Monday, 13 January 2014

Há um sector do poder que quer a guerra

A conclusão de Raul Domingos, antigo negociador chefe nas conversações de Roma
- “Sabemos que numa situação de guerra temos um cenário de Estado dentro de um outro Estado. Até porque esse Estado que nasce torna-se mais forte sobre o Estado natural que já temos…”

– anota Raul Domingos
Raul Domingos, actual presidente do Partido para a Paz, Democracia e Desenvolvimento (PDD) e antigo negociador chefe da Renamo nas conversações que culminaram com a assinatura, em 1992, do Acordo Geral de Paz (AGP) lamenta o ponto que a tensão politico/militar atingiu, mas diz não estar surpreso porque há muito concluiu haver um sector no poder claramente interessado na eclosão de uma nova guerra civil no território nacional.
Raul Domingos, que publicamente tem reiterado a necessidade de as partes buscarem um diálogo franco, honesto e de cedências reais, é de opinião que o sector que tudo está a fazer para a eclosão de uma nova guerra tem uma agenda bem definida do que efectivamente quer ganhar, atendendo e considerando que numa situação de guerra emerge um outro poder sobre o poder natural “democraticamente” eleito.
“Há um sector dentro ou nas hostes do poder que está interessado numa situação de conflito. Me quer parecer que gente deste sector sai a ganhar mais com uma situação de guerra do que da paz” – disse Raul Domingos para depoisexplicar-se: “sabemos que numa situação de guerra temos um cenário de Estado dentro de um outro Estado. Até porque esse Estado que nasce torna-se mais forte sobre o Estado que já temos, em que as Forças de Defesa e Segurança (FDS) tem toda esta autonomia em que a compra de armamento anda com comissões chorudas e outros ganhos próprios numa situação de conflito. Esse sector pode não estar directamente ligado as FDS, mas, a verdade é que há sim um sector bastante interessado numa situação de conflito e que sabe (este sector) que vai tirar ganhos numa situação de conflito. É um poder mais forte que se vai sobrepor sobre o poder natural”. Em situação contrária, acreditaRaul Domingos, a actual tensão politico/militar teria sido ultrapassado há muitotempo, na medida em que os pontosdivergentes e colocados à mesa sãoultrapassáveis.
O antigo negociador chefe estranha bastante o facto de as partes não terem avançado num diálogo frutífero quando se pensava que a visita do Chefe de Estado à província de
Sofala fosse criar condições para um encontro com o líder da Renamo.
Este sentimento de frustração e estranheza foi também demonstrado pelo arcebispo de Maputo, quando numa recente entrevista disse que o ataque a Santungira se equipara a um punham pelas costas do colega.
Para Raul Domingos, o ponto de partida da actual situação é o que considera “partidarização do aparelho de Estado” e o “não cumprimento deliberado e malicioso daquilo que foi acordado em Roma, em 1992”. Aliás recorda Raul Domingos, estas questões, consideradas como perigos do AGP, vem expressas no relatório do MARP e quem de direito conhece estas constatações, mas “propositadamente continuam a fazer
ouvidos de mercador.”.
“Como não chegaríamos a esta situação” – questionou, para depois defender que “com a actual situação de desconfiança elevada, só a mediação nacional ou estrangeira, pode voltar a aproximar as partes”.
(FM)
 
MEDIAFAX – 10.01.2014, citado no Moçambique para todos

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