Wednesday, 10 December 2014

MARCO DO CORREIO, por Machado da Graça


Olá António
Espero que estejas bem de saúde, assim como toda a tua família. Do meu lado está tudo bem, felizmente.
Só que, mais uma vez, com a sensação de que estamos a caminhar, de novo, para o desastre.
Estamos perto do prazo para o Conselho Consti­tucional emitir o seu acórdão sobre os resultados das eleições e tudo leva a acreditar que ele irá validar as vitórias do partido Frelimo e de Filipe Nyusi. Com mais ou menos citações em latim...
Entretanto, no Centro e Norte do país milhares de pessoas continuam a comparecer nos locais dos comícios de Afonso Dhlakama e o tom das interven­ções endurece de dia para dia.
A proposta do dirigente da Renamo de um go­verno de gestão negociado, que poderia ser uma saída pacífica para o impasse, é liminarmente negada pelo Governo e pelo partido Frelimo.
Como contrapartida é feita uma, pouco subtil, proposta de comprar Dhlakama com um título me­ramente protocolar e a possibilidade de decidir o seu próprio salário e mordomias. No entanto, retira-se da proposta o único ponto verdadeiramente político que era a obrigação de o Chefe de Estado o consultar previamente em questões de importância nacional.
Perante isto o que nos resta?
Ou a Renamo engole, mais uma vez, o sapo e dei­xa a Frelimo e Nyusi governarem ou, pelo contrário, recorre a meios que podem ir da desobediência civil até a uma nova guerra civil, passando por manifes­tações mais ou menos violentas.
E as multidões que recebem Dhlakama podem estar a animá-lo para seguir esta segunda via. O que pode significar muito maus tempos para o país.
Mas, do lado governamental, parece que ninguém está a equacionar todos estes aspectos. Tendo espe­zinhado a lei eleitoral, as instituições governamen­tais abrigam-se agora por trás das várias leis para tentarem impor a aceitação dos resultados eleitorais, em grande medida fraudulentos.
Não estou a ver uma saída pacífica para esta situação e, se se instalar a desordem em todo o país, aí sim veremos o que é a anarquia. E não gos­taremos nada.
Um abraço para ti do
Machado da Graça


 CORREIO DA MANHÃ – 09.12.2014

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