Friday, 23 August 2013

Triunfalismo tenebroso ou carência de entendimento político?

Sem confiança não há diálogo conclusivo, tolerância e reconciliação…

Beira (Canalmoz) – Qualquer que seja o caso em ambos os casos só temos que recear e duvidar de alternativas que coloquem em perigo a estabilidade e segurança nacional.
Os clamores contra os ataques perpetrados pelas forças do governo e a...s respostas contundentes que aconteceram protagonizados por forças afectas à Renamo deixam no panorama política nacional uma imagem de precariedade no campo de segurança e na capacidade das forças governamentais de defender a paz, soberania e estabilidade em Moçambique.
No lugar de um exército e forças policiais competentes e com reconhecida experiência para lidar com fenómenos de subversão e ataques contra infra-estruturas pertencentes às FADM, ficou-se com uma imagem comprometida pelos resultados alcançados.
A menos que alguém tenha na manga alguma carta mágica como fórmula resolvente dos diferendos nacionais e eclosão de um conflito entre forças residuais da Renamo e as forças policiais bem como as FADM, não se compreende de onde estão a sair as proclamações de alguns segmentos afectos ao executivo moçambicano. Qual é o fundamento em que se baseiam as estratégias de um Ministério da Defesa que em pleno evoluir de um conflito armado, com evidencias de ataques demolidores para as forças do governo um chefe de estado-maior general das FADM seja assaltado e fique sem viatura, pistola e computador portátil. Ou estamos em presença daquele tipo de ataques intestinos para queimar imagens e acelerar exonerações como aconteceu, ou alguma muito grave se passa ao nível da consistência e fibra das FADM que temos.
Leveza no tratamento, leviandade estratégica, falta de cultura de corpo e um exército perigosamente politizado produziram uma força militarizada, de uniforme mas sem um pacote estratégico operativo que ofereça garantia de sucesso.
Como cidadãos longe de nós dissecarmos nossas FADM e expor seus aspectos fracos para um potencial inimigo. Mas entanto que moçambicanos e amantes da paz e do desenvolvimento inclusivo e sustentável não podemos deixar de questionar certas decisões e sobretudo a ausência de fiscalização do que se passa ao nível das FADM, PRM e FIR.
Parece que a Assembleia da República recebeu instruções para não questionar ou existe uma cultura de secretismo que impede na prática que alguém faça perguntas e receba respostas em assuntos que dizem respeito à defesa nacional.
A figura de noção de censura parlamentar não se aplica no parlamento moçambicano.
Propostas de lei ou intervenções úteis de deputados de bancadas minoritárias nunca encontram aprovação pela maioria. Vota-se em bloco e em obediência a instruções previas. Reina a ditadura do voto, o que, obviamente, não favorece a emergência de opiniões ou decisões que difiram da posição do partido no poder. Mesmo quando aconselháveis, providas de razão e sustentadas em análises com qualidade, nada que não vá ao encontro do que tenha sido superiormente decidido passa na Assembleia da República.
Temos efectivamente uma democracia “barricada”, uma frente política e legislativa esgrimida em trincheiras que se encontram longe do que são os interesses básicos do povo.
Emprego, saúde, educação, progresso na carreira profissional, justiça célere e credível, aparelho de estado apartidário onde a competência técnica e profissional sejam os critérios de admissão e promoção, equidade socioeconómica, não estão na mesa dos defensores do jogo eleitoral desigual.
Querem colocar o povo moçambicano face a factos consumados deliberados por instituições eleitorais e judiciais favoráveis ao partido Frelimo?
Quantas vezes a Renamo já tentou a impugnação de resultados eleitorais sem êxito?
Não vimos bem agora que Morgan Tsavangirai do MDC retirou a sua petição de impugnação das eleições zimbabweanas?
Agora que se chegou a fim da viagem denominada diálogo Governo da Frelimo e Renamo que acontecerá?
Que surpresas nos guardam os políticos moçambicanos?
Teremos tempo de ver alguma seriedade e consequência substituindo a arrogância e irredutibilidade de actores políticos com responsabilidades inalienáveis?
Não queremos golpes da CNE e do STAE. Também não queremos alinhamentos políticos de circunstância que anulem o processo político moçambicano.
Quem tem medo de eleições justas livres e transparentes?
Não se escudem numa Constituição da República de Moçambique que jamais respeitaram ou cumpriram. Dizer de boca cheia que o AGP foi incorporado na CRM é irrelevante na medida em que tal acordo não foi implementado na íntegra. Todo o mundo sabe disso inclusive os deputados da Frelimo na AR.
A opção militar seria um retrocesso histórico terrível e demasiado caro no sentido de vítimas humanas e para toda uma economia em relançamento.
Quando propagandistas disparam seus comunicados e se eximem na construção de “verdades” o povo aprendeu a temer e recear porque quase sempre é mentira o que é vomitado nos órgãos de comunicação social.
Quem quer a paz não se prepara para a guerra nem se esconde sob alegações constitucionalistas.
Sufocar a sociedade com mensagens de uma pureza e rectidão jamais comprovadas não vai trazer a desejada paz.
Sem perdão mútuo e reconciliação não se pode construir confiança e isso é visível entre os políticos moçambicanos.
É fácil dar nomes aos outros e cada vez mais depreciativos em defesa de uma suposta razão histórica. Alguns até se lançaram na “tentativa” atribuir um inventado “imperativo nacional” para seu partido continuar no poder.
Não se estranhe que os resultados do diálogo não tenham surgido num ambiente de pouca confiança em que os interlocutores estão habituados a impor. Chamar aos outros de chantagistas está agora sendo exibido como palavra-chave na propaganda política.
Será que os ânimos se acalmarão? Será que a paz será preservada?
Não queremos que a insensibilidade de alguns “paus mandados” atrapalhe a procura de soluções para os problemas reais do país.
Gostaríamos e ver as igrejas de todos os credos, reservas morais e de credibilidade no país intervindo todos os dias e não dando descanso aos políticos enquanto algo de concreto e positivo não for encontrado entre os interlocutores políticos, em diálogo e fora do diálogo.


(Noé Nhantumbo)

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