Wednesday, 7 August 2013

“Os líderes de libertação frequentemente não são os melhores preparados para gerir um país”


Antigo embaixador dos Países Baixos em Moçambique incendiário.
O antigo embaixador dos Países Baixos em Mo­çambique, ora embaixa­dor da União Europeia na África do Sul, Roeland Van de Geer, disse ontem, em Maputo, que evidências de todo o mundo indi­cam que a transformação de um movimento de libertação para um partido político com capaci­dade de assumir inteira respon­sabilidade pela gestão dum país “é um processo doloroso, difícil e longo”.
 “Doloroso e difícil como go­vernar um estado-nação requer outras habilidades, outra abor­dagem e, por isso, outras perso­nalidades e, ainda, outros líderes, sem ser os que lideraram a luta de libertação. Os líderes da liberta­ção, frequentemente, não são os melhores preparados para gerir um país, uma vez que este entra numa nova fase de construção da nação, reconciliação nacional e reconstrução nacional”, disse Van de Geer, durante o debate sobre “Diálogo político na con­solidação da democracia e do de­senvolvimento”, organizado pela Instituto de Democracia Multi­partidária, uma organização ho­landesa.  
Roeland Van de Geer reconhe­ce, no entanto, que o processo de libertação para a consolidação é, também, longo, o que, frequente­mente, “leva mais de uma gera­ção” para o país encontrar o seu próprio caminho “fora de uma situação de guerra civil ou rebe­lião”.
Dadas as conquistas alcançadas em Moçambique, acrescenta Roe­land Van de Geer, “o respeito por aqueles que deram suas vidas pela liberdade e pelo desenvolvimen­to e a necessidade de Moçambi­que, como uma parte importante do continente africano, desempe­nhar o seu papel no século XXI e um diálogo político profundo podem desempenhar “um papel importante na consolidação da democracia, do desenvolvimento e da paz duradoura no país. Um processo democrático inclusivo em que todos os moçambicanos se sentem representados é me­lhor garantia de paz e prosperi­dade para futuras gerações”.
Desapontado
Na sua apresentação, Roeland Van de Geer, que foi embaixa­dor do seu país em Moçambique de 1994 a 1998, fez um balanço dos 20 anos de paz neste país e concluiu que houve estabilidade e um “certo grau de desenvolvi­mento”, razão pela qual Moçam­bique deixou de ser um problema para a comunidade internacio­nal, passando à solução e desem­penhando um papel construtivo a nível da região, de África e das Nações Unidas.
No entanto, para Van de Geer, nem tudo é mar-de-rosa, porque, “simultaneamente, o progresso económico é limitado e a pobreza ainda é vasta”.
Considera “decepcionantes” as recentes diferenças políticas que – “surgiram com base em dife­renças socioeconómicas percebi­das” – podem ameaçar o que foi alcançado no país ao longo dos últimos 20 anos.
Neste contexto, Roeland Van de Geer levantou duas questões para o debate: “quão séria é a ac­tual situação e pode um diálogo político desempenhar um papel na consolidação das realizações alcançadas em Moçambique, in­dicando uma direcção para o fu­turo desenvolvimento?”

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