Monday, 6 May 2013

Balelas

Todos os anos, assistimos impávidos e serenos à crispação dos direitos dos trabalhadores moçambicanos, por conta da insensibilidade do Governo de turno, que faz ouvidos moucos às reivindicações da classe operária deste país. Há três décadas que os trabalhadores vivem na menoridade, súbditos de políticas salariais que os empurram cada vez mais para o abismo da miséria imerecida.
Há pouco mais de 30 anos que os trabalhadores moçambicanos vivem à mercê de salários de fome. Salários que não chegam a cobrir sequer metade das necessidades básicas de alimentação para um agregado familiar constituído por, pelo menos, cinco pessoas.
O discurso oficial virá, diante do nosso desabafo, com a retórica económica, para justificar que o país está a crescer que a nossa opinião não passa de um mero desabafo adoçado pelo insulto fácil. Importa informar que este espaço não reflecte nenhum tratado científico ou o rigor das academias. Quem fala, neste espaço, fá-lo em nome das inúmeras vozes excluídas do acesso ao palácio das decisões que nos massacram com preços cada vez mais elevados para um salário de merda.
É merda o que nos pagam. Não nos digam que o Estado não pode pagar mais ou que tenhamos de ser empreendedores. Isso não colhe. Até porque as banhas que vos escondem as ossadas não surgiram do empreendedorismo. Não conhecemos a história de sucesso dos vossos empreendimentos. Tudo o que têm é nosso e foi-nos roubado.
Portanto, deixemos de lado a retórica do trabalho árduo e de sol a sol porque é exactamente isso que fazemos sem ver nenhum retorno. Também criamos patos, mas não conseguimos tirar participações na banca e nem na conversão do sinal analógico para o digital. Trabalhamos arduamente, mas nunca vimos a mínima possibilidade de retirar dinheiro das empresas públicas com autocarros obsoletos ou com material eléctrico de qualidade tão duvidosa como as negociatas com os irmãos de olhos finos.
Durante vários anos, os trabalhadores limitaram-se apenas a dizer “viva” e a obedecer cegamente às decisões, ou, dito sem metáfora, à tabela salarial aprovada anualmente sem nenhuma réstia de sentimento para com a massa laboral. Nos dias que ocorrem, a classe trabalhadora já começa a ganhar consciência e sai à rua todos os primeiros de Maio para exigir os seus legítimos direitos.
Porém, para o desgosto e desagrado de muitos, o Presidente da República parece que continua a ter alergia a quaisquer tipos de reivindicações, razão pela qual opta por assistir aos desfiles através da sua TV de 90 polegadas, no conforto das regalias garantidas pelo suor (e até sangue) do pacato cidadão. Não nos vem à memória a última vez que Armando Guebuza se fez presente na cerimónia de comemoração do 1º de Maio. Também não sabemos quais são as razões que levam o nosso “idolatrado” estadista a baldar-se para a festa dos trabalhadores.
Mas uma certeza podemos avançar: o PR não quer encarar o desprezo que os trabalhadores têm pela sua má governação. O PR, como empresário de tudo o que é empresa neste país, não quer engolir as exigências do trabalhador. O PR não quer ver o descontentamento relativamente aos salários míseros e às péssimas condições de trabalho.
Os trabalhadores, na ingénua convicção, continuam a acreditar neste Governo, que mais se empenha em armar- -se até aos dentes para acomodar a corrupção e o nepotismo em detrimento dos legítimos interesses da maioria oprimida. Continuam na vã expectativa de dias melhores, ou seja, do dia em que o salário mínimo cobrirá, ao menos, a cesta básica para gáudio dos seus respectivos agregados familiares.
Esse é o problema de viver num país cujo líder é empresário e ao mesmo tempo PR.


Editorial, A Verdade

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