Wednesday, 8 October 2014

Sondagens, tendências de voto e tiros nos pés



 Quem encomenda sondagens e paga a peso de ouro deveria exigir qualidade

  Já deve haver barulho algures nos centros que receberam encomenda de sondagens, se olharmos para o panorama nacional.
O que era dado como certo parece cada vez mais longe de concretizar-se.
Houve uma tentativa mediatizada de deneg...rir imagens que não está surtindo os efeitos desejados.
Desde “vendetas” a “vinganças”, a assassinatos de carácter, a publicidade enganosa, a biografias rapidamente “paridas”, as contas não estão batendo certo.
A preocupação é visível, e nem a musculatura de um partido histórico consegue disfarçar o mal-estar geral no seu seio.
Afinal sempre tinham razão aqueles que vieram a público defender que havia “alas” na Frelimo. O pensamento monolítico ou uma pretensa coesão não se verificam.
Os esforços de organização de um centro de pensamento ou de disseminação de informação e contra-informação tiveram dias gloriosos, mas nem a arregimentada comunicação social pública “salvou o convento”.
Moçambicanos registam crescimento de entendimento político e aumenta de forma visível a capacidade de fazer críticas e escolhas.
Por mais que se procure “controlar” os resultados eleitorais, induzir ou produzir resultados favoráveis por vias ilícitas, está por demais evidente que os moçambicanos não aceitarão esse tipo de resultados. Aí está o perigo de uma grande localizada ou generalizada em Moçambique.
Assim como Quénia não é Zimbabwe, Moçambique não tem qualquer similaridade com qualquer dos dois países. O pós-eleitoral de Moçambique será genuinamente diferente.
Há um perigo de violência que não se pode desprezar no caso de existência de “batota eleitoral”. Há uma predisposição de impedir que partidos lesados sejam forçados a aceitar resultados “fabricados”. Aquilo que aconteceu em 1994 já não tem condições de acontecer, mesmo que os “doadores” procurem influenciar. Há como que um esgotamento natural dos votantes ansiosos de mudança.
É como uma ideia que se generaliza de que um partido que não conseguiu trazer desenvolvimento ou melhoria na condição de vida de milhões de moçambicanos precisa de ser punido por via eleitoral.
Gente que sempre se escondeu no factor “libertação”, mas que nem aos antigos combatentes conseguiu ser útil, tem razões mais do que suficientes para se sentir preocupada.
Quanto à qualidade das sondagens efectuadas, há que mencionar que a auto-satisfação é inimiga da qualidade. O rigor esperado de uma sondagem efectuada por um centro de estudos universitários fica comprometido quando os executores da sondagem são membros do partido que encomenda. Misturam-se interesses, e a autoproteção relega a verdade para segundo lugar. É preciso dizer algo que não irrite aos chefes. É preciso forçosamente não dar a entender que a vitória não está garantida e que a derrota pode acontecer a qualquer momento.
Entre tendências e sondagens existe uma distância. Agora, que algumas pessoas deram e estão dando tiros nos seus próprios pés está por demais evidente.
Uma das consequências do “culto de personalidade ao líder” é a ausência de critérios de qualidade em muitas das empreitadas efectuadas.
Gente habituada a bajular facilmente mente para manter cargos e mordomias.
Também não se pode ignorar que muitas das instituições de ensino superior do país e os seus centros de pensamento estratégico foram concebidos num quadro em que a forma era mais importante do que o conteúdo. As metas, mostra de que se existia era superior à qualidade da instituição e isso foi-se propagando e produzindo frutos de qualidade precária.
Não se pode negar que houve avanços no país, mas querer pintar o quadro com cores exageradamente vistosas jamais será algo válido, porque as pessoas, os cidadãos, têm “olhos de ver”.
Aquilo que se podia impingir em 1994 mostra-se insustentável e irrealizável nos dias de hoje.
O que parecia fácil e facto consumado já não se mostra tão exequível.
A máquina partidária e a dimensão hierárquica dos apoiantes estão sufocando o candidato. E alguns “camaradas” que estiveram contra a nomeação ou eleição do candidato presidencial da Frelimo devem estar “sorrindo” e saboreando as dificuldades que o seu partido e candidato enfrentam.
Mas na oposição existem dificuldades de vulto, a nível dos recursos materiais e humanos, para além de dissonâncias ao nível de coordenação e concertação estratégica. Ainda não há uma cultura estratégica de construção de coligações para fins eleitorais. Alguma ingenuidade revela-se infantilíssima ao não aproveitar sinergias que acelerariam vitórias.
Algum egocentrismo estará travando agendas vitoriosas e alguns assessores devem estar trabalhando no sentido de inviabilizar coligações frutuosas.
Mas a marcha de Outubro com as características típicas de Moçambique está interessante de seguir e abraçar.
Depois de 15 de Outubro de 2014, Moçambique será outro país, terá um presidente diferente e um parlamento de outro nível e qualidade.
No fim, o vencedor será o povo moçambicano e a derrota será dos falcões e dos situacionistas.
O nível de exigências do cidadãos para com os governantes e deputados será, sem dúvidas, outro.



Noé Nhamtumbo, Canalmoz

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