Monday, 21 June 2010

POLÍTICOS QUE RECUSAM A REFORMA E A RECONCLIAÇÃO

Ou simplesmente a continuação de uma agenda jamais abandonada...

Nunca foi tão importante estarmos atentos sobre o que periodicamente alguns dos políticos de proa neste país surgem dizendo. Quando se espera por um discurso reconciliatório temos gente como o antigo presidente da república, Joaquim Chissano aproveitando o espaço que a comunicação social lhe dá mandando recados rotulados de ideologia política ou filosofia. Entanto que cidadão ele tem todo o direito de exprimir os seus pontos de vista. Só que a oportunidade e valor de alguns de seus pronunciamentos não estão em conssonância com os objectivos ou agendas do governo do dia. isto a propósito do que ele disse sobre os portugueses e o último conflito armado em Moçambique. Estava Guebuza, actual PR visitando Portugal e Chissano em Maputo não aproveitou uma ocasião para estar calado ou limitar-se a explorar a sua veia de diplomata interessado na resolução de conflitos armados em África. Quando ele afirma que houve portugueses envolvidos na desestabilização de Moçambique seria de coerência que ele alargasse o campo dos interessados na desestabilização de Moçambique. Qual foi o papel de países como a RDA e a URSS na desestabilização e condicionamento da acção política em Moçambique? O que Cuba fez em todo o processo de cooperação no domínio da defesa e segurança com Moçambique sob o governo da Frelimo? Foi só cooperação com um governo legítimo que atropelava os direitos humanos dos moçambicanos quando lhe convinha? A legitimidade da acção governativa tem os seus limites que como sabemos muita vezes foram simplesmente ignorados em nome de uma agenda que os moçambicanos jamais aprovaram ou aceitaram.
Quantas decisões foram executadas e o que isso significou no processo de detenção, triagem e posterior condenação de moçambicanos julgados politicamente inconvenientes? Este é o outro lado da moeda que nunca os seus executores se dignaram a mostra aos seus concidadãos. Quase sempre aparecem querendo convencerem que eram os dirigentes correntos oud efensores da linha correcta mas não conseguem dizer qual é a tal linha correcta. Será que abandonaram a linha correcta e revolucionária do passado e agora conjugam outros verbos? Aqueles moçambicanos rotulados de contra-revolucionários e posteriormente severamente punidos senão condenados a pena capital, em tribunais que não reuniam nenhuma condição de sê-lo, foram-no alegadamente porque defendiam um capitalismo ou economia de mercado e alguns dos valores democráticos que estão hoje em prática no país. Parece que o que separava os moçambicanos no decurso da guerra de libertação nacional tinha muito pouco de relacionamento com a ideologia seguida por uns e outros. A luta pelo poder era pelo poder e não por uma ideologia pois logo que tiveram a oportunidade de exercer o poder foi o que vimos. Lojas dos responsáveis e dirigentes de um lado e lojas do povo sem nada o que adquirir de outro. Saúde até gratuita de um lado mas sem médicos nem medicamentos, educação gratuita mas sem professores qualificados, sem laboratórios e sem um curriculum que lograsse conferir a qualidade necessária aos estudantes. Muitos planos e grandiosos planos mas quanto a capacidade de executar ou concretizar tais planos foi o que vimos ao longo dos anos.
Quando é que Chissano e seus companheiros de percurso nos começarão a falar do seu relacionamento com as potências do Leste europeu e o papel de marionetas nas mãos da Internacional Comunista que a Frelimo desempenhou? Falar ou afirmar que tudo o que se fez visava apoiar os esforços pela libertação do país não encerra o capítulo e nem explica tudo o que se fez ao longo daquele processo.
A motivação política por detrás de muitas acções que conduziram por exemplo ao êxodo dos portugueses nos primeiros anos da independência carece de explicação mais detalhada. Que tenha havido portugueses que se colocarão contra a independência estamos todos fartos de saber e não é necess’ario aproveitar uma ocasião solene para afirmá-lo. É preciso tirar da cabeça de certas pessoas que sejam as únicas pensantes e que sejam tudo ou a única coisa que o país tem sob forma de intelectuais.
Que independência realmente havia entre os dirigentes da Frelimo para executar políticas endógenas? A massa de conselheiros e assesssores que chagaram a Moçambique logo após a independência cumpriu os mais diversos papéis e muitos deles foram realmente prejudiciais para o país.
