Wednesday, 7 January 2015

MARCO DO CORREIO, por Machado da Graça

 
Olá amigo Juliano
Espero que tenhas entrado bem neste novo ano. Eu entrei bem....
Quem parece não ter entrado nada bem em 2015 foi este nosso pobre país, mais uma vez posto perante a perspectiva de uma nova guerra civil.
Na verdade, do lado do Governo parece que esta­mos na maior normalidade, que o novo Parlamento e o novo Presidente da República vão tomar posse sem quaisquer problemas.
Só que, do lado da Renamo, as afirmações de que não vão permitir que isso aconteça sobem, todos os dias, de tom.
No seu primeiro comunicado de 2015, a Renamo afirma que “usará todos os meios ao seu alcance para que a vontade popular, expressa pelo voto, seja respeitada”. Ora, na interpretação do partido de Afonso Dlakama, a vontade popular expressa foi de que deviam ser eles a governar.
Ora os meios ao alcance da Renamo são des­conhecidos mas adivinham-se poderosos, quer em homens armados, no mato, quer em multidões de apoiantes, nas cidades. E isso pode ser de muito mau agoiro para o país, se as duas partes não se conseguirem entender.
Manifestando a esperança de que as coisas ain­da se resolvam a bem o partido da perdiz afirma que enviou já o seu projecto de “governo de gestão” ao Governo para que seja debatido em termos das conversações no Centro Joaquim Chissano. E o fac­to de as duas partes se terem encontrado nesta segunda-feira pode ser um bom sinal.
Muitos amigos nossos estão a reagir a esta situ­ação criticando a Renamo por estar a ameaçar com a violência, uma vez mais.
Mas eu recordo o que disse, uma vez, Bertolt Brecht, o grande dramaturgo alemão:
“Do rio que tudo arrasa, diz-se que é violento.
Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem.”
Ora a verdade é que a Renamo esperou até que se esgotassem completamente todas as possibili­dades legais de lhe ser feita aquilo que considera Justiça. Mas os órgãos eleitorais praticaram uma fraude de que, muito provavelmente, nunca sabere­mos o tamanho, e o Conselho Constitucional, apesar de provas evidentes dessa fraude, deu a sua bênção aos resultados apresentados por uma Comissão Nacional de Eleições comprovadamente mentirosa. E isso, para mim, é violência. É a tal violência de que fala Brecht.
Por outro lado, a Renamo acusa o Governo de estar a mandar tropas, em grandes quantidades e incluindo mercenários angolanos e zimbabweanos, para as províncias em que ganhou.
Não faço ideia até onde é verdade tudo isto, mas a sensação que prevalece é que estamos a avançar, de novo, para a confrontação armada de duas for­mas de violência.
E de que Armando Guebuza, que recebeu um país em paz, se prepara para sair do cargo, de novo, com as mãos manchadas de sangue de moçambicanos.
Um abraço para ti do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ – 06.01.2015

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