Aparentemente, num futuro muito próximo, o país vai passar a ser dirigido por um elemento da oposição, oriundo das fileiras da organização que está no poder. Pelo menos esta é a conclusão a que se chega, quando se assiste à actuação dos ilusionistas
Qualquer pessoa que já tenha assistido a meia dúzia de episódios de alguma série policial na televisão, já conhece aquela cena do “polícia bom” e do “polícia mau”. O polícia mau faz ameaças, é arrogante e arruaceiro; o polícia bom é bem-falante, é moderado e dialogante. O polícia mau fala mais ou menos assim: “Se não fizeres o que nós queremos, nós acabamos contigo. Nós é que somos o poder”. Depois, sai da sala. Logo a seguir, entra o polícia bom e fala mais ou menos assim: “Não ligues ao meu colega. Ele é da velha guarda, já está ultrapassado. Eu estou aqui para te ajudar. Basta tu quereres. Vais ver que, se colaborares connosco, vais-te sentir mais bem-disposto e até ganharás prestígio, depois é que vais sentir os benefícios. Isto é um processo, compreendes?”.
Ou aquela instituição é boa, e o polícia mau é um infiltrado, que está a agir contra os interesses da organização, ou aquela instituição é má, e o polícia bom é um infiltrado, que está a agir contra esses mesmos interesses. Ou a instituição não é boa nem é má. Tem uma finalidade. Tem um objectivo. E todos os que lá estão dentro é porque lá querem continuar, e trabalham para esse mesmo objectivo.
E é aqui que entram em cena os ilusionistas, As historietas sobre uma “ala dura” e uma “ala moderada” ou uma “ala radical” e uma “ala dialogante” não são mais do que a transposição da cena do “polícia bom” e do “polícia mau” para aplicação na política, a fim de produzir truques de ilusionismo. E esta manobra só não pode ser considerada demasiado infantil, porque as crianças são geralmente mais dotadas de imaginação do que estes maduros ilusionistas.
A aflitiva pobreza de imaginação destes ilusionistas revela-se também no facto de que a sua conversa é a cópia integral da mesma conversa de há dez anos: “desta vez é que é”, “agora é que vai ser”, “combate à corrupção”, “luta contra a pobreza”, “qualidade da educação”, bláblá… bláblá… quá… quá… quá… Conversa para patos! E a conversa até é rentável, porque há sempre patos ansiosos por acreditar nestas patacoadas.
Este truque de ilusionismo é conhecido como a “técnica do balão de oxigénio”: quando o paciente já esteja a sentir-se demasiado asfixiado, e eventualmente prestes a rebelar-se, injecta-se-lhe mais uma dose de aldrabices no cérebro, para que ele fique serenado por mais cinco anos, à espera de melhores dias. O que é preciso é ir sempre tentando ganhar mais algum tempo,
A invenção das “alas” é uma obra de engenharia ideológica que tem um objectivo bem definido: fazer crer que a solução vem de dentro da organização que está no poder e que a alternativa para essa organização é ela mesma. É a estratégia de eternização no poder, disseminada por ilusionistas que se movimentam nos círculos desse mesmo poder e que querem a todo o custo evitar perder as benesses que o poder instalado lhes proporciona. Por isso não é de admirar que o discurso produzido pelos ilusionistas coincida inteiramente com o discurso produzido pela inventada “ala benigna”, também designada pelos ilusionistas como “reserva moral” da organização. Que essa “moral” é reservada, isso nota-se bem. É tão reservada, tão reservada, que nunca se viu que tivesse produzido alguma alteração no rumo da organização.
A invenção das alas é uma manobra de diversão, que visa desviar a atenção dos cidadãos daquilo que é o problema essencial: como se libertar do jugo daqueles que transformaram um país inteiro em sua propriedade privada.
Há apenas um vislumbre de imaginação diminuta da parte dos ilusionistas, e que consiste numa tentativa patética de modernização da teoria das alas, passando, agora, a falar-se na existência de duas organizações dentro da mesma organização.