Parece que a tendência posta em evidência por figuras como o agora cidadão Joaquim Chissano inscrevem-se no ambito de decisões políticas do seu partido mas também manifestações de vontade e ambições de natureza política estão cada vez mais evidentes, que Joaquim Chissano e outros companheiros seus da jornada não querem abandonar a cena política. Querem continuar a ter espaço na arena política e conseguem realizar suas agendas através da existência de instituições que ajudaram a criar como a Universidade Politécnica ou estações televisivas “simpáticas”. É de facto dificílimo distrinçar onde começa a simples academia e a protecção e promoção de agendas políticas, quando as instituições dignas de relevo e apreço atropelam as normas. Separar o “trigo do joio” é sempre necessário ao longo dos processos. De contrário vamos ver interesses chocando-se e o país sofrendo por falta de esclarecimento e visão.
De outro modo não se compreende porque não há consensos pelo menos verbais no que se refere a assuntos ligados a política externa do país. Cabe ao governo na pessoa do PR e com assistência do ministro dos Negócios Estrangeiros tomar decisões e gerir os diferentes dossiers de política externa do país. Os pronunciamentos dos cidadãos sobretudo de um antigo PR não podem estar desfasados em relação a agenda do actual PR. Para que serve acordar fantasmas como os do “7 de Setembro de 1974” especialmente numa altura em que o PR está visitando Portugal? Será simples distração de Joaquim Chissano ou uma incursão com interesse acadêmico num ocasião em que tal tinha que ser dito?
Convém não tomarmos as coisas de ânimo leve e corrermos em defesa de pronunciamentos que encerram muito mais do que aparentemente nos querem fazer crer.
Mas outro lado desta moeda é o facto de termos os opositores políticos moçambicanos calados ou quando muito dizendo quase nada sobre este e outros dossiers de interesse nacional.
É comum a posição da oposição aparecer ou se circunscrever unicamente a aparições esporádicas nos debates televisivos. Em política é como no desporto onde quem não joga não tem possibilidade de marcar golos. O surgimento frequente de figuras do partido no poder nos meios de comunicação social faz parte de uma determinada estratégia. Acredita-se que o seu apareciemnto permanente na televisão, rádio e jornais vão contribuir para que os moçambicanos os conheçam e que isso tenha o seu papel no momento das eleições. Mesmo quando o partido no poder cai no rídiculo por aparições menos conseguidas ou caricatas como o de algumas das suas figuras, o seu Secretário Geral, por exemplo, ou outros fósseis existentes no seu seio, o interesse ou objectivo geral é alcançado. Estamos falando de exposição ao potencial eleitorado. Quantas vezes o Secretário Geral da Renamo aparece na imprensa? Será que questões como a falta de fundos da esposa de Afonso Dlakama realmente sejam matéria de interesse na imprensa ou recebem atenção da Imprensa porque concorrem para denigrir a imagem do líder da oposição?
As gaffes como a de Chissano devem ser vistas como mais uma manifestação de diferença de entendimento e procedimento no seio da Frelimo. Parece que alguns dos membros seniores da Frelimo falam de motto próprio se sem propriamente obedecer a uma disciplina partidária. Ou então houve quem decidiu furar tal disciplina.
Se há diferenças vamos nos tempos mais próximos verificar alguma crispação nas relações entre certas figuras da Frelimo. Mas como são especialistas em lavar a roupa suja em lugar próprio pode ser que nada chegue a ser público.
O que interessa aos moçambicanos é que os seus políticos, Frelimo e todos os outros partidos políticos cresçam no seu entendimento do que deve ser a política neste país.
O jogo dos segredos como parece estar a vigorar nos dias de hoje só tem interesse para a protecção mútua de políticos que tem alegadamente muita roupa suja por lavar. A oposição para ser útil ao país e aos moçambicanos tem de sair do seu silêncio e ser capaz de apresentar alternativas políticas, filosóficas e governativas. Fazer política deve ser superior a uma aparição ocasional na rádio ou televisão. As conferências de imprensa devem ser para comunicar e abordar actividades realizadas e não o único meio de fazer política.
Quem anda a chuva molha-se e os políticos tem de compreender isto de maneira profunda. Política é superior a intrigas e a bajulação que se possa fazer dos líderes dos partidos políticos.


Noé Nhantumbo, no Diário da Zambézia de 15/06/10

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