Tuesday, 5 July 2016

Crise e tensão levam portugueses a deixar Moçambique


Ainda não há dados oficiais, mas sabe-se que um número considerável de portugueses saiu de Moçambique nos últimos meses, sobretudo devido às dificuldades económicas. Tensão político-militar também é motivo de receio.




Todas as semanas, às segundas, quartas, sextas e domingos, chegam à capital portuguesa, Lisboa, quatro voos provenientes de Maputo. Na zona das chegadas do Aeroporto da Portela, familiares e amigos esperam pelos passageiros. Em todos os voos, há cidadãos portugueses que chegam para passar férias, mas também outros que estão a deixar Moçambique, em consequência dos efeitos da situação económica difícil naquele país.
Com a crise em Portugal, Carlos Figueiredo, empresário com conhecimentos em marketing, foi para Moçambique em setembro de 2013 tentar a sorte na área da restauração, por intermédio de convites feitos por amigos.
"Fui tentar perceber como é que funciona", recorda, "e saber o que é que se podia fazer e como, qual era a área de negócio mais interessante". Depois de um mês de "prospeção", chegou à conclusão que havia algumas áreas de negócios que eventualmente podia explorar.
Porém, o empresário acabou por confrontar-se com outra realidade. Algumas dificuldades que encontrou no terreno, nomeadamente as condições de trabalho que limitavam as quotas de expatriados nalgumas empresas, determinaram a sua decisão de voltar a Portugal.
"Não fechei nunca a porta de Moçambique, aliás gostei muito da experiência social. Mas se houvesse algumas condições eu voltaria - e não estamos a falar de condições megalómanas", esclarece. Carlos Figueiredo acabou por regressar a Lisboa em dezembro de 2013, onde viria a descobrir uma alternativa na área da formação.



"Emagrecimento" empresarial

Muitos trabalhadores portugueses continuam a deixar Moçambique, tanto por receio da instabilidade político-militar que se vive atualmente nalgumas províncias, por causa do conflito entre as forças governamentais e elementos armados da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o principal partido da oposição, como por razões económicas.
"A situação é débil em termos económicos", confirma Paulo Oliveira, que desembarcou recentemente em Lisboa. "O país está a atravessar um período muito difícil e existe um emagrecimento das empresas, que têm reduzido os seus quadros, quando não é mesmo uma deslocalização total ao ponto de fechar".Segundo o administrador delegado da portuguesa Salvador Caetano, devido à contração do mercado nestes últimos anos, muitas pequenas e médias empresas que acolhiam mão-de-obra estrangeira têm encerrado atividade em Moçambique.


"Interesse português mantém-se"

Geraldo Saranga, cônsul-geral de Moçambique em Portugal, reconhece que o país atravessa momentos difíceis, que se caraterizam por dificuldades de tesouraria do próprio Estado. Explica que o Estado moçambicano, que continua a ser aquele que mais serviços presta, "está neste momento com dificuldades de tesouraria muito sérias" e, por isso, "não tem conseguido honrar os seus compromissos em tempo útil, fazendo pagamentos aos serviços que recebe", tanto públicos como privados.E isso torna mais débil a capacidade das empresas, obrigadas a mudar a sua estratégia por falta de liquidez. No entanto, Geraldo Saranga evita falar de abandono, referindo que o interesse dos portugueses por Moçambique mantém-se, apesar da atual conjuntura.O que se tem registado é uma queda dos fluxos a partir de 2014. "Nos anos de crise estamos a falar de números acima de 10 mil vistos que emitíamos por ano. E quando a situação normaliza, portanto, a partir dos finais de 2014, 2015, voltámos aos 7 mil a 8 mil vistos emitidos por ano. E esse número foi mais ou menos o mesmo que alcançamos em 2015", lembra o cônsul.De acordo com o diplomata, os mais procurados são os vistos de negócios, seguidos dos vistos de visita e de turismo. Saranga recorda o apelo feito pelo chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, na sua recente visita a Moçambique para a manutenção do investimento português: "Cabe aos moçambicanos encontrar a solução para estes problemas, de modo a não desencorajar os investimentos portugueses ".



DW

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