Monday, 16 March 2015

QUEM TEM MEDO DO PENSAMENTO AUTÓNOMO?


 Por: Milton Machel

“Primeiro insultaram-no pelas suas ideias, chamaram-lhe nomes, depois duvidaram até da sua formação e especialidade académica, mesmo com a produção intelectual que deixa um inegável registo do seu conhecimento como jurisconsulto e agora retiraram-lhe o direito à vida. Se isso não é um país mergulhado em trevas e barbárie, então me digam o que é. Descanse em paz, colega e compatriota Giles Cistac.”

As palavras, assim simples como translúcidas são de um académico, vertical, frontal e íntegro. São de José Jaime Macuane, que tal como Gilles Cistac orienta a sua vida por valores e princípios para uma ética e praxis pública cada vez mais rarefeitas na atmosfera pensante Moçambicana: da honestidade intelectual, da liberdade do pensamento com ciência, num tempo em que a propaganda a soldo de um regime senil de ideologia e em menopausa de ideais difundem uma doxa gravemente grávida de intolerância.

 

Os templários guardiões da Moçambicanidade de Gema


 
Aquelas palavras são a mais sincera crónica de um crime que nos últimos anos tem sido praticado em directo, nos canais de televisão, nos jornais e na rádio pública acolitados ao poder. Se multiplicarmos as ideias e pensamentos plurais e diferentes que habitam nas mentes descolonizadas e libertadas deste país, havemos de registar aquele crime em directo como um genocídio praticado contra o Estado de Direito e Democrático.
Aquelas palavras de José Jaime Macuane foram escritas no mesmo fórum onde o constitucionalista foi alvo, em sede primário, do assassínio de carácter: o Facebook. Rede cibersocial na qual todas as virtudes e vicissitudes de uma sociedade democrática, aberta e livre são magnificadas, o Facebook é aassembleia popular onde indivíduos e grupos patrocinados pelos Ayatollahs do regime em indisfarçável estado de emergência acusam, insultam, desqualificam e estigmatizam o pensamento livremente expresso contra todas as ortodoxias.
São indivíduos mascarados, que sob o manto de falsas identidades como as de Abel Mabuko, Pregadori du Dizertu, Mahembas Simango, Calado Calachnikov destilam todo o fel contra aqueles que eles elegeram como inimigos da ditosa Unidade Nacional e da genuína Moçambicanidade de que se arvoram templários guardiões.
São indivíduos que sob a protecção institucionalizada em jornais cozinheiros, serventes e mendigos da grande mesa do poder multiplicam-se em pseudónimos quais Mirla das Dores, Luís Orlando Sadina, Jossias Maluleque entre vários outros e que em nome de uma pretensa nacionalidade genuína utilizam o argumento da pigmentação da pele, da naturalidade e do nativismlanges de apoio na sua cruzada contra a opinião diferente, contra o pensamento esclarecedor e desmistificador dos seus dogmas.

