Thursday, 3 March 2011

Líbia: Silêncio africano é "alarmante" e um "embaraço"

O silêncio sobre as atrocidades na Líbia põe em causa pretensões de África desempenhar de relevo na cena política global

O silêncio dos países africanos e da União Africana sobre a situação na Líbia é “alarmante”, um “embaraço” e põe em causa as pretensões de África desempenhar um papel relevante na cena política internacional, disseram analistas contactados pela Voz da América.
Com efeito enquanto a Líbia resvala cada vez mais para uma situação de guerra civil os países africanos e a União Africana têm na generalidade mantido o silêncio sobre essa situação
O antigo director de governação na comissão económica para África das Nações Unidas Okey Onyejekwe disse que o silêncio da União Africana é alarmante.
Interrogado sobre o porque desse silencio Onyejekwe disse que uma das possibilidades é que “alguns países africanos se identificam com Gadaffi e por isso estão muito relutantes em criticarem o que se passa”.
“Outros afirmam que Gaddafi tem doado dinheiro e feito investimentos em vários países africanos e dai a reticência em criticarem,” acrescentou.
O Dr. António Gaspar do Instituto Superior de Relações Internacionais no Maputo em Moçambique disse que a União Africana tinha discutido a possibilidade de enviar uma delegação á Líbia para averiguar a situação “in loco” e fez notar o peso que a Líbia tem dentro da União Africana como membro fundador da organização.
Por outro lado, disse António Gaspar, o envolvimento de instituições internacionais em problemas como o da Líbia tende a abafar o papel de instituições regionais como a União Africana e a própria Liga Árabe.
Mas de qualquer modo, disse Gaspar “esse silêncio não ajuda a esclarecer as pessoas” e pode dar a entender “um abandono” da Líbia.
O Dr. António Gaspar disse ainda que em nome da solidariedade africana, África corre o risco de ser tornar cúmplice de graves violações do direito internacional e dos direitos humanos. Gaspar fez notar que muitas vezes isto se deve a relações que vêm de longa data.
Essa “interligação muito forte” leva a que muitos países vejam a critica como se “estando a ver a si próprio, como se estivessem a olhar para o espelho”, reflectindo uma “geração que vem de muito longe no poder”.
Para António Gaspar não se trata de solidariedade mas sim de cumplicidade.
“Essa cumplicidade cria alguns embaraços,” acrescentou.
Okey Onyejekwe diz que esta situação afecta a diplomacia africana.
“Um dos desafios a que os estados africanos têm que fazer face esta década é a questão de se tornarem relevantes na política global,” disse.
“Se queremos ter um papel activo e se queremos ser tomados a sério em política global temos que fazer ouvir as nossas vozes em questões como esta,” acrescentou.

VOA

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