Monday, 10 April 2017

Alerta representante da ONU: África vive um “recuo democrático”

O REPRESENTANTE das Nações Unidas para a África Central, Abdoulaye Bathily, alertou sábado em Marrocos para o “recuo democrático” que se observa no continente na última década, com o poder capturado por famílias e pelo dinheiro de traficantes.
“Há um recuo democrático” em África, avisou o representante especial do secretário-geral da ONU para a África Central, intervindo num debate sobre “O risco de uma recessão democrática”, durante o “Fim-de-Semana da Governação Ibrahim”, que terminou ontem em Marraquexe, Marrocos.
O responsável das Nações Unidas recordou que no final do século XX houve um “crescimento democrático” em África, que fez levantar as esperanças sobre o pluralismo democrático e o levantar da sociedade civil, mas nos últimos dez anos, observa-se “um declínio”.
“Diminuiu o número de partidos na maioria dos países. A política já não é sobre valores e o bem comum, mas sobre interesses de grupos ou pessoais”, exemplificou.
Por um lado, há pessoas que se juntam “para capturar o Estado e enriquecer” ou, noutra tendência, que classificou de “muito negativa”, é a “rede familiar” que chega ao poder.
“As primeiras-damas tornaram-se uma instituição, são mais poderosas que primeiros-ministros, e não foram eleitas”, criticou.
Além disso, Abdoulaye Bathily comentou que cada vez mais os líderes vencem as eleições com o apoio de “traficantes de droga e de armas, que entram na arena política e corrompem o eleitorado” ou são os bilionários que são eleitos.
O representante da ONU lamentou que a verificação do poder por outras instituições nem sempre funciona e avisou que a democracia é mais do que realizar eleições de quatro em quatro anos.
O recuo democrático em África foi uma opinião partilhada por todos os participantes no debate, desde logo a secretária-geral adjunta das Nações Unidas, Amina Mohammed, que considerou que “a democracia em África é um trabalho em desenvolvimento”.
A responsável sustentou que, em muitos casos, houve um “cópia e cola” de modelos de governação que não funcionam na realidade de determinados países, sustentou que não se está a fazer o investimento necessário nas instituições que aproximam as pessoas do poder e, por fim, perguntou se, no processo eleitoral, se debatem os temas ou se tem tudo a ver com os recursos.
Sello Hatang, da Fundação Nelson Mandela, defendeu que as eleições são apenas um dos testes: “Não devemos pensar que as eleições resultam sempre na escolha do melhor. Não devemos descontrair, os políticos têm de continuar a ser testados”.
Mark Malloch-Brown, presidente da Comissão para Empresas e Desenvolvimento Sustentável, comentou que em todo o mundo cresceu o número de países que realizaram eleições, mas a qualidade desses actos e da democracia caiu.
"Tornou-se, em muitos locais, um processo cínico, porque é bom para os dólares do doador, mas está longe da construção de uma forma real de responsabilização, por parte dos cidadãos”, afirmou



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