Monday, 27 May 2013

Um governo infame

Por Edwin Hounnou
No dia 20 de Maio, iniciou a segunda e inquestionável greve dos médicos e pessoal de saúde com consequências catastróficas na vida das comunidades, apesar da falsa propaganda que o governo faz passar através dos órgãos de comunicação social públicos. A greve ora em curso, deve-se à má-fé do executivo. Os médicos têm toda a razão nas suas reivindicações.   
Quando da primeira greve, em Janeiro deste ano, o governo assinou um memorando de entendimento, com o objectivo de parar a greve, sem vontade de resolver os problemas do caderno reivindicativo. O governo não está preocupado com o país. Enquanto o jovem faz boladas de celulares, na baixa de Maputo, os governantes vão bolando gás e carvão com as multinacionais, como canta o rapper Azagaia. 
O executivo de Armando Guebuza continua a comportar-se com arrogância. Os seus porta-vozes chegam a dizer que os médicos vieram pedir emprego  e esses que se dizem ser médicos. Esses indivíduos não são polidos. São grosseiros. Não são médicos? Porque andam brigadas pelas casas dos grevistas a ameaçá-los para furarem a greve. Chantageam indivíduos que se fazem de medicos enquanto não o são? Só um bossalismo medieval permite a tanta besteira!  
O governo violou os entendimentos alcançados com a Associação Médica de Moçambique, AMM, para provar a sua falta de vergonha e ausência de seriedade na gestão da coisa pública. Aumentou 15 porcento, apenas, sobre a magra base salarial dos médicos, alegando que, por fases, igualá-lo-ia aos salários dos alfandegârios e magistrados até 2015.
 
Como não tem argumentos para convencer a AMM e, agora também, a associação do pessoal de saúde, confrontando-se com o descontentamento generalizado de outros sectores da função pública, como os antigos trabalhadores da ex-RDA, dos desmobilizados de guerra e dos ex-funcionários de SNASP, resta ao executivo socorrer-se da violência da Força de Intervenção Rápida, FIR, – um instrumento privado de repressão do governo.
 
Quando os soldados da FIR ganharem a consciência de que prende os seus parentes – irmãos e irmãs, e batem nos pais e mães, sem justa causa não é coisa boa, o governo vai arder de fogo ateado pelo povo enfurecido pelos males que anda a provocar na vida dos desgovernados.  
O governo tem muitas frentes de duros combates e só uma unha negra poderá salvá-lo da hecatombe, se medidas urgentes na postura governativa quanto à gestão da coisa pública não forem tomadas. Coleccionou um leque de inimigos que lhe vão fazer frente nos próximos tempos. Ninguém acredita que os seus acólitos, através da propaganda e desinformação, possam continuar a sustentar uma causa perdida.   
A violência e a intransigência não são caminho a seguir. O fechar os olhos aos problemas, não é solução, como fazia o ministro de Informação do regime de Saddama Hussein, Muhammed Al-Sahaf, que perguntava aos repórteres estrangeiros onde estavam os soldados americanos, numa altura em que o prédio se encontrava abanava de bombas.    

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