Saturday, 25 April 2015

Presidente Nyusi e o discurso camaleónico

 
Os ventos da mudança sopram e já aquecem o discurso do Presi­dente Nyusi. Desde o último Comité Central da Frelimo, onde o Presidente da Repúbli­ca foi eleito pelos camaradas, com quase 100% dos votos, para a direcção do partido, que o seu tom discursivo fez acrobacias e assumiu novas cores.
Quando, a 15 de Janeiro úl­timo, tomou posse na Praça da Independência, fez um dis­curso cor-de-rosa que corou os rostos dos moçambicanos, alimen...
tado a esperança de uma nova página na História do país. Era a força do verde. Até os mais cépticos perderam o fôlego da crítica e deram-lhe um voto de confiança. Entrou para o período de graça, onde o bicefalismo do poder - de Guebuza, no partido, e o seu, no Estado - lhe rendeu mais elogios e apoios. Era inatin­gível, era a vítima do Estatuto do seu partido.
Na noite de 29 de Março, depois de eleito presidente da Frelimo, uma nova página ver­dadeiramente se abriu; com continuidade das acções, mas também com sinais de afirma­ção de uma liderança parcial­mente divorciada dos compro­missos de 15 de Janeiro, dia da sua investidura como Pre­sidente da República.
Vejamos:

Antes do Comité Central, o Presidente Nyusi teve en­contros humildes com Afonso Dhlakama, cumprindo a sua promessa de saber ouvir ideias discordantes. Como resulta­do, remeteu para a Assem­bleia da República a propos­ta da Renamo de autarquias provinciais. Depois do Comité Central, porém, encarnou os membros da Comissão Po­lítica que, em reacção à sua decisão, tinham, no passado, pregado pelo país a recusa da proposta da Renamo. Hoje, antes mesmo da proposta ir a debate, a recusa vem dele pró­prio.
Quando tomou posse, Nyu­si foi categórico: “Podem estar certos, caros compatriotas, que tudo farei para que, em Moçambique, jamais, irmãos se voltem contra irmãos, seja a que pretexto for”. Hoje, so­mos surpreendidos com um discurso que impõe limites aos esforços para garantir e consolidar a Paz.
No discurso de investidura, Nyusi disse que o povo era o seu “único e exclusivo patrão”. Mas, hoje, não ouviu o patrão - através dos representantes do povo - para saber se deve ou não ajoelhar-se pela Paz.
São estes os sinais de mu­dança que nos fazem ques­tionar: que outras promessas podem vir a ser quebradas? Ainda assim, passam apenas três meses de governação, pelo que ainda estamos no auge da confiança, mas não podemos deixar de expressar esta pluma de preocupação que se levanta da almofada onde nos queremos deitar com a tranquilidade de que, em Moçambique, vale a pena viver.

Olívia Masango

O PAÍS , 24/04/15

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