Friday, 30 August 2013

Qual é a próxima carta do baralho?

Tudo indica e aponta para uma situação similar ao Zimbabwe…

Contenção governamental ou incapacidade misturam-se…

Beira (Canalmoz) – Mais vale prevenir do que remediar, diz o ditado. O silêncio institucional, as estratégias camufladas de rearmamento das FADM/FIR, a “vitória eleitoral” da ZANU de Robert Mugabe, o impasse efectivo no... diálogo governo da Frelimo e Renamo são sinais preocupantes do que poderá acontecer nos tempos mais próximos em Moçambique.
Arranjos ou concertação diplomática ao nível da SADC é de prever para que os “camaradas” permaneçam no poder mesmo que fora das regras democráticas.
A realização de eleições autárquicas vai ser um teste importante sobre as reais intenções dos ex-beligerantes. Aos partidos não militarizados caberá esperar, utilizar as oportunidades existentes e continuarem a fazer política ao seu jeito.
A retirada da Renamo do processo eleitoral pode resultar num agudizar das confrontações militares, o que irá a favor daquela tese de que a liderança da Frelimo independentemente dos cenários quer e tudo fará para permanecer no poder.
A nível nacional dá a sensação de que a sociedade civil rendeu-se à evidência dos factos e opta resolutamente por esperar para ver o que acontecerá.
Da academia surgem sinais de “prostituição” indelével a favor do status ou uma admissão de falência de alternativas para contribuir no debate. Alguma coisa que tem sido dita não encontra eco nem ressonância nos corredores do poder.
As confissões religiosas estão como cuidadosamente manietadas por hierarquias que não se querem afastar de quem sempre defenderam. Alguns “rebuçados” atirados têm o condão de mobilizar mais apoiantes para uma posição de espectadores inclinados também a manter o status.
Na comunicação social pública e outra contratada à última hora no campo independente não restam dúvidas de que existe concertação no exercício de ignorar os pontos positivos e razoáveis que saem da oposição.
Quanto à oposição, esta caminha sem concertação e muito pouca coordenação. Existe uma forte manifestação de um novo poder político-militar, conquistado com base em sucessos havidos nas escaramuças com forças militares e paramilitares do governo. Regista-se uma clara subordinação dos políticos desempenhando funções de deputados da Renamo na Assembleia da República a decisões e consensos alcançados ao nível da liderança. Se os pontos agendados para diálogo foram conseguidos através de um estudo profundo da situação, há que reconhecer que do ponto de vista táctico, houve alguns atropelos ou incapacidade de gerar um movimento popular de amplo apoio à sua causa. Um combate em duas frentes, uma política e outra militar está surtindo mais efeitos na militar.
Não havendo condições ou decisão de estender as confrontações militares para novas zonas do país, os efeitos que as vitórias iniciais possam ter como consequências são imprevisíveis.
O governo parece reduzido a um exercício de contenção, de adiamento sem data, de qualquer confrontação generalizada. Espera ganhar algo com um provável isolamento da Renamo ao nível da região, SADC?
Quando os pronunciamentos do PR repetem a tese da intolerância e mostram que não há vontade real de ceder face às reivindicações dos outros a conclusão pura e simples são de que o senhor não pretende retirar-se da cena política e do poder. Isto conjuga-se com a falta até agora de candidato à sua sucessão?
Há perigo de vermos os avanços democráticos conseguidos resvalarem para o dreno ou esgoto se não houver prosseguimento do processo político no país.
Se até agora o panorama mostra que as eleições autárquicas serão muito contestadas e com vencedores inesperados em alguns lugares, por outro lado importa “não correr com sal na mão para a galinha”.
Os processos de limitação dos candidatos aos pleitos eleitorais já foram utilizados no passado e continuam a não ser arma abandonada pelo partido no poder. Não se pode parar de denunciar desvios e atropelos à lei.
Outro aspecto de extrema importância é o debate e a troca de ideias entre os opositores. Não constituir uma coligação com fins eleitorais não significa não debater assuntos de interesse mútuo.
Há áreas de convergência que devem ser exploradas para bem da democracia nacional sem olhar para ganhos em termos de assentos em assembleias ou conquista de cargos municipais. Precisa ser do entendimento comum que vitórias eleitorais são processos com duração indefinida de tempo. Tudo o que for feito para assegurar cada vez mais transparência, justiça e liberdade será ganho para todos. Cada um tem a sua experiência e conhecimento sobre o processo político moçambicano e isso deve ser trazido para a mesa nacional.
Um amplo movimento de mobilização organizado pela oposição política no país pode ser útil para pressionar os “negociadores” no sentido de respeitarem os preceitos democráticos.
Aquela sociedade civil que se diz interessada na manutenção da paz e da estabilidade deve sair à rua e fazer-se ouvir. Não “passeatas pela paz” organizadas e enquadradas por agentes de inteligência ao serviço de agendas de guerra e aniquilação dos outros.
O discurso pela tolerância, reconciliação, paz, estabilidade, desenvolvimento inclusivo devem ser acções diárias de todos os amantes da paz e do desenvolvimento.
É preciso impedir que os “falcões” da guerra tomem as suas posições e arrastem o país para mais um conflito sangrento.
Tem de ficar claro que este Moçambique não é propriedade privada dos “libertadores e dos combatentes pela democracia”.
Pela democracia real, longe das fraudes e tudo o que condiciona a vontade popular não se pode parar de lutar…


(Noé Nhantumbo)

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