Monday, 30 March 2015

Damião José e o G40: a pista que mora à vista de todos


Como jornal, recusamo-nos definitivamente a fazer parte da agenda de entorpecimento que visa fazer-nos esquecer do assassinato bárbaro de Gilles Cistac e as responsabilidades que a Frelimo, o partido no poder, tem no caso. A entrevista de Damião José ao jornal “Notícias”, reproduzida por nós na semana passada, é, em si, um bom ponto de partida para se apurar os autores morais do bárbaro e cobarde assassinato do professor e constitucionalista Gilles Cistac.
Damião José foi a voz do enunciado de perigo de morte emitido pelo partido Frelimo contra Gilles Cistac. Foi Damião José que disse que a Frelimo já estava cansada de Gilles Cistac. Foi Damião José, em representação da Frelimo, que admirou a coragem de Gilles Cistac em afrontar aquela organização partidária.
Foi Damião José, em representação do partido Frelimo, que perguntou se, caso Gilles Cistac estivesse na Argélia, teria tamanha ousadia em colocar em causa os desejos do partido no poder. Portanto, todos os avisos de que Gilles Cistac estava a pisar terrenos onde, inconstitucionalmente, não devia, foram dados pelo partido Frelimo.
Depois do linchamento público de cunho racista promovido pelo G40, através das tribunas do partido Frelimo de propagação do ódio e do racismo, nomeadamente, a Rádio Moçambique, Televisão de Moçambique, o jornal “Notícias”, a Agência de Informação de Moçambique, o “Diário de Moçambique” e outra imprensa controlada pelo regime, a Frelimo decidiu aparecer para encerrar a campanha com um aviso final lido por Damião José.
Foi tudo muito bem programado, até ao pormenor. Tudo segue uma linha lógica de hierarquização da actuação. O G40 não foi suficiente para provocar medo a Cistac, houve a necessidade de uma reunião da Comissão Política, que acabou em comunicado lido por Damião José.
Tal como disse o Prof. Lourenço do Rosário, em vocábulos mais acutilantes e próprios, os “cachorros” só saíram para espalhar racismo e ódio contra Gilles Cistac porque cumpriam uma ordem. Uma ordem que havia sido derrotada no campo jurídico.
Em nenhum momento a Comissão Política do partido Frelimo reuniu para anunciar que o racismo, o ódio e a intolerância que estavam a ser pregados contra Gilles Cistac não o caracterizavam como partido do Governo.
Todos os gestores dos órgãos TVM, “Notícias”, AIM, “Diário de Moçambique” e RM são uma espécie de serviçais do partido Frelimo. Fazem todo o tipo de barbaridades em nome desse partido. Até há bem pouco tempo, todos eles eram serviçais de Edson Macuácua. Faziam tudo o que Edson Macuácua e Gabriel Muthisse mandavam, na sua qualidade de ideólogos do G40.
Portanto, existem elementos mais do que suficientes para se apurar quem eram os mais interessados no silêncio de Gilles Cistac. E isso não carece da Interpol.
Os dois líderes do G40 e Damião José só precisam de dizer à Procuradoria-Geral da República ou à Polícia de Investigação Criminal ou seja lá a quem for quais foram os métodos que usaram para a concretização de um sonho antigo, que era silenciar o “incómodo”, “ingrato” e “hipócrita” Gilles Cistac. Só isso. Porque o seu maior interesse foi consumado. Acabou Cistac. Que nos digam agora que meios usaram para finalizar o trabalho.
Mais: já que a nossa Procuradoria é muito zelosa, que até foi capaz de mandar prender por duas vezes António Muchanga, por declarações de “incitação à violência”, e chamar o Prof. Castel-Branco por “abuso ao chefe do Estado”, bem que poderia mandar prender todo o G40, os seus dois líderes e Damião José, porque estes foram mais claros nas suas mensagens de perigo de morte.
Armando Guebuza foi capaz de organizar uma reunião do Conselho de Estado para mandar prender António Muchanga, num passado muito recente. Deu também ordens para um processo contra Castel-Branco. Se calhar, nos casos acima citados, o mote foi muito mais insignificante do que as declarações de Damião José e dos membros do G40. O presidente do partido Frelimo, o mais interessado no desembaraço do “incómodo” chamado Gilles Cistac, devia, no mínimo, ser interrogado, para explicar aos moçambicanos como é que alcançou a proeza de se ver livre de Cistac.
Pensamos nós que, por uma questão de uniformização de métodos e da defesa do tal Estado de Direito Democrático que ontem invocaram para a prisão dos enteados da pátria, pode-riam usar os mesmos mecanismos para prender todo este rol de suspeitos que aqui referimos.
A Procuradoria-Geral da República foi capaz de mandar uma carta ao “Canal de Moçambique” para que entregássemos a publicação do Prof. Castel-Branco, como se fossemos nós os donos do Facebook, mas não consegue notificar o G40, que é o autor da campanha “Vamos matar Cistac e outros brancos”. Esta nossa Procuradoria e a forma de fazer justiça são a fotocópia autenticada da vergonha e uma manifestação material do retrocesso civilizacional.





(Editorial, Canalmoz)

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