Tuesday, 25 February 2014

Uma Frelimo dividida, fraca e medrosa!

Aproximamo-nos apressadamente da realização do conclave partidário que vai decidir, entre várias, a figura a ser confiada a missão de concorrer às presidenciais de 15 de Outubro próximo e a cada dia que passa vão ficando cada vez mais claros e indisfarçáveis os sinais da existência de muitos grupos de interesse no partido Frelimo. É uma realidade, a todos os níveis, preocupante para a Frelimo, tendo em conta a falta de “unanimidade pública” que noutras épocas foi característica da cinquentenária força libertadora do país. É uma falta de “unanimidade pública” que pode, nalgum momento, fragilizar o partido e consequentemente fragilizar o seu candidato presidencial e, por via disso, dar possíveis espaços de avanço a outros grupos partidários concorrentes.
Em jeito de preparação da grande reunião partidária, a Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional(ACLLN),reuniu-se, na Matola, na sua 3ª sessão do Comite Nacional e, de forma aberta destemida, os combatentes disseram em tom alto e viva voz que discordam completa e profundamente do Secretário Geral da Frelimo, Filipe Chimoio, em torno da polémica por ele criada ao tentar vedar a entrada de novos candidatos a candidatos da Frelimo nas presidenciais de Outubro. E disseram isso na presença do Secretário Geral, Filipe Paunde e do Presidente do Partido, Armando Guebuza.
E mais, concluíram e disseram que o Secretariado Geral, dirigido por Filipe Chimoio Paunde estava fragilizado, daí que “não se coloca de lado” a possibilidade de eleição de um novo Secretariado no sentido de dar robustez e força necessária ao órgão, tendo em vista os desafios eleitorais à porta.
Homem que já vinha bastante fragilizado e isolado, adivinha-se com alguma facilidade, um futuro bastante sombrio para Filipe Paunde e outros membros do Secretariado tidos como inoperantes e inadequados para os desafios do momento, dos quais o sonolento porta-voz, Damião José.
Porque acredita-se que Filipe Paunde tenha apenas servido de “testa de ferro” ou porta-voz de um determinado grupo de interesse no seio da Frelimo, fica claro que estamos diante de, pelo menos duas alas que abertamente tem posições diferentes. Sabido que parte considerável dos membros da Comissão Politica e o próprio Secretario Geral são figuras próximas ao presidente da Frelimo, fica também claro que a actual situação crítica de Filipe Chimoio Paunde, atinge claramente o presidente da Frelimo, Armando Guebuza. Aliás, as 3 figuras“ impostas” como pré candidatos são também próximas ao presidente da Frelimo, daí que Guebuza também esteja a ver os planos anteriormente desenhados a serem postos em causa.
Entretanto, os combatentes, estrategicamente e por uma questão de conveniência e sobrevivência partidária, atribuíram nota positiva ao Presidente da Frelimo e, ao mesmo tempo, atribuíram a Guebuza a missão de “reorganizar” a Frelimo, particularmente o Secretariado Geral para os desafios à porta, que passam necessariamente por ganhar as eleições, gerais e das assembleias provinciais.
E mais, o pronunciamento segundo o qual os novos candidatos que entrarem na corrida não levam desvantagem nenhuma, alegadamente porque serão “candidatos fortes” pode significar que os 3 inicialmente impostos tenham sido já descartados pelos combatentes. Mesmo assim, o porta-voz da reunião dos combatentes, Carlos Silya, ressalvou que “os três continuam sendo candidatos até a realização da reunião do Comité Central da Frelimo.
Se voltarmos um pouco para a história, se calhar se não perceber que os actuais atritos e fricções não são de hoje na Frelimo.
A novidade é que hoje, se calhar pela pressão da media e pelo contexto actual, diferente da era monopartidária, os desacordos internos acabam saindo fora. É também verdade que a discussão de “assuntos sensíveis” fora de portas é bastante animado por aquilo que se considera “queda do debate de ideias no seio da Frelimo”, facto que faz com que alguns camaradas procurem se expressar fora.
Postas as coisas desta maneira, não pode ser menos verdade que “a machadada final” dada pelos combatentes em relação a abertura para mais candidatos, assim como a eminente expurgação de algumas figuras do Secretariado pode dar outro alento a Frelimo, mas, neste momento, o tempo não joga muito a favor da Frelimo, tendo em conta os cerca de 7 meses que faltam para a votação de 15 de Outubro. Acredita-se também que as feridas que actualmente estão a ser criadas pelos vários “grupos de interesse” não estarão devidamente saradas quando os moçambicanos forem chamados às mesas de votação, sendo esta mais uma realidade que pode jogar a desfavor da Frelimo e seu candidato.
Neste momento, é também importante perceber que muito do actual nervosismo partidário está intrinsecamente relacionado com a actual situação politico-governativo, particularmente a relactiva ascensão do MDM e o acentuado desencanto popular em relação ao partido Frelimo e seus dirigentes.
Portanto, estamos diante de uma Frelimo dividida e, por consequência, fraca em relação aos seus objectos mas imediatos.
Mas também estamos diante de um partido atabalhoado e medroso, tendo em conta a ascensão inegável da oposição, particularmente do MDM que, tem lugar numa altura em que a Frelimo e seus dirigentes não estão psicologicamente preparado para deixarem o poder passarem a oposição.


(fernando.mbanze@mediacoop.co.mz )



Editorial do MediaFax, 24/02/14

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