Thursday, 30 March 2017

África do Sul despede-se de Ahmed Kathrada, Zuma ausente a pedido da família

Centenas de sul-africanos de todas as raças, muitos deles companheiros na luta contra o apartheid, despediram-se nesta quarta-feira na capital Johanesburgo do veterano activista contra o regime segregacionista Ahmed Kathrada, que morreu na segunda-feira aos 87 anos. Jacob Zuma, o Presidente da África do Sul, criticado por "Uncle Kathy" pelos casos de corrupção e abuso de poder, não participou das exéquias a pedido da família.
Entre os presentes ao enterro no cemitério de Westpark estavam a viúva de Nelson Mandela, Graça Machel, e a segunda esposa do falecido presidente sul-africano, Winnie Madikizela-Mandela.
Kathrada, que dividiu cela com Mandela durante seus anos de encarceramento em Robben Island, foi lembrado por seu compromisso inquebrável com a justiça e sua beligerância contra o racismo num País marcado pela discriminação institucionalizada como a África do Sul.
Um dos momentos mais emotivos do funeral foi protagonizado pelo ex-Presidente da África do Sul, Kgalema Motlanthe, que leu a carta em que Kathrada pediu ao actual presidente do país, Jacob Zuma, com quem também dividiu uma cela na prisão, que renunciasse pelo bem do País e de seu partido.
"Se eu estivesse na pele do Presidente, renunciaria com efeito imediato", diz uma das passagens da carta, escrita há quase um ano e na qual Kathrada lembra os casos de corrupção e abuso de poder envolvendo o Presidente.
A leitura da carta, que Zuma jamais respondeu, foi recebida com gritos contra o presidente por boa parte dos presentes, entre os quais se encontravam o actual ministro das Finanças, o vice-Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e outros integrantes de peso do governo críticos a Zuma.
Militante do Partido Comunista desde a sua adolescência, Kathrada uniu-se anos depois ao Congresso Nacional Africano (ANC), que hoje é presidido por Zuma, e passou 26 anos atrás das grades pela suas actividades contra o regime do apartheid.
Após deixar a prisão em 1989, Kathrada foi parlamentar pelo ANC e assessorou Mandela durante a sua presidência. Depois, o activista se dedicou a promover campanhas pela justiça social e contra o racismo à frente da fundação que leva o seu nome.
Kathrada morreu por complicações surgidas em uma cirurgia cerebral, após passar três semanas internado em um hospital de Johanesburgo.
Conhecido pela sua modéstia e excelente educação, Kathrada era uma das reservas morais de maior prestígio e presença na vida pública sul-africana.
Era casado com a ex-ministra e veterana da resistência contra o apartheid Barbara Hogan, que esteve no enterro junto com outro integrante histórico do ANC, Andrew Mlangeni.
Mlangeni tem agora 91 anos e foi, ao lado de Kathrada e Mandela, um dos condenados à prisão perpétua no julgamento de 1964, no qual a Justiça sul-africana os declarou culpados de terrorismo por terem fundado o braço armado do ANC.


A Verdade

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