Tuesday, 22 June 2010

Moçambique nada fez para aproveitar as oportunidades do “Mundial”


Falou-se muito e trabalhou-se pouco

Maputo (Canalmoz) – O anúncio da realização do Campeonato Mundial de Futebol 2010 na África do Sul encheu Moçambique de expectativas. O evento foi visto como uma oportunidade de negócios. Moçambique foi um dos que entrou na rota dos países sonhadores e que acreditava que o “Mundial” da África Sul podia trazer grandes benefícios para muitas das suas actividades económicas, sobretudo para o turismo.
De estratégias em estratégias, achou-se melhor institucionalizar as oportunidades, criando o Gabinete Técnico para o “Mundial 2010”.
Mas, segundo tudo indica, as expectativas do Governo não tomaram em conta a realidade moçambicana e como consequência todo um sonho “mundial” se transformou numa autêntica frustração.

A explicação do Governo

Para perceber o que ditou o fracasso, a reportagem do Canalmoz contactou o Gabinete Técnico do “Mundial 2010”. Em entrevista ao nosso jornal, Nuno Fortes, assistente executivo do Gabinete, deu a entender as infraestruturas jogaram um papel muito importante para a derrocada do sonho moçambicano.
Estava previsto que o estádio nacional, situado em Zimpeto, terminasse a tempo de ser usado pelas selecções que viessem a Moçambique. Tal não aconteceu. De greves em greves dos trabalhadores, as obras não foram concluídas, e o estádio ainda está em construção, e nem se pode falar de fase final do empreendimento.
No caso particular das obras do estádio nacional, Nuno Fortes disse ao Canalmoz que as mesmas se atrasaram por causa da implementação de um novo programa dentro do projecto. Segundo explicou, o facto de o país acolher os Jogos Africanos de 2011 fizeram com que o projecto do estádio nacional sofresse algumas alterações, facto que comprometeu em grande medida os prazos anteriormente previstos. “Houve alteração do projecto para incluir piscinas, vila olímpica, e uma série de projectos adicionais para responder às exigências dos Jogos Africanos de 2011”.
Nuno Fortes disse que, se o estádio não sofresse alteração por causa desse projecto, ele estaria terminado e “talvez, pelo menos uma selecção podia estagiar em Moçambique”.

Moçambique não respondeu às exigências

Nuno Fortes reconheceu que a realidade de Moçambique está muito aquém das exigências das equipas que estão no campeonato mundial: “A expectativa criada não levou em consideração as condições que o país real apresentou”.
Ele revelou ao nosso jornal que, para além das selecções do Brasil e de Portugal, foram contactados outros países, como são os casos da Espanha e do Chile. Segundo disse, estes países ficaram por se pronunciar, mas nunca mais disseram nada. Nuno Fortes disse ainda que outro factor que contribuiu para mais este fracasso é o facto de estas selecções não terem dito o que queriam, em termos de condições. “Acreditamos que se estas selecções nos tivessem dito o que queriam, teríamos feito o nosso plano com base em referências. Mas não foi o que aconteceu”, frisou.
Segundo Nuno Fortes, Moçambique apresentou condições de que os países não gostaram, quando comparadas com as que encontraram na África do Sul. As selecções que estão no “Mundial” rejeitaram a relva sintética, e os “melhores campos” de Moçambique não têm relva natural.

Os hotéis

Os hotéis foram outra componente que influenciou o fracasso. Os padrões exigidos pelos países que participam no “Mundial” são muito diferentes do que se encontra na realidade moçambicana. A título de exemplo, perguntámos ao assessor executivo do Gabinete do “Mundial” qual seria o hotel de referência, caso uma selecção desejasse estagiar em Moçambique. Ele apontou o Hotel Indy Village como o que reúne condições: “O Indy Village era, na nossa opinião, o que reunia condições, e a selecção que viesse podia usar o campo do Costa do Sol. Mas o campo era outro problema”, disse Fortes, acrescentando que as selecções preferiram ficar na África do Sul por causa das condições no geral.

Outras infraestruturas

A ampliação e modernização da terminal do aeroporto internacional de Maputo é outro dos projectos que se encontrava no conjunto dos atractivos para os turistas. Assim como aconteceu com o estádio nacional, no Zimpeto, as obras no aeroporto não terminaram. Na corrida contra o tempo, o “Mundial” começou antes da conclusão das obras.
A paragem única de Ressano Garcia era outra infraestrutura que se esperava terminar antes do “Mundial”, mas também não terminou.
Com todo este cenário, foi por água abaixo o sonho de ganhar benefícios do “Mundial”.

(Matias Guente, CANALMOZ, 22/06/10)


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