Os OVNIs do ciberespaço

Camarada dos tele-evangelistas do regime publicamente denunciados como G40, Calado Calachnikov é a identidade encapuçada a partir da qual se premiu o gatilho do assassínio de carácter de Gilles Cistac e de outros mais cidadãos moçambicanos cujos pecados originais são a cor da pele mais clara, o pensamento contrário ao do regime e a coragem de expressar esse pensamento sem medo de qualquer represália.
É sintomático que Calado seja o nome próprio e Kalachnikov (como a arma soviética símbolo da nossa bandeira) o apelido de um dos OVNIs (Objectos Voadores Não Identificáveis) que os Ayatollahs do regime deram licença para navegarem como supernovas pelo ciberespaço das redes sociais. Autêntica vuvuzela que pretende ensurdecer ouvidos limpos pelo cotonete da tolerância e calar vozes dissonantes do coro bajulador do estabelecimento,
Calado Kalachnikov fez do Facebook arma para o linchamento de Gilles Cistac. Calado Kalachnikov ou o(s) cobarde(s) que se escondem por detrás desta falsa identidade aprenderam da escola de Adolf Hitler e do Nacional Socialismo Germânico que a propaganda é uma arma poderosa.
Acto contínuo, fizeram do Facebook e do WhatsApp instrumentos letais de incitamento à solução final, seguida a preceito por um presumível bando dos quatro ainda a monte.
Mas, afinal, o que são Calado Calachnikov, Jossias Maluleque, Mahembas Simango, Abel Mabuko, Pregadori du Dizertu, Mirla das Dores, Luís Orlando Sadina e o bando dos quatro que premiram do gatilho final?
No dia em que foi assassinado Gilles Cistac, reuniram-se espontaneamente no pátio do Hospital Central de Maputo vários advogados, juristas e activistas dos direitos humanos, pensadores independentes e tributários do espírito de ciência e crítico característico de Gilles Cistac. Nota de rodapé: Teodoro Andrade Waty, Professor Catedrático de Direito como Gilles Cistac, foi a única figura ligada ao regime que se fez presente ao HCM, para se solidarizar com a família e correligionários de Cistac. Waty é político, intelectual e académico com posições públicas muitas vezes diversas da do assassinado constitucionalista. É o elogio da diferença!
Um daqueles advogados, seguidor das peugadas de Cistac nas disciplinas de direito administrativo e constitucional, avançou com uma interessante explicação deste fenómeno:
“Não passam de insectos!”. Insectos sem cérebro cuja única ciência que conhecem é a de matar.

Cães de reserva, sem dono?

Quentin Tarantino, realizador de cinema norte-americano cultor de policiais onde jorra muito sangue e abundam gangsters cuja razão de ser é matar ou morrer, talvez os considerasse Reservoir Dogs. São Cães de Reserva ou, em bom rigor, Cães de Aluguer, que se reproduzem de época em época e são chamados ao activo, quando o regime que seus donos defendem se acha questionado por incómodos como Carlos Cardoso e Siba-Siba Macuácua, Orlando José e Gilles Cistac. São cães de aluguer, cheios de raça como os multicolores cães de Quentin Tarantino em Reservoir Dogs.
O que representam, afinal, estes cães de aluguer? Eles representam o medo, prestam tributo ao medo da diferença, são contra o pensamento com ciência de que Gilles Cistac era cultor, representam uma identidade assassina da alteridade e da diferença, estão possuídos de medo do pensamento autónomo e autonomizante das mentes e das atitudes do povo.
O que pretendem estes cães de raça, cães de caça? Pretendem difundir medo que lhes infunde o exercício da liberdade de pensamento, de expressão de um pensamento crítico ao Status Quo. Pretendem instituir “um retrocesso civilizacional atroz”, como diz Gilberto Correia, o combativo ex-Bastonário da Ordem dos Advogados.
Será que querem promover o segundo encerramento da Faculdade de Direito da UEM, onde Gilles Cistacera um dos principais responsáveis pela área científica? Encerrar a Faculdade de Direito não requer decreto ou ordem de quem de direito, é só matar a liberdade de pensamento, basta matar a ciência, carece apenas de promover a autocensura, algemar as consciências. “Encerrar” a Faculdade de Direito é encerrar a liberdade académica e colonizar as mentes pelo Império ditatorial do Medo.
Será que querem sequestrar a iniciativa do Presidente Filipe Nyusi? Se os mandatos democráticos de Chissano foram manchados de sangue de Cardoso e Siba-Siba e o mandato de Guebuza viu suas mãos serem sujas pelo sangue de Orlando José, por que não promover um baptismo de sangue a Filipe Nyusi e avisar que não pretendem um Presidente Autónomo do velho poder enlaçado entre o gangsterismo e a Nomenklatura?
Mas, afinal de contas, quem são os donos destes cães?

  SAVANA, 6 de Março 2015

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