Friday, 24 January 2014

"Se alguma coisa esta marcha demonstrou foi que, Guebuza amigo, o povo de Maputo não está contigo"

Meu caro Júlio
Como está essa saúde?
Costuma-se dizer que rir é o melhor remédio e, portanto, para conservares a saúde faz como eu: vê as fotos da marcha de consagração a Armando Guebuza. São óptimas para se dar umas boas gargalhadas.
Há muito tempo que eu não via um fiasco tão completo. Com o objectivo declarado de juntar mais de 20 mil pessoas, as fotos não mostram mais de duas mil. Com Bacela talvez 2500. O que é ridículo para o propósito que se pretendia atingir.
Se alguma coisa esta marcha demonstrou foi que, Guebuza amigo, o povo de Maputo não está contigo. Isto é, o oposto do que os organizadores pretendiam.
Nem a oferta, ao que me dizem, de comida e bebida gratuitas mobilizou gente para a marcha e para o murcho comício que se seguiu. Comício onde os religiosos, de uma forma geral, apelaram và Paz, evitando muitos elogios ao homenageado.
Já os camaradas repetiram à saciedade os feitos presidenciais: Cahora Bassa, ponte AEG, Ponte da Unidade e os sete milhões. Todos deram estes exemplos variando apenas a ordem.
Mais uma vez o Chefe de Estado pagou caro o facto de se ter rodeado de colaboradores como os que tem. Colaboradores que, se fossem mariascafé, conseguiriam dar um tiro em cada um dos seus muitos pés.
A ideia desta marcha e a precipitação com que foi planificada e realizada são o exemplo claro da antiga frase: a derrota prepara-se, a derrota organiza-se.
Mas o facto é que quem fez a borrada foram os assessores mas quem ficou manchado foi o próprio Presidente da República, que viu a sua falta de popularidade assim espelhada neste lamentável acontecimento.
Dizem-me que há órgãos de informação que estão a anunciar números enormes de participantes, mas as fotos não deixam mentir. Foi uma participação muitíssimo pequena, ridiculamente pequena.
O próprio Samora Machel que, na manifestação convocada pela Dr.ª Alice Mabota, esteve de frente para os manifestantes, como quem participava, desta vez virou as costas àquela meia dúzia de pessoas, talvez com vergonha.
E, já agora, aproveito para te perguntar: achas mesmo que este partido Frelimo, com a sua quase total incapacidade de mobilização popular, foi mesmo quem ganhou as eleições autárquicas na cidade e na província de Maputo?
Dá que pensar, não dá?
Um abraço para ti do
Machado da Graça
CORREIO DAMANHÃ – 21.01.2014, no Moçambique para todos

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