impunidade não nos devemos espantar quando começarem a ocorrer raptos por 500 meticais.
O fenómeno começou com exigências ao nível do um milhão de dólares e desceu até aos cinquenta. Uma quantia que muitos pobres conseguem arranjar num abrir e piscar de olhos. Em 2008, quando um jovem do bairro Triunfo foi o cérebro de um sequestro que rendeu cerca de 5.000 dólares a acção da Polícia foi tremendamente rápida e produziu resultados. O jovem está preso e continua a pagar pelo que fez. Os raptores da nova era, esses, continuam impunes e acima da lei e da justiça.
Enquanto a Polícia for cúmplice desta gentalha viveremos num país que não oferece segurança. A crueldade e a impunidade é tanta que agora até raptam crianças indefesas. Que éramos um país sem cidadãos isso já sabíamos, mas que não devemos e nem podemos confiar nas instituições que zelam pela defesa e segurança tornou-se mais nítido agora...



Editorial, A Verdade

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