Saturday, 13 June 2015

Renamo recua no uso da força e vai renegociar autarquias provinciais em Moçambique



 O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, recuou hoje na posição do uso da força para tomar governos provinciais no centro e norte de Moçambique e deu um novo prazo para o diálogo com o Presidente moçambicano.
"Vamos insistir na negociação por respeito à democracia", afirmou Afonso Dhlakama, líder da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição, dando um prazo de três dias, a contar a partir de hoje, para começar as negociações da "descentralização do Estado", cobrindo a totalidade das 11 províncias do país, em vez das seis que reivindicava anteriormente.
"Vamos estender as autarquias para as 11 províncias, para evitar equívocos de que queremos dividir o país", disse Dhlakama no final do Conselho Nacional da Renamo, que, na quinta-feira tinha deliberado tomar pela força os governos das seis regiões onde o partido de oposição reclama vitória nas últimas eleições, além da criação de uma polícia e da redistribuição do efetivo militar contra eventuais ataques do Governo.
Na quinta-feira, o mesmo órgão anunciou que iria evacuar e ocupar os edifícios públicos onde funciona o Governo da Frelimo e que aos atuais dirigentes do partido no poder ser-lhes-ia dada oportunidade de escolha, de filiarem-se na Renamo para se manterem nos cargos ou abrirem caminho para a oposição.
Hoje, o presidente da Renamo recuou na ameaça do uso da força e retomou a ideia, que já tinha indicado anteriormente em Nampula, de alargar a proposta de criação das autarquias provinciais em todo o país, seis das quais (Sofala, Tete, Manica, Zambézia, Nampula e Niassa), a serem governadas de imediato pelo seu partido, e as outras cinco a criar depois das eleições gerais de 2019.
Falando no encerramento da reunião de quatro dias do Conselho Nacional, na Beira, Sofala, centro de Moçambique, Afonso Dhlakama disse que seria mal entendido se decidisse "usar armas para forçar as províncias autónomas", acrescentando que vai pressionar a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique, no poder) para "parar com brincadeiras e manipulações".
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, anunciou hoje a preparação de uma nova ronda de contactos com os partidos de oposição.
Sem mencionar a Renamo, Nyusi reiterou a sua disponibilidade para se encontrar com os líderes da oposição e representantes da sociedade civil, "com vista a dar prosseguimento a um diálogo orientado para resultados concretos no domínio da consolidação da paz".
Em resposta, Afonso Dhlakama sustentou que "tem de haver um trabalho de consenso", insistindo que apenas estará disponível para uma nova ronda negocial com o Presidente Moçambicano, Filipe Nyusi, "se a conversa for para dar frutos e pôr a andar o projeto e não para aparecer na fotografia".
Apesar da diferença de tom em relação ao pronunciamento do partido na quinta-feira, Afonso Dhalakama alertou hoje que o braço militar do seu partido vai responder a qualquer provocação do Exército moçambicano, sustentando que a "Renamo é que mantém a paz, traz brilho ao país e atrai investimentos".
Noutro desenvolvimento, Afonso Dhlakama, lamentou o fracasso da desmilitarização do seu braço armado, garantindo que o modelo que a Frelimo exigia tinha apenas o objetivo de "retirar armas à Renamo e depois pisá-la e humilhá-la".
Noutro recuo em relação a outro pronunciamento do partido na quinta-feira, de que a Renamo abandonava as negociações de longo prazo com a Frelimo sobre o desarmamento do movimento, Dhlakama admitiu hoje que o diálogo poderá afinal prosseguir.
No início do seu mandato, Filipe Nyusi avistou-se duas vezes com o líder da Renamo e também com o presidente do MDM (Movimento Democrático de Moçambique), Daviz Simango, e representantes de vários partidos extraparlamentares.
Depois dos encontros entre o Presidente da República e o líder da oposição, a Renamo submeteu um anteprojeto de lei ao parlamento, preconizando a criação das autarquias provinciais em seis regiões do país, mas a proposta foi rejeitada pela maioria da Frelimo.
A iniciativa da Renamo visava ultrapassar a crise política em Moçambique, motivada pela recusa do principal partido de oposição em reconhecer os resultados das eleições gerais de 15 de outubro.

 

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