Wednesday, 25 February 2015

MARCO DO CORREIO, por Machado da Graça

 
Meu caro Julião
Espero que estejas de saúde bem como toda a tua família. Do meu lado está tudo bem, feliz­mente.
Os encontros entre Afonso Dhlakama e Filipe Nyusi desanuviaram um bocado a tensão que se estava a tornar cada vez mais pesada, no país, com o risco iminente de uma nova confrontação armada.
E alguma coisa de muito substancial Nyusi terá prometido a Dhlakama a ponto de ele ter cedido em permitir aos deputados do seu partido tomarem posse na Assembleia da República e nas assembleias provinciais.
Segundo Dhlakama, a promessa terá sido de que uma proposta da Renamo para a criação de províncias autónomas passaria na Assembleia da República sem ser chumbada pela maioria parla­mentar do partido Frelimo.
Ora a campanha de propaganda que está a ser feita por brigadas do partido Frelimo envia­das às províncias e pelos habituais papagaios do G40 está toda virada no sentido contrário. Isto é, negando a possibilidade das províncias autó­nomas como solução para a presente crise que se seguiu à fraude eleitoral. O que está, de novo, a fazer subir a tensão e o tom das declarações de Afonso Dhlakama.
 Partindo da sensação que a Renamo tem de que, se não fosse a fraude, teria ganho as eleições, aquele partido quer governar. E tem vindo a fazer propostas de formas de partilha do poder como foi o caso de um governo de gestão. Mas essas propostas foram sendo recusadas por Armando Guebuza, na altura Presidente da República.
Neste momento não sabemos ao certo o que o novo Chefe de Estado terá prometido a Dhlakama mas, tenham sido quais fossem as promessas o partido Frelimo, ainda dirigido pelo mesmo Ar­mando Guebuza, não parece disposto a cumpri­-las.
O que nos coloca de novo numa posição de pré-confronto armado, com Dhlakama a afirmar que a Renamo vai governar a bem ou a mal e a ameaçar que, desta vez, o sangue vai correr em Maputo.
Problema sério da tal bicefalia de que se fala, se uma cabeça pretende chegar à paz e a outra continua a empurrar para a guerra. E esta se­gunda tem, pelo menos em termos teóricos, mais força do que a primeira.
Um abraço para ti do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ – 24/02/15

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