Beira (Canal de Moçambique) - Quando teimam em organizar palestras tentando vender peixe podre em nome de heróicas gerações que em certa medida cumpriram seu papel histórico há que prestar muita atenção pois estamos perante um fenómeno que visa somente perpetuar um tipo de visão sobre o país. Procuram mostrar que os únicos que tem alguma razão ou toda a razão ou os únicos que merecem dirigir os destinos deste país são aqueles que a história oficial apresenta como os heróis de sempre.
O tempo passou e se encarregou de trazer novos factos à superfície e verdades de ontem se transformaram em mentiras de hoje.
O que está em causa não é a negação de nosso passado histórico e muito menos menosprezar o que muitos moçambicanos fizeram em prole da pátria chamada por muitos de bem amada.
Está em causa o que estão fazendo nos seus dia a dia aqueles que governam o país e os diversos representantes do povo nos diferentes segmentos do poder democrático. O povo quer factos e não um amontoado de palavras bonitas. O povo quer comer as três refeições convencionais que os outros comem. O povo quer ver seus filhos estudando em escolas de qualidade e ver os mesmos sendo tratados em hospitais de qualidade.
O povo está cansado de demagogias que serviram para cimentar posições explorando desenfreadamente os recursos nacionais em benefício de um grupo de pessoas que se julgam especiais ou especialmente eleitas para governar o país.
A questão em Moçambique tem sido quase sempre uma intolerância política que manchou um belo processo de luta pela independência, ao provocar tratamento cruel de compatriotas em nome de ideologias importadas que não tinham nada a haver com o que alegadamente estava em causa.
Os que um dia disseram que outros eram reaccionários porque alegadamente queriam explorar o povo moçambicano nas zonas libertadadas, estavam mentindo como o presente capitalista dos mesmos o mostra. Não era nenhum marxismo ou leninismo que separava os moçambicanos mas a ambição e a intolerância. A incapacidade de entender que se podia compartilhar o país e que éramos todos moçambicanos com os mesmos direitos deturpou o sentido e os objectivos de uma luta corajosamente participada por muitos moçambicanos.
Quando alguns se colocaram acima dos outros e começaram a atribuir nomes pejorativos a outros, prendendo, julgando e sentenciando em nome de uma suposta ideologia, lançaram-se as bases para a exclusão política e a emergência de posicionamentos políticos contrários ao espírito e letra da luta de libertação nacional.
É importante revisitar o passado para compreender como é que moçambicanos que começaram juntos a lutar contra a dominação colonial se separaram e se tornaram inimigos.
Muita falsa política que não visava mais do que colocar uns no poder transformou irmãos em inimigos quando efectivamente não havia matéria para tal.
O que se procura fazer crer aos moçambicanos de que seu destino está ligado indissoluvelmente a um Moçambique governado pelos que lhe deram a independência já se mostrou obviamente um discurso tão gasto que um número crescente de moçambicanos questiona essa tese. Uma coisa é ter tido um protagonismo relevante na luta de libertação e outra bem diferente é ser capaz de gerir o país entanto que governo, com sensatez e capacidade de fazê-lo crescer e progredir.
Se em quase todos os campos da actividade económica, na esfera da justiça e no domínio social o que se assiste e o que se pode comprovadamente concluir é que faltam realizações de vulto ou algo que os moçambicanos possam realmente ver e sentir que foi bem feito, então não se pode dizer que estas pessoas que sempre governaram o país, merecem continuar e que tal é um imperativo nacional. É isso que importa dizer alto e com bom som!
Não há insubstituíveis e o país não vai desaparecer como tal se outros moçambicanos tomarem conta do leme!
A ideia de que só uns é que podem, é reducionista e discriminatória. É o mesmo que o apartheid sul-africano defendia.
Uns iluminados, outros só para cumprir? Desde quando pode-se admitir uma coisa assim? Mais do que proclamar ou tentar impingir aos moçambicanos imperativos que nunca colaram, o importante é que os partidos políticos, incluindo o partido governamental, mudem de estilo e compreendam que sua função ultrapassa a satisfação dos interesses, aspirações e egos de suas lideranças.
Há que promover um renascimento da fibra moçambicana e o cultivo de uma maneira de estar na vida pública que assegure no dia a dia, a participação dos cidadãos na realização de agendas centradas nos mesmos. Não podemos nos reduzir a país de estatísticas que não reflectem a verdade vivida pelas pessoas. Sabemos que os níveis de desenvolvimento humano são baixos e que muito mais se poderia fazer. Mas também sabemos que muita gente teima em dizer que está tudo bem, está tudo bom, o Estado da Nação é bom. Isso é uma grosseira mentira! Quando há bem pouco tempo se questionava o funcionamento da justiça moçambicana muitas vozes se levantaram contra o relatório americano sobre a matéria. Mas agora temos as mortes por asfixia em Mongicual? Que diz a senhora Dra. Benvinda Levi, ministra da Justiça? Há ou não excessos e desrespeito pelos Direitos Humanos dos cidadãos no país, protagonizados por forças policiais? Trata-se de ânimo leve questões importantes que acabam definindo o que se faz ou como é o país. Fica-se aperceber claramente que a agenda de certas pessoas não está centrada em servir os moçambicanos. O seu ego, os seus interesses pessoais e de grupo específico, esses sim… e depois querem ditar-nos agendas e apresentar-nos o seu programa como o único e exclusivo imperativo nacional.
Quando a propaganda oficial e oficiosa é camuflar factos, difícil se torna modificar o que está sendo mal feito.
Quando há um recrutamento maciço de escribas e serviços televisivos para pintarem o panorama com cores alegres e na verdade as coisas são muito cinzentas contribui-se para atrasar o desenvolvimento.
Nem tudo está mal feito e a perfeição em política é uma utopia. Mas isso não deve impedir que se faça saber aos moçambicanos que há erros de percurso e que sobretudo se pode corrigir tais erros. E que os erros não têm de ser corridos pelas pessoas que cometeu os eros, também é preciso que se comece a perceber isso. Pode haver outros que fazem melhor. É preciso abrir-lhes espaço para poderem também contribuir para a diversidade no país.
O momento actualmente vivido deve ser de redescoberta dos valores que um dia uniram moçambicanos e os levaram a lutar pelo seu país. Sem utopias nem demagogias é possível levar este país para outros patamares. A responsabilidade é de todos...
(Noé Nhantumbo, CANALMOZ, 27/03/09 )
Um artigo muito bem compilado, que nos abre portas para a meditacao e reflexao. Maria Helena
ReplyDeleteO problema é que alguns espertalhões pensam que só eles teem capacidade para governar!
ReplyDeleteMoçambique para todos!