Maputo (Canal de Moçambique / Zambeze) - Nos bastidores da Política estão a começar a chegar-nos sinais muito preocupantes que acima de tudo propomos que comecem por merecer uma reflexão a título individual de cada cidadão. Em ano de eleições presidenciais, legislativas e provinciais, as reflexões que são sempre necessárias tornam-se ainda mais necessárias.
Para nós, o que está a acontecer ultimamente são coisas muito estranhas e por isso as elegemos para temas deste nosso editorial.
Voltaram os apelos à censura à Imprensa até por indivíduos que são funcionários das Nações Unidas e se escondem em operações de autêntica agiotagem politica prestando serviços a grupo bem identificado e com propósitos inconfessáveis como foi o caso já por nós sobejamente tratado a semana passada a propósito de uma escrito de um pretenso jornalista agindo em nome do MISA.
Regressaram também as “operações” de certos grupos com o sentido de amedrontar a comunicação social e claramente mais preocupados com a sua perpetuação nas funções em que se tornaram autênticas múmias e hoje só estão para nos provar que o seu interesse maior é não permitir o refrescamento e modernização de instituições que caíram em total descrédito, como é o caso da Justiça, inventando “difamações” onde apenas só o seu umbigo pode ser a preocupação em tempo de rendição do mais alto magistrado do aparelho judicial. Estão de volta as operações policiais, com carácter xenófobo, como a que aconteceu esta terça-feira no Restaurante «Mundos» em plena Julius Nyerere, em Maputo, em que um grupo da Migração fechou as portas e durante um hora e tal, invadiu o local e pôs-se a interromper as refeições e a mandar encostar até senhoras moçambicanas à parede, a pedir documentos.
Mas claro está, sem sombra para dúvidas, o que mais nos preocupa são os autênticos massacres que estão a ser perpetrados, com todos os requintes de selvajaria “polpotiana”, em várias cadeias, em diversos pontos do centro e norte do país, como já nos veio confirmar a sempre atenta e laboriosa Liga dos Direitos Humanos moçambicana.
Em Mogincual, em Angoche, em Tete, está patente o que uma justiça “podre” e agentes da Polícia de cabeça completamente perdida, desvairados e lunáticos, agindo em nome de um Estado de que completamente se apoderaram, podem fazer para que Moçambique, construído pedra a pedra com o suor de tantas Mulheres e Homens de bem, deixe de ter bom nome no contexto das nações.
Emerge disto tudo a necessidade de cada um de nós se interrogar e tentar perceber por si mesmo para onde vamos se este regime continua a reinar perante o nosso silêncio e o acantonamento a que nos remetemos fingindo que a desgraça dos outros nunca nos há-de chegar à porta.
Para nós, das duas uma: ou é o presidente da República e a Primeira-Ministra de conluio a levarem-nos de regresso aos tempos que precederam a Guerra Civil, motivados por ideologia apenas interrompida por uma Renamo forte que aparentemente agora deixou de o ser, ou é alguém muito próximo do Poder a querer fazer a cama ao actual presidente da República para lhe suceder. O que está a acontecer é realmente muito grave e qualquer descuido pode-nos levar a uma realidade semelhante à do Zimbabwe que começou assim e acabou onde está.
Há anos que não se ouviam as ameaças de morte a jornalistas como até a que se conta ter sido proferida há pouco contra um jornalista do “Notícias” pelo governador de Tete.
Há anos que não se ouvia o que também nos contam que aconteceu há dias no Inhassoro numa reunião do governador com empresários locais que se queixavam da má qualidade de fornecimento de energia eléctrica. Alegavam os empresários que o deficiente fornecimento de energia eléctrica estava a por em causa os seus negócios, sobretudo o marisco e peixe guardado nos frigoríficos. O governador, sem resposta plausível, limitou-se a ameaçá-los com nacionalizações das suas empresas. Sem mais lhes dizer sobre o real problema da electricidade naquela vila piscatória do norte de Inhambane, ficou-se pela ameaça.
Dizem-nos que com a Renamo fraca, ou um MDM forte, estão criadas as condições para os nervos de figuras do regime habituadas a pôr e dispor de nós, voltarem a acentuar-se e elas a entusiasmarem-se e a afiarem os dentes. Estarão equivocadas essas pessoas que assim comentam este momento em que são tão demasiadas as acções más que até parecem concertadas?
São muitas, habitualmente atentas, e até aqui conhecidas como elogiadoras do regime, as pessoas que andam preocupadas com o que ultimamente está a suceder. Têm sido elas a dizerem-nos hoje que “isto está a ficar mau”.
Seja o que for, a vítima disto tudo parece-nos ser Armando Guebuza a quem, se não for de facto ele o mentor de tudo o que de mau está a acontecer, pelo menos é a ele que está a ser vestida a capa que mais convém a quem, dentro do seu próprio partido, o quer pôr de lado?
As mortes nas cadeias, quer nas que estão a cargo da PRM (Polícia da República de Moçambique), quer nas que estão a cargo do Ministério da Justiça, não serão casos bem engendrados em que os “cordeiros” da Frelimo querem vestir Guebuza “com pele de leão” violento e devolver-lhe a fama do sanguinário do Niassa?
Não será que a operação da Migração no Restaurante mais visível da Julius Nyerere, esta terça-feira à noite, alegadamente à procura de estrangeiros ilegais, mas como nos disse o gerente Cândido Cossa, mais virada para a “caça a pessoas de raça branca” e de “negociar soluções” com os indocumentados – ou como nos disse uma senhora: “para maltratar e humilhar as mulheres moçambicanas” – não será, perguntávamos, que se tratou de mais uma das muitas frentes em que estão a querer tratar mal a imagem do actual chefe de Estado, tentando fazer crer que estamos a voltar aos tempos da “operação produção” de triste memória, que colocou, há décadas atrás, no tempo de Samora, a imagem de Armando Guebuza na fossa? A imagem de quem está contra os estrangeiros e contra os “brancos” não estará a ser tentada para a colarem a Guebuza? Será mesmo que não estamos a voltar aos tempos da “Operação Produção” que levou tanta gente para a morte no Niassa? – interrogava-nos uma senhora moçambicana que no «Mundos» fora obrigada a interromper um jantar de aniversário com outras amigas e a encostarem-se todas elas à parede em atitude que só faz lembrar os tempos macabros em que a Polícia de Moçambique era formada pelo KGB soviético. Que resposta se pode dar a esta senhora? – perguntamos nós.
Para que não nos venham dizer que somos contra o Chefe de Estado, aqui ficam os nossos reparos. De boa fé lhe recomendamos que mude de atitude se de facto o que está a acontecer tem a sua bênção ou patrocínio. Mas se de facto o que estão a querer fazer é apenas rasteirá-lo, aconselhamos o Senhor Presidente da República a passar uns dias em Maputo, para se concentrar a dar uma vassourada na cúpula do Supremo, da Justiça e do Ministério do Interior, e voltar à sua agenda corrente em que não nos queremos imiscuir, como é óbvio.
Se não quiser refrescar estas instituições, não se queixe de que a população comece a perder a pouca confiança que ainda tem no Presidente que elegeu em 2004.
E se tudo se mantiver, os eleitores que se cuidem e vejam para onde temos de caminhar nas próximas eleições, se bem que já haja bastantes outros motivos para esse mesmo assunto ser alvo de reflexão.
Achamos muito sinceramente que o chefe de Estado pode vir a cair em desgraça. De nós não se queixe quando isso acontecer. “Quem ri por último ri melhor!”, diz um velho ditado. Se o Presidente não se antecipa aos que lhe querem cobrar aquilo de que se queixam que lhes foi feito num passado recente, então vai acabar por ver presentear os esforços das autênticas e astutas toupeiras que surrateiramente o enganam.
Nós só estaremos cá para, como sempre, para contar a história. A opinião está aqui dada. O resto não nos diz respeito…
( Editorial do Zambeze, com data de 02/04/09, citado em http://www.canalmoz.com / )
NOTA:
Excelente Editorial que merece profunda reflexão, devemos questionar seriamente se este é o Moçambique que desejamos!
Dois factos incontestáveis:
1 - Está aqui retratado o verdadeiro Estado da Nação, que é mau, muito mau.
2- Se Moçambique fosse um País democrático, a Frelimo seria humilhada nas próximas eleições e removida do Poder.
Dois factos incontestáveis:
1 - Está aqui retratado o verdadeiro Estado da Nação, que é mau, muito mau.
2- Se Moçambique fosse um País democrático, a Frelimo seria humilhada nas próximas eleições e removida do Poder.
Isto e um retrocesso no processo democratico, um recuar aos tempos do regime ditador de S. Machel e um motivo de reflexao para todos nos. As eleicoes avizinham-se, reflictamos em quem melhor nos podera representar. Abaixo o abuso de poder e a humilhacao dos cidadaos mocambicanos! E esta a imagem que queremos projectar do nosso pais aos estrangeiros que estavam no "Mundo's" e ao resto do mundo? Meditemos, e votemos conscientemente, pois estamos a viver tempos dificeis. Maria Helena
ReplyDeleteTemos aqui motivo para reflectir e questionar se o que se está a passar é aceitável.
ReplyDeleteEste regresso ao pesadelo do paraíso macheliano é preocupante.
Queremos mesmo isto para Moçambique?