Thursday, 23 January 2014

Do “golpe palaciano” ao “golpe de Pemba”?

 Democracia amordaçada em prole do EEN…
Internacionalização da guerra à vista?...

 EEN significa Empoderamento Económico Negro. Era a pretensão dos “camaradas” tomaram o poder após Joaquim Chissano, se ver compelido a abandonar o palácio da Ponta Vermelha? Não é preciso encomendar estudo algum especialista em ciências políticas. Também não é necessário dedicar ao assunto tempo e recursos pois as evidências são demasiado poderosas.
Na sua cruzada pelo enriquecimento rápido como que raio fulminante, nada fica ao acaso e todas as pedras que impeçam a sua concretização são removidas. Mesmo que sejam “camaradas”. Há como que uma guerra declarada contra quem não alinha com a actual liderança.
Moçambique está a ver partes de seu território numa espiral de violência que só se pode chamar de guerra.
A pergunta de todos os dias é: qual é a saída deste conflito fratricida?
Falar de paz e não lutar por ela é insignificante e ilusório.
Mesmo que não seja dito haverá alguns elementos estratégicos que ignoramos por não termos acesso aos corredores em que tais decisões são pensadas, equacionadas e tomadas.
Mas quando não se encontram os caminhos da paz isso dá lugar que se pense que não há vontade política para alcançá-la.
Enquanto se fala de paz aumentam o número de vítimas.
Parece que a estratégia eleita seja de arrastamento da situação de beligerância para níveis que produzam a internacionalização do conflito. Nessa via é de supor que esteja havendo concertação ao mais alto nível entre governos aliados da região não sendo de ignorar pronunciamentos de governantes do Zimbabwe propondo uma intervenção patrocinada pela SADC.
Há quem tenha interesse que a guerra aconteça e isso deve ser visto como forma de garantir o EEN actual. As alianças forjadas ao longo dos tempos da luta anti-colonial e contra os regimes racistas da região dão um certo ar de segurança para o governo de Maputo.
Um conflito com origens político-económicas dificilmente será decidido pela força das armas. Mesmo que uma parte consiga reunir apoios regionais isso já foi conseguido e utilizado no passado sem resultados práticos.
Que o Zimbabwe intervenha em defesa das suas saídas para o mar e do oleoduto é compreensível mas não suficiente. Que a África do Sul traga seu músculo militar e económico para o terreno não se tornará numa vitória militar rápida e definitiva. Que Angola opte pela disponibilização de recursos financeiros e armamento pode ser um dado adquirido mas que não irá acelerar a desintegração da guerrilha da Renamo a breve trecho. Dito isto teremos mais uma vez um conflito militar prolongado com enorme perda de vidas humanas e deslocados internos e externos.
A internalização da guerra poderá trazer novos actores atendendo que várias corporações internacionais têm investido pesado nos recursos minerais.
Sem uma clara menção de protecção de seus cidadãos ou de uma pretensa luta contra o terrorismo internacional será encontrada uma fórmula de intervenção diferente da francesa no Mali ou da República Centro Africana. Portugal, sofrendo de uma profunda crise financeira e política, poderá ser encarado como força privilegiada para qualquer intervenção ocidental. Não seria a primeira vez que uma potência menor no contexto das nações se lança em defesa do que considera ser seus interesses. E Portugal possui investimentos de vulto nas finanças e na construção civil em Moçambique. Intervém como exportador de bens de consumo muito apreciados e domina o sector de hotelaria. Já tem parceria com o governo na área militar. Então seria simplesmente uma questão de ampliar os actuais laços mesmo que isso signifique ir à busca de musculatura em armamentos e finanças em outras capitais ocidentais. A NATO de que é membro tem uma história bem documentada de distribuição de tarefas entre seus membros. Não se pode esquecer que a NATO possui uma estratégia para cenários eventuais nas diversas regiões do globo.
Veremos uma guerra desnecessária aumentando de intensidade numa perspectiva do estilo de Angola em que a eliminação física de Jonas Malheiro Savimbi foi considerada uma vitória?
Todos os recentes processos de intervenção de forças estrangeiras não convidadas para a resolução de conflitos internos tem resultado em mais violência e o sectarismo no Iraque ganha intensidade a olhos vistos.
Não se pode esquecer que o potencial de secessão existe em Moçambique. Uma guerra de grande intensidade e generalizada vai acordar os fantasmas da secessão e conduzir a xenofobia e matanças indiscriminadas de civis.
A incapacidade de colocar os beligerantes na mesa, de ver as partes beligerantes conversando com seriedade deve ser vista como uma das consequências do EEN. Há tanto acumulado que seus detentores não equacionam a possibilidade de compartilhar. Os outros têm quase nada a perder senão a sua própria vida de sofrimento e de humilhação.
Se a recente marcha de saudação ao PR foi um fiasco e um indicativo forte de baixa popularidade seria tempo oportuno para que a Frelimo como partido político com responsabilidades históricas se desse tempo de reflectir sobre o que fez de errado. Se ainda há forças residuais da Renamo digladiando-se contra as FADM/FIR isso é consequência directa de opções tomadas pelo governo ao recusar-se construir ou criar um exército verdadeiramente nacional apartidário…

 (Noé Nhantumbo, Canalmoz)

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