Tuesday, 15 April 2014

Sinais perigosos vêm do Centro de Conferências



 Já vão quatro semanas que as delegações do governo e da Renamo não conseguem encontrar caminhos que possam ajudar a aproximar os pontos de vista que, por seu turno, poderiam fechar o ciclo da  tensão politico/militar e, em última análise, assegurar condições efectivas e objectivas para a realização de eleições livres, justas e transparentes marcadas para 15 de Outubro.
Duas situações, com a mesma génese, acentuam preocupação de maior parte da população moçambicana e não só. Primeiro, a localização ainda incerta de Afonso Dhlakama e o consequente não registo eleitoral (até hoje). Segundo, o facto de as delegações do governo moçambicano e da Renamo não estarem a registar progressos no Centro de Conferencias Joaquim Chissano. Pior ainda é o facto de a actual situação no chamado “diálogo político” não ser uma situação de estagnação, mas sim de retrocesso e subida exponencial do tom de nervosismo entre as duas alas. No “diálogo político”, há um nervosismo indisfarçável que, a qualquer momento, pode contaminar os homens que de arma em punho estão nas matas, representando também, as duas alas.
É que, se os homens de fato e gravata usaram, no fim da sessão de ontem, termos ofensivos contra a parte contendora, não se pode negar que estamos diante de uma realidade que pode, muito facilmente, contaminar os homens que, nas matas, aguardam apenas um sinal para reacender os disparos e, de novo, impedir a circulação de pessoas e bens ao longo das vias rodoviárias e férreas, além de aumentar o número de centros de refugiados no país, realidades que o país tinha esquecido, lá vão duas décadas.
Pelo sim, pelo não, a verdade é que “as coisas” no Centro de Conferencias Joaquim Chissano, estão a degradar-se se compararmos com as expectativas e cenários desenhados depois do “acordo politico” que culminou com a aprovação de uma nova lei eleitoral.
Mostrando que os nervos haviam subido na mesa de diálogo, José Pacheco, chefe da delegação governamental, chegou, no fim de mais uma sessão improdutiva esta segunda-feira, a dizer claramente que os homens armados da Renamo são “pessoas instrumentalizadas para matar e a destruir o desenvolvimento nacional”.
Em resposta, a Renamo sentenciou que, de agora em diante, não quer mais nada saber, senão a reintegração efectiva dos seus homens expurgados do exército, alegadamente com base em critérios político/partidários.
A leitura que pode ser feita, nesse momento, e que constitui uma grande preocupação é o facto de o governo tentar fazer passar uma imagem pública de que “tudo fez e tudo cedeu” a bem da paz e do entendimento. Em contramão, tenta mostrar o governo, está a Renamo que “quer tudo ganhar à custa da força das armas”. Isto pode significar que, daqui em diante, nada mais o governo vai ceder, tendo em conta o facto de ter conseguido criar a imagem pública de que “tudo cedeu”.
A Renamo, por seu turno, tentou, ontem, abrir o peito e dizer, o que considera “razões de fundo para toda esta situação”.
Diz a Renamo que não é aceitável que “todos” os seus homens tenham sido expurgados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, além do facto de, até hoje, nenhum dos seus homens ter sido incorporado nas forças policiais, alegadamente porque “o governo não quis e impediu deliberadamente que a Renamo tivesse homens na polícia”.
Assim, no fim da sessão de ontem, as partes tentaram exibir, cada uma a seu favor, posições musculadas. Uma musculatura com o significado de que “não há cedência que pode ser feita”. Ou seja, a Renamo exige claramente que o governo aceite paridade nas chefias das forças policiais e militares e, caso contrário, nada feito. Por seu turno, o governo, mostrando discordância absoluta, disse na voz do seu chefe de delegação, José Pacheco, que as exigências são “uma autêntica aberração”.
Portanto, estamos diante de um cenário que se os observadores que acompanham o diálogo e outros intervenientes não agirem rapidamente, pode resvalar para quem tem arma em punho, aguardando um simples sinal para mostrar competências na sua área de actuação, matando e destruindo o que o país levou anos a construir.
Há pois a necessidade de as partes frearem o seu nervosismo, tendo em atenção que, com a guerra, saímos todos a perder e com o entendimento, saímos todos a ganhar .

(fernando.mbanze@mediacoop.co.mz )

MEDIAFAX – 14.04.2014


 



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