Wednesday, 13 May 2015

Marco do correio, de Machado da Graça

 
Meu caro Juvenal
Espero que estejas de saúde, assim como toda a tua família. Do meu lado está tudo bem, felizmente.
Já do lado do nosso país não sei bem o que te dizer.
Filipe Hyusi continua em presidências abertas, ou visitas de trabalho, como agora lhes chamam, não percebo bem porquê; a chama da unidade continua a saltitar, de distrito em distrito, como acontece com as imagens
milagreiras em países mais devotos; o Governo continua a comprar armas e, chumbando todas as propostas da Renamo, continua a empurrar esse partido para a guerra; a tensão político-militar continua a destruir a indústria do turismo e a pôr em causa os investimentos externos; a Renamo acusa as forças do Governo de hostilizarem os seus homens armados; a Procuradora-Geral da República foi ao Parlamento dizer banalidades, não tocando em absolutamente nada que podesse incomodar o Governo/Frelimo; e eu tenho a fortíssima sensação de já ter visto este filme. E de não ter gostado nada.
Se bem recordo, a última vez que vi este filme acabámos com o traiçoeiro ataque a Sandjundjira, com colunas militares na EN 1 e com sangue de moçambicanos a correr, em grandes quantidades, pelo Centro do país.
E pergunto a mim próprio porque é que isto está a acontecer de novo. Será que Filipe Nyusi não percebeu que hoje é Presidente do partido
Frelimo porque a sociedade moçambicana e o seu próprio partido estavam totalmente fartos da governação de Guebuza e que, mantendo-se agarrado a ela, está a trazer para cima da sua cabeça a mesma repulsa?
Como respostas vejo duas possibilidades:
Ou Filipe Nyusi anda completamente perdido, sem saber o que há-de fazer do cargo que lhe caiu ao colo..
Ou Filipe Nyusi está consciente dos problemas e perigos que esta política acarreta mas continua a não ter força para a abandonar e seguir o seu próprio caminho. Ou porque Guebuza continua determinante nas decisões do partido, ou porque o pensamento de um seu novo (eventual) mentor é igual ao do anterior “filho mais querido da nação”, com algumas variantes geográficas e culturais.
De qualquer forma, o facto de o partido Frelimo continuar a fechar todas as portas que a Renamo tenta abrir parece-me uma atitude suicida para o país.
Como acontece demasiado frequentemente, espero estar enganado. Até aqui não me tenho enganado, infelizmente...


Um abraço para ti do
Machado da Graça,
Correio da manhã, 12/05/2015

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