Wednesday, 3 June 2015

Quem quiser ver, é só subir ao monte”



Anos de conluios e propaganda oficiosa inquinada ofuscam a verdade.
Temos a presente política do país como produto de um emaranhado de posições voltadas para a manutenção do poder. Foi-se laborando ao gosto dos detentores do poder, e estes foram arrastando e atraindo todo o tipo de elementos em sua defesa.
Hoje, ouvimos coisas sensatas e outras disparatadas a respeito dos impasses negociais. Uns estavam à espera de cedências estratégicas para consolidar o seu poder, e outros julgavam que seu interlocutor agia de boa-fé.
Assiste-se à aplicação de preceitos maquiavélicos sem muita convicção ou consequência. Existem muitos participantes ou acompanhantes que cantam hossanas ao “Príncipe” sem se importarem sobre as consequências. Vale o dia de hoje e vale brilhar junto aos que detêm o poder. Quanto ao que pode comprometer e diluir tal poder, é coisa de amanhã.
O advento do pluralismo político foi como que uma cedência temporária para organização da “casa” e “cortar as asas” aos opositores.
Quem fala de poderes democráticos e da necessidade de se respeitarem, está a mentir quando, volta e meia, temos a maioria parlamentar coagida e orientada em votar a favor daquilo que o Executivo controlado pela Comissão Política quer ver estabelecido e executado.
Os propalados ventos da democracia soprando no continente são na verdade uma farsa formal para consumo da opinião pública. Na hora da verdade, são os canhões, gás lacrimogéneo e assassinatos políticos que regem e comandam.
A democracia real e palpável é um pavor para a nomenclatura africana que não perde tempo em coordenar acções, criar alianças e avançar para a repressão da vontade popular.
Moçambique tem vivido uma realidade de falsidades. O diálogo político não é aberto e as partes encontram-se imbuídas de desconfianças por todo um historial de incumprimento de acordos políticos.
Quando se negoceia com base em pressupostos armadilhados e se espera arrastar a outra parte até ao desespero de causa, “encostar à parede”, os resultados são imprevisíveis. A “escola de Maputo” “não dá ponto sem nó”.
O circuito político moçambicano é como que um circo sem graça e com espectadores enfastiados e cansados de tanta mediocridade.
Um parlamento apto a aprovar resoluções para seu próprio benefício com voto unânime, mas lento e incapaz de atender aos assuntos urgentes e estruturantes de todo um povo, não merece o nome de “casa do povo”. O povo vive em casebres e alimenta-se conforme a sorte o ditar. Há uma manifesta incapacidade de “pensar grande e realizar grande”. Temos um parlamento “barriguista” e, mesmo que para lá fossem parar propostas com valor e rigor, propostas defensoras e promotoras da paz e estabilidade, em virtude do voto condicionado dos seus deputados, não teríamos aprovação de coisa alguma.
Pretende-se que a lei deve ser cumprida e o critério de adopção de qualquer entendimento político, mas isso só é feito quando convém a uma das partes. Está aparentemente muito longe dos interlocutores políticos nacionais que a política é que define e determina o sentido das leis.
É desesperante assistir ao arrastar de uma situação que tem todo o potencial de provocar danos irremediáveis à paz, e ver como se comportam compatriotas com responsabilidades políticas inalienáveis. É inaceitável que objectivos e agendas privadas privem milhões de pessoas de paz, justiça, equidade e dignidade.
A informalidade e as negociatas que se transformam a olhos vistos em cultura predominantes têm consequências que lesam o tecido moral e ético de toda uma sociedade. Um país em que tudo serve para configurar uma bolada tem os políticos combinando boladas que lesam milhões de pessoas.
É vergonhoso que “ilustres cidadãos” andem à procura de “pontos e vírgulas”, quando todo um povo espera e anseia por entendimentos conducentes à normalização governativa e da sua vida.
Não se pode transformar o passado, mas é possível trabalhar hoje para que o dia de amanhã seja diferente.
Há razão para se estar preocupado e inquieto face ao desenrolar dos acontecimentos. Os conselheiros das partes estão desfasados no tempo e no espaço.
Quando se impede milhões de pessoas de pensar fora daqueles paradigmas transformados em dogmas que determinam que só é valido o que é elaborado por um “grupo de sábios omniscientes”, estão criadas as condições para o falhanço continuado de toda uma sociedade.
Nem tudo o que alguém de nós saiba ou pense que sabe é certo, e ouvir outros é fundamental. Excluir os outros e circunscrever tudo ao nosso círculo de relações e simpatias acaba por ser redutor e sinónimo de inflexibilidade. Não queremos “pombas falsas obreiras da paz”. Queremos a paz.
Os moçambicanos não querem “pão e circo”, “Tentação e Famashows”, “dubaizitos” e uma casa no complexo do Zimpeto.
Não se advoga a igualdade absoluta, mas sim direitos políticos e económicos iguais, e isso assusta aos “libertadores” e sua fauna acompanhante.
A distribuição do “espólio” entre os “vencedores” está condicionando e complicando posições no tabuleiro negocial.
Transparece que ninguém quer ficar na história como aquele que “entregou o ouro aos bandidos”, quando afinal não há bandidos, mas, sim, moçambicanos que venceram as eleições, e outros que as perderam.
Medidas de controlo de danos executadas por via da manipulação judicial e política, com alto patrocínio do aparato de defesa e segurança são parcial e temporariamente efectivas, mas, a médio e longo prazo, só adiam convulsões sociais e políticas.
E como que a estender o campo de acção e abrangência dos ataques, vemos prelados religiosos sendo recrutados e envolvidos na ofensiva de branqueamento da verdade histórica e política.
A resiliência de todo um povo não será vencida pela orquestração político-judicial nem por “think-tanks” de génese apressada e dogmática.
Nestas alturas, já se deveria ter descoberto que a fórmula da PAZ é superior a instruções de voto ou a decisões de qualquer comissão política de que partido seja.
É erróneo pensar-se ou supor que estão criadas as alianças necessárias e inquebrantáveis para suportar qualquer situação do desentendimento definitivo das partes que negoceiam “surdas e mudas” no CCJC.
O desprezo acentuado pela vontade popular é indisfarçável. Não há “fortes” inexpugnáveis e nenhum Estado, por mais policiado que tenha sido, resistiu à fúria das “ondas do mar” que é o povo de um país.
Poderia ser mais fácil e rápido alcançar um entendimento em sede de negociações, mas parece não haver predisposição para que tal aconteça.
Com os “padres rezando a missa do diabo”, mais difícil vai ser.
Com a comunicação social arregimentada dando primazia à falsidade e inverdades, privilegiando espaço e tempo de antena a caixas de repetição de discos furados, elogiando e propagandeando posições de suposta sabedoria e dons que só ela sabe e consegue ver, temos o barco chamado Moçambique a caminho de encontro a penhascos “aguçados”.



(Noé Nhantumbo. Canalmoz)

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