Saturday, 29 June 2013

Somos carne de canhão

As negociações já duram há alguns meses. Por aquilo que se vê, a velocidade é mínima e o ritmo para alcançar consensos desarticulado. Numa primeira fase, fez-se uma trabalho de charme para dar a entender que no Indy Village estava a ser discutida uma solução para o país. No entanto, o que veio a acontecer nos últimos dias é algo que esvazia o sentido e a pertinência dos encontros e que indica estar-se perante uma farsa, cuja arquitectura visa entreter os moçambicanos.
Civis morreram e ninguém, salvo as acusações avulsas e a detenção de inválidos mentais, explica aos moçambicanos do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico o que está a acontecer com o país. Portanto, deixou-se a soberania praticamente ao arbítrio dos dois ex-beligerantes?
Constitui, no mínimo, obrigação do Governo usar todos os meios disponíveis para alertar os cidadãos sobre este tipo de intervenções que alteram o ambiente de actividade das pessoas. Não é indiferente aos nacionais morrer no HCM ou numa emboscada em Muxúnguè, pois ninguém nos informou que a paz foi relegada para o passado.
Para mais, o que sabemos é que se encontram no Centro de Conferências Joaquim Chissano para discutir o futuro do país e a liberdade dos moçambicanos. Portanto, quando a Renamo encerra temporariamente uma via deve transferir o conjunto de facilidades e referências para a via alternativa, de modo que os utentes saibam como proceder nas novas circunstâncias para alcançar os tradicionais resultados. A pretensa segurança de Dhlakama não nos pode impedir de circular pelo país.
A não ser que declarem, sem reservas, que somos um país em guerra. Se a ideia da Renamo era proteger Dhlakama e impedir a aproximação de elementos das Forças de Intervenção Rápida e das Forças Armadas, o mais lógico seria atacar alvos militares perfeitamente identificados e posicionados no troço que encerraram. Atacar civis, não nos parece uma grande ideia e, no nosso entender, esvazia a lógica de qualquer negociação.
Naturalmente que esta abordagem vai apontando o dedo ao maior partido da oposição, mas não quer isto dizer que a Frelimo, partido que dirige os destinos do país, não deva ter qualquer responsabilidade nestes atropelos ao nosso direito de sermos livres. Antes pelo contrário.
Tanto mais que deveria garantir maior transparência na gestão da coisa pública, impedir o enriquecimento dos filhos dos seus dirigentes e evitar que Valentina seja a versão moçambicana de Isabel dos Santos. Nada disso fez, porque o povo moçambicano não tem sido respeitado e quem tem qualquer cargo público neste rochedo à beira mar veste autoridade e dita as leis do lugar.
O que vai acontecendo neste país é o seguinte: Qualquer ministro pode criar uma empresa de construção e usar fundos públicos para reabilitar a rua da casa do amigo ou da amante, qualquer um director nacional pode fazer o mesmo sem problemas.
Portanto, com uma governação parasita é normal que o descontentamento ecloda. O que não é normal é que inocentes paguem pelos pecados de Guebuza e Dhlakama. Matem-se, mas deixem-nos fora disso...




Editorial, A Verdade

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