Monday, 11 November 2013

Democracia com desplante não joga

Combinação do uso da força e da posição de poder governamental para atropelar as leis conspurca já o processo eleitoral

Beira (Canalmoz) – Quando se manifesta uma completa cegueira e surdez dos detentores do poder é razão para estranhar e perguntar o que afinal querem com o país.
Partir de posições de força e acalentar esperanças ...
de que parceiros como o Zimbabwe podem acorrer em socorro de nosso governo é algo muito sério, perigoso e não isento de falhas. Diagnósticos e estratégias defeituosos podem resultar muito caro e catastrófico. Queremos parceiros engajados em processos engajados na promoção da paz e da genuína democracia.
A doutrina da eliminação física dos opositores não é sustentável do ponto de vista político embora posa trazer um suposto sossego nas hostes governamentais. Mudar de preocupação durante algum tempo pode ser fórmula de gestão de conflitos mas ao médio prazo resulta ilusório pois não é possível exterminar todos os que se opõem a um determinado regime.
Mostra a experiência africana desde Biafra ao facto consumado de secessão no Sudão que problemas não resolvidos não desaparecem por si.
A virulência da posição governamental ao recusar-se a ceder no fundamental das questões apresentadas pela Renamo como pontos de discussão revela uma agenda onde a manutenção do poder é a questão que preocupa o governo da Frelimo. A dureza de posições resulta do reconhecimento de que com o campo nivelado, com uma CNE imparcial e um STAE profissional as eleições seriam dificilmente vencidas por quem detêm o poder.
Segundo informações veiculadas por fontes insuspeitas como a AWEPA, o partido Frelimo está abusando da utilização de meios do estado para realizar a sua campanha eleitoral. Não é a primeira vez que tal acontece. Parece que o princípio utilizado é de que “enquanto os cães ladram a caravana passa”.
O desplante com que procedem alguns segmentos do partido no poder revela uma arrogância incaracterística para quem se diz democrata. Mancomunarão e conluios delinquentes não podem ser a norma e pratica impune num país democrático.
A política feita sem elementos moralizadores, éticos e de respeito as leis torna-se em campo fértil para conflitos sociopolíticos que podem ter consequências desastrosas como se pode verificar nos dias de hoje.
Ganhar a todo o custo, manter o poder em si e para si ultrapassa a política convencional e torna-se numa “máfia”.
O formalismo democrático complacente com práticas corruptoras escangalha qualquer pretensão de normalidade, democracia, respeito pelos direitos humanos e económicos dos cidadãos.
A retórica barata e esburacada, desmiolada e insensata nega que a concórdia social seja uma realidade.
Quando se verificam altos índices de intolerância, de ódio e de arrogância destroem-se as bases para a confiança básica necessária entre os interlocutores políticos nacionais.
Os que apelam a um “diálogo sério” devem ser os primeiros aproximando-se das partes em litígio e chamá-los a razão.
A derrapagem evidente no país é fruto de uma progressiva erosão dos princípios de boa governação.
Montar ou instituir organismos alegadamente destinados a lidar com os diferentes dossiers nacionais é simplesmente um passo e não fim do trabalho.
Se ao mesmo tempo se monta ou se cultiva uma cultura de elite intocável, acima das leis e coberta de protecção contra tudo e todos desvirtua-se toda a pretensão de democracia propalada aos quatro ventos.
Arredar pé, repensar o que se pretende com este Moçambique é responsabilidade dos políticos nacionais.
Política deve deixar de ser um processo de troca de favores, de clubismo corrupto, de tráfico de influência, de imposição de agendas visivelmente lesivas ao interesse nacional, de negociatas ilícitas.
Sem confiança entre os cidadãos, sem respeito uns pelos outros, não se constrói a tal moçambicanidade que tanta falta faz.
Não queremos a guerra nem que zimbabweanos se intrometam nos assuntos internos de Moçambique.
Não queremos que um clube de chefes de estado autoritários se intrometa nos nossos assuntos.
Queremos e aceitamos facilitadores, conselheiros isentos, credíveis e consensuais.
Sem menosprezo ou algo que se pareça, que poderá José Eduardo dos Santos aconselhar a Moçambique? Que poderá sair de Robert Mugabe em benefício da paz e estabilidade no nosso país?
Gente com fama internacional de intolerância e autoritarismo não possui credibilidade para emitir opiniões sobre como se deveria agir em Moçambique.
É preciso ver com bastante cuidado toda a oferta de apoio militar de vizinhos e parceiros. Os problemas de Moçambique resolvem-se com o estabelecimento de plataformas democratizantes e não com o recurso a armas ou guerra preventivas.
A guerra semeia o ódio e adia a paz.
É tempo de se fazerem ouvir as vozes da razão, da tolerância, da concórdia, da irmandade, do respeito, da moral, da tradição, da verdadeira moçambicanidade, aquela que respeita as nossas diferenças e aceita a inclusão no mosaico nacional.
Pela PAZ que nenhum de nós desfaleça…


(Noé Nhantumbo)

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