Monday, 24 February 2014

Hipócritas

A máxima pregada até à náusea e segundo a qual é necessário ser “primeiro no sacrifício e último no benefício” não passa, na verdade, de uma piada de muito mau gosto. Aliás, não passa de um autêntico insulto à pobreza de todos nós. Os Dirigentes Superiores do Estado vivem num mundo à parte, com excessos de regalias e casas arrendadas por cerca de 30 mil dólares. Isso tudo na era da austeridade e de salários de fome para professores, enfermeiros, polícias e médicos. Uma vergonha maiúscula para um país sem meios de transporte dignos, com salas de aulas a caírem aos pedaços e postos de saúde sem fármacos essenciais.
As filas enormes nas farmácias dos hospitais e postos de saúde contrastam com a qualidade de assistência médica dedicada aos altos Dirigentes do Estado. Uma criança que se dobra, no seu próprio tronco, para usar os joelhos como suporte para os cadernos não é suficiente para reprimir a apetência destes senhores por essa vida faustosa custeada pelos bolsos de todos nós? Onde é que esconderam a vergonha e com que cara levantam a voz para gritar que deram a juventude pela liberdade? De que liberdade falam quando vivem folgadamente dos nossos impostos? A liberdade de escolhermos outro destino ou da que julga que nos devemos deixar escravizar para que tenham vidas tão pomposas?
Isso não é normal, sobretudo quando descobrimos que pessoas como Marcelino dos Santos beneficiam de tanto. E isso num país onde os hospitais minguam e a ajuda externa contribui de forma excessiva para que o Estado subsista. Um país sem água, transporte público condigno e educação de qualidade não deve custear esses luxos. E nem vale socorrer-se do discurso que advoga que Marcelino dos Santos é um dos obreiros do país. Isso é absurdo. Aliás, estupidamente absurdo.
Esses senhores auferem pensões chorudas e não carecem de benesses do género. Ou seja, num país que revela pobreza em cada gesto é inadmissível que se proporcione regalias do género. Quando questionámos alguns repórteres sobre as regalias dessa gente atiraram-nos com o seguinte: “Moçambique é projecto de Marcelino”. Quando já estávamos à beira da indignação revelaram algo preocupante: “Ele nem sabe que a casa onde viveu custou esse dinheiro. Alguém roubou em seu nome”.
É provável que sim. Aliás, foi o que aconteceu se olharmos para os documentos. Mas não é isso que intriga. O que dói é o discurso público de Marcelino. Discurso esse que apregoa a igualdade entre os homens. É que nós, no @Verdade, acreditamos que a igualdade só é possível entre iguais e, definitivamente, para os Dirigentes Superiores do Estado igualdade é letra-morta edificada no espírito da Constituição da República. Esse livro que vincula, no entender desta gente grande, aos Ruis e Beúlas desta vida. Apenas isso.



Editorial, A Verdade

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