Toda a organização cerrou fileiras em torno do seu candidato durante a campanha eleitoral. Toda a organização se desdobra em elogios ao candidato dito eleito. E aparecem os ilusionistas a dizer que ele representa certos sectores da organização que querem fazer agora as mudanças que nunca quiseram fazer antes. Devem ser uns sectores muito secretos, porque ninguém consegue ver esses sectores, e só os ilusionistas é que sabem da sua existência.
Estes passes de magia exibidos pelos ilusionistas pretendem fazer desaparecer da vista dois factos elementares. Primeiro: o candidato dito eleito foi designado dentro da sua organização por quem tem o poder real dentro dela. Segundo: no dia em que ele der algum passo contrário aos interesses daqueles que sempre têm comandado a organização e que vão continuar no comando da mesma, o candidato então já empossado é enviado para férias vitalícias.
Entre os ilusionistas em geral, existe um tipo especial de ilusionistas. Este tipo de ilusionista é parente de uma certa espécie de camaleão, não aquele camaleão que muda de cor conforme o ambiente dominante, mas um tipo de camaleão que exibe várias cores ao mesmo tempo. É mais do tipo gala-gala, sempre desejoso de subir.
São aqueles ilusionistas que vão fazendo umas críticas “construtivas”, vão dizendo que parece que o processo eleitoral foi decepcionante, e depois acabam a saudar o candidato que foi nomeado como vencedor por um grupo especial de dez cidadãos designados para cumprirem essa exacta missão, a até oferecem umas sugestões de “boa governação” ao candidato, como se ele estivesse lá para isso.
No fundo, estes ilusionistas alimentam em si a secreta esperança de um dia poderem vir a ocupar uma cadeira naquela mesa situada na tribuna do banquete das quizumbas.
Qualquer pessoa que já tenha assistido a meia dúzia de episódios de alguma série policial na televisão, já conhece aquela cena do “polícia bom” e do “polícia mau”. O polícia mau faz ameaças, é arrogante e arruaceiro; o polícia bom é bem-falante, é moderado e dialogante. O polícia mau fala mais ou menos assim: “Se não fizeres o que nós queremos, nós acabamos contigo. Nós é que somos o poder”. Depois, sai da sala. Logo a seguir, entra o polícia bom e fala mais ou menos assim: “Não ligues ao meu colega. Ele é da velha guarda, já está ultrapassado. Eu estou aqui para te ajudar. Basta tu quereres. Vais ver que, se colaborares connosco, vais-te sentir mais bem-disposto e até ganharás prestígio, depois é que vais sentir os benefícios. Isto é um processo, compreendes?”.
Ou aquela instituição é boa, e o polícia mau é um infiltrado, que está a agir contra os interesses da organização, ou aquela instituição é má, e o polícia bom é um infiltrado, que está a agir contra esses mesmos interesses. Ou a instituição não é boa nem é má. Tem uma finalidade. Tem um objectivo. E todos os que lá estão dentro é porque lá querem continuar, e trabalham para esse mesmo objectivo.
E é aqui que entram em cena os ilusionistas, As historietas sobre uma “ala dura” e uma “ala moderada” ou uma “ala radical” e uma “ala dialogante” não são mais do que a transposição da cena do “polícia bom” e do “polícia mau” para aplicação na política, a fim de produzir truques de ilusionismo. E esta manobra só não pode ser considerada demasiado infantil, porque as crianças são geralmente mais dotadas de imaginação do que estes maduros ilusionistas.
A aflitiva pobreza de imaginação destes ilusionistas revela-se também no facto de que a sua conversa é a cópia integral da mesma conversa de há dez anos: “desta vez é que é”, “agora é que vai ser”, “combate à corrupção”, “luta contra a pobreza”, “qualidade da educação”, bláblá… bláblá… quá… quá… quá… Conversa para patos! E a conversa até é rentável, porque há sempre patos ansiosos por acreditar nestas patacoadas.
Este truque de ilusionismo é conhecido como a “técnica do balão de oxigénio”: quando o paciente já esteja a sentir-se demasiado asfixiado, e eventualmente prestes a rebelar-se, injecta-se-lhe mais uma dose de aldrabices no cérebro, para que ele fique serenado por mais cinco anos, à espera de melhores dias. O que é preciso é ir sempre tentando ganhar mais algum tempo,
A invenção das “alas” é uma obra de engenharia ideológica que tem um objectivo bem definido: fazer crer que a solução vem de dentro da organização que está no poder e que a alternativa para essa organização é ela mesma. É a estratégia de eternização no poder, disseminada por ilusionistas que se movimentam nos círculos desse mesmo poder e que querem a todo o custo evitar perder as benesses que o poder instalado lhes proporciona. Por isso não é de admirar que o discurso produzido pelos ilusionistas coincida inteiramente com o discurso produzido pela inventada “ala benigna”, também designada pelos ilusionistas como “reserva moral” da organização. Que essa “moral” é reservada, isso nota-se bem. É tão reservada, tão reservada, que nunca se viu que tivesse produzido alguma alteração no rumo da organização.
A invenção das alas é uma manobra de diversão, que visa desviar a atenção dos cidadãos daquilo que é o problema essencial: como se libertar do jugo daqueles que transformaram um país inteiro em sua propriedade privada.
Há apenas um vislumbre de imaginação diminuta da parte dos ilusionistas, e que consiste numa tentativa patética de modernização da teoria das alas, passando, agora, a falar-se na existência de duas organizações dentro da mesma organização.
Toda a organização cerrou fileiras em torno do seu candidato durante a campanha eleitoral. Toda a organização se desdobra em elogios ao candidato dito eleito. E aparecem os ilusionistas a dizer que ele representa certos sectores da organização que querem fazer agora as mudanças que nunca quiseram fazer antes. Devem ser uns sectores muito secretos, porque ninguém consegue ver esses sectores, e só os ilusionistas é que sabem da sua existência.
Estes passes de magia exibidos pelos ilusionistas pretendem fazer desaparecer da vista dois factos elementares. Primeiro: o candidato dito eleito foi designado dentro da sua organização por quem tem o poder real dentro dela. Segundo: no dia em que ele der algum passo contrário aos interesses daqueles que sempre têm comandado a organização e que vão continuar no comando da mesma, o candidato então já empossado é enviado para férias vitalícias.
Entre os ilusionistas em geral, existe um tipo especial de ilusionistas. Este tipo de ilusionista é parente de uma certa espécie de camaleão, não aquele camaleão que muda de cor conforme o ambiente dominante, mas um tipo de camaleão que exibe várias cores ao mesmo tempo. É mais do tipo gala-gala, sempre desejoso de subir.
São aqueles ilusionistas que vão fazendo umas críticas “construtivas”, vão dizendo que parece que o processo eleitoral foi decepcionante, e depois acabam a saudar o candidato que foi nomeado como vencedor por um grupo especial de dez cidadãos designados para cumprirem essa exacta missão, a até oferecem umas sugestões de “boa governação” ao candidato, como se ele estivesse lá para isso.
No fundo, estes ilusionistas alimentam em si a secreta esperança de um dia poderem vir a ocupar uma cadeira naquela mesa situada na tribuna do banquete das quizumbas.
(Afonso dos Santos, Canalmoz)
O pior de tudo é dar título de propriedade à um ladrão que já se sabe de que roubou, chegou ao lugar por manipulação da verdade. Que nome se dá ao que está acontecendo, tentariam apelidar por Justiça? Se é insulto, pedimos por favor que procurem outro nome e atribuam os vossos tribunais, pois que demonstram que não são de Justiça. A Justiça como é altruista, não faria isso, não legitimaria roubo.
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