Sunday, 10 March 2013

A (re) adaptação

XIPALAPALA , por João de Sousa

Volto ao convívio dos leitores do Correio da manhã, após quase dois meses de ausência. Uma ausência que me permitiu, no meu regresso definitivo a Moçambique, após seis anos de trabalho na África do Sul, (re) adaptar-me a este ritmo frenético do nosso dia-a-dia. E no dia do meu regresso, já em Maputo, fui confrontado com os buracos nas ruas. Isso lembrou-me um “sketch” humorístico, transmitido no programa Volta a Moçambique da nossa TVM, escrito pelo saudoso Leite de Vasconcelos e interpretado por ele e pelo actor Vítor Raposo denominado “Os buracos cósmicos” que se transformaram em verdadeiras crateras.
Era uma crítica directa, feita a partir dum programa televisivo, dirigida a João Baptista Cosme, o edil da altura.
Volvidos estes anos todos, o Presidente do Município é outro. Chama-se David Simango. As crateras, essas, continuam com tendência a alargarem cada vez mais.
Mas ao que sei, e tal como dizia um actor da nossa praça, em entrevista que concedeu à STV, muito provavelmente poderemos livrar-nos desses buracos das estradas ainda este ano, “porque as eleições estão aí à porta”. E para não fugir à regra, surgirão as situações de remendo.
Regressei e confrontei-me com os contentores de lixo colocados na via pública, “atrapalhando o tráfego”, como um dia escreveu e musicou o cantor e compositor Chico Buarque de Hollanda. Confrontei-me com a falta de civismo de alguns dos meus concidadãos. É o automobilista que decide parar o seu carro em local proibido desrespeitando as mais elementares normas de trânsito. Quando questiono o condutor vem de imediato a reacção: “isto aqui não é Pretória, isto é Maputo. Vá-se habituando”.
Que remédio tenho eu!
Confrontei-me com os “cinzentinhos” que decidem substituir os agentes da Polícia de Trânsito (PT), pedindo-nos a torto e a direito as nossas cartas de condução, sabido que é que não têm competência para o efeito.
No dia do meu regresso fui confrontado com um outro aspecto. A poucos metros da portagem da Moamba existe um controlo policial. O agente de trânsito manda parar. De repente vejo na porta do meu carro não o agente de trânsito mas um jovem, que realizava um inquérito, segundo ele, “a mando do Governo”.
Vim a saber que era um inquérito elaborado pelo Projecto da Circular de Maputo. O jovem perguntou-me se a viatura era minha ou duma entidade particular e se era a primeira vez que utilizava aquela rota para chegar a Maputo. Questionou-me sobre as razões que me levaram a utilizar aquela via. Em jeito de resposta perguntei ao jovem se havia outra alternativa e ele disse-me que não. Fez-me outras perguntas. Qual delas a mais absurda. Finalizou com a seguinte questão:
"qual o seu nível de escolaridade?”
Fiquei pasmado com a pergunta. Afi nal que importância tem, para quem elaborou o questionário, saber se o utente da via Ressano Garcia/Moamba/Maputo é analfabