Friday, 23 September 2016

"Enquanto existirem dois comandos no mesmo Governo, a possibilidade deste País usufruir da paz e estabilidade política são remotas"



EUREKA por Laurindos Macuácua

Cartas ao Presidente da República (24)

Bom dia, Presidente. A sua intervenção, em Washington DC, merece várias interpretações. Eu, pessoalmente, gostei. O Presidente disse que o caminho mais seguro para a paz é a via do diálogo.
Estou aqui a perguntar aos meus botões, como é que acolheram isso os chauvinistas do seu partido? Falo da malta Basílio Monteiro, vice-ministro da Defesa Nacional, que disse que iria ponderar a possibilidade de ceder armas aos antigos combatentes para combaterem a Renamo.
Ou o Basílio Monteiro não sabe quem é o comandante-em-chefe das Forças da Defesa e Segurança, ou, então, existe outro que não seja o Presidente Nyusi. Como é que um vice-ministro da Defesa, pessoa que não é – no comando militar- consultada pelo Presidente para nada, aparece em público a tecer tais comentários? Isto levanos ao princípio: afinal quem manda neste País? Quem é o Presidente da República? Se for o Nyusi, por que não se obedece ao seu comando?
Este Governo tem problemas de comando. O comando presidencial não é obedecido. Por isso que o Presidente negociou o que negociou com o Dhlakama e logo a seguir a Comissão Política desacreditou-lhe. E isto é sintomático em várias decisões que o Presidente tem tentado tomar. Para ser mais concreto, o que se verifica é vazio no poder. O Presidente que elegemos não é capaz de se impor e isso deixa o País a mercê de gaviões.
A meu ver, se existisse, efectivamente, um único comando, sério, cujas decisões fossem vinculativas, muitos dos problemas que afligem o País teriam sido resolvidos. Aos olhos do povo, parece que este voo cada vez que ensaia descolar, algo lhe barra o caminho. Os ensaios são tantos, mas sucessos: zero!
Por isso que temos pessoas, como o senhor Fernando Faustino, a criarem certos focos de desestabilização. São pessoas com ideias belicistas e contrárias às decisões do Presidente da República de dialogar, sempre dialogar, para o alcance da paz.
O Presidente disse, certa vez num jantar que ofereceu ao corpo diplomático acreditado em Moçambique, governantes e outras individualidades que jamais vergará até alcançar a paz efectiva por via do diálogo. Se o seu desejo é esse, deve, portanto, ser vinculativo se pensarmos, de princípio, que o senhor é que é o comandante-em-chefe das
Forças da Defesa e Segurança. Só que nisso há um paradoxo. Porque enquanto o Presidente só fala, há quem, na Frelimo, envia as Forças da Defesa e Segurança à serra da Gorongosa para combaterem a Renamo. Quem é esse desconhecido comandante-em-chefe? Será o Basílio Monteiro? Fernando
Faustino? Alberto Chipande ou toda a Comissão Política?
Enquanto existirem dois comandos no mesmo Governo, a possibilidade deste País usufruir da paz e estabilidade política são remotas. O chefe desse mesmo Governo (Nyusi?) fala sempre de paz, mas no terreno as acções desenvolvidas pelas forças governamentais são de uma autêntica guerra.
Não entendo como é que se fala de paz e estabilidade política, enquanto o mais directo interlocutor para a paz é caçado vivo ou morto. Há qualquer coisa que não está nos eixos. Não sei, palavra de honra, se devo continuar a confiar em políticos…



DN – 23.09.2016, no Moçambique para todos

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