Thursday, 28 May 2015

O apego ao poder trava um acordo político entre as partes

 

Assessores, conselheiros unem-se para defesa do príncipe.
 Não é de hoje que se trama contra a democracia em Moçambique. Não é de hoje que se dá espaço a apologistas de uma suposta linha correcta. É triste que se arranje uma grande entrevista num canal televisivo público para que alguém claramente ultrapassado pelo tempo venha vociferar a sua intolerância.
Ultrajar e insultar memórias de compatriotas que também participaram na gesta independentista é um acto cobarde e vil, especialmente quando essa figura quer utilizar justificações do tipo “traidor”. Compreende-se que essa permanente lavagem da história sirva como manto para cobrir desumanidades cometidas por pessoas concretas a mando de alguém e instrumentalizadas por alguém. Marcelino dos Santos fala alto, assim como os seus sequazes, porque tem consciência de que o seu “socialismo” falhou e que o seu marxismo-leninismo foi uma utopia abraçada no auge da Guerra Fria. Serviu para passear na Europa romanticamente esquerdista daqueles anos e para alimentar egos na Tanzânia.
Os moçambicanos que viveram nos dolorosos anos do “socialismo” de Marcelino dos Santos sabem e sentiram na carne o que era o domínio dos “camaradas”. A tortura, a deportação, a fome, a morte lenta e anunciada, a proibição pura e simples de manifestação de discordância ideológica, as detenções sem culpa formada, a obrigação de cumprir orientações como se de deuses se tratasse não são invenções de comentaristas.
Possuir a hombridade de reconhecer que se falhou ao tentar-se decalcar modelos e excluindo concidadãos seria um sinal promotor de reconciliação. Mas alguns senhores estão muito longe desse entendimento. Com multi-reformas asseguradas e desfrutando de condições principescas de vida, alguns dos cérebros ou ideólogos da Frelimo tentam a todo o custo subverter mentes e enganar todo um povo.
Assim como o seu “socialismo” se demonstrou inexecutável e inexequível, essa tentativa inglória não enganará os moçambicanos.
Que alguém queira um lugar ao sol ou na Praça dos Heróis em Maputo, que o procure por outra via. Os moçambicanos respeitam os seus heróis vivos e mortos, mas não aceitam heroicidade de boémios empedernidos.
Que alguém se tenha deixado levar por “cantigas” de alegada pureza e rectidão ideológica ou suposta superioridade de um modelo sociopolítico rejeitado na maioria dos países onde se procurou implementar, a culpa não deve ser atribuída aos moçambicanos.
Falar de traição, quando isso sai da boca de quem tem mãos sujas, não cola.
A leviandade crítica prevalecente leva a que se conceda espaço e oportunidade para que pessoas toquem feridas saradas e alimentem ódios antigos. Neste aspecto, o servilismo e autocensura de comunicadores sociais não são de desprezar.
Face à pobreza generalizada e à “busca de pão” por todos os meios, assiste-se a uma prostituição na comunicação social moçambicana. Se uns se arranjam criando ong’s, outros fazem ginástica e golpes de rins para serem elegíveis para mais uma viagem ao estrangeiro, ajudas de custo em visitas de Estado e bolsas de estudo. Propagam a ideia de que a razão está com quem entrevistam e com os “libertadores” envelhecidos. Não se pode discutir o mérito que alguns moçambicanos têm de se terem envolvido e participado na luta de libertação nacional. Mas esse facto não os coloca numa categoria superior de cidadãos.
Quem anda a proclamar heresias de maneira aberta e aplaudida em certos círculos, faz parte de uma estratégia de mudar de actor, mas apresentar a mesma peça de teatro.
Então afinal quem traiu Moçambique? Quem foi que instaurou o capitalismo à revelia dos órgãos do partido Frelimo? Aos outros, acusados de traidores, nem oportunidade de defesa legítima e legal foi dada. Todos os sacrifícios consentidos foram para instaurarem um sistema em que só enriquecem os membros do clube? Não é preciso ser politólogo para concluir que alguma coisa não bate certo nas últimas proclamações de Marcelino dos Santos. Ele é veterano e fundador da Frelimo. Teve o passado que teve, e todos respeitamos isso, mas que ele não tome por parvo todo um povo. Os moçambicanos não são um rebanho de ovelhas obedientes, como algum dia alguém sonhou.
O Estado policial a que se quis dar o nome de socialismo desagregou-se porque não era sustentável. Era odiado pelo povo, que só não falava porque temia ir parar aos campos de reeducação, de que um cidadão de “nomeada” disse que tinha saudades.
É procurar as causas dos impasses no CCJC onde realmente estão. A metamorfose sofrida por alguns dirigentes provenientes do “socialismo moçambicano” não se completou. Não chegaram à fase de insecto perfeito. No fundo, não se conseguem rever na posição de oposição, embora já tenham perdido muitos pleitos eleitorais.
Sem o apoio de certos círculos internacionais, o regime do dia já teria desaparecido por via eleitoral.
A amargura de se verem na oposição na Beira, Quelimane, Nampula, Gurué, de estarem em minoria em algumas Assembleias Provinciais mexe com egos e provoca fúria nalgumas pessoas. Para elas, isso é uma aberração, como nos dizia o expurgado porta-voz.
Existe um substracto cultural, uma complexa questão psicopolítica que tem de ser abordada e tratada de maneira permanente, porque, nalguns casos, configura doença perigosa. Poder nas mãos de incendiários pode ser como entregar tudo a “Neros”.
Basta de submissão a supostos super-homens, que sabemos não passarem de manipuladores e promotores de intrigas.
Queremos ver a reconciliação dos moçambicanos acontecendo todos os dias, de modo prático, visível e honesto. Perdoar é magnânimo e promove a PAZ.
É preciso tratar a questão da comunicação social pública com toda a responsabilidade que o momento exige. Já se teve “Rádio das Mil Colinas”, e conhecem-se os resultados disso.
O parlamento moçambicano tem a responsabilidade de travar ofensivas desestabilizadoras promovidas por sectores “saudosistas” do partido único.
Quem não fiscaliza, também é cúmplice. O silêncio significa compactuar com aquilo que já lesou em demasia este sofrido povo.
Nem o parlamento nem o CCJC resolverão o que está em disputa ou em discórdia, se não houver a coragem política e patriótica de desfazer mitos e abraçar uma moçambicanidade que inclua todos.
Moçambique está mais do que farto de “espertinhos” e de cidadãos de “sangue azul”
Se ainda se discute pensões de reforma de antigos combatentes da luta de libertação nacional, o que andaram fazendo os “libertadores” todos estes anos? Mas gente nascida após a Independência ostenta o estatuto de antigo combatente com a reforma em dia, como se estivéssemos na Coreia do Norte.
Haja vergonha!
Quem disse que não queria o “socialismo à moçambicana” foram os moçambicanos.
Em todos os pleitos eleitorais até aqui realizados têm sido a tónica dominante.
Mesmo depois de tanta lavagem cerebral e da história, os moçambicanos têm sido firmes a defenderem os seus direitos.



(Noé Nhantumbo, Canalmoz)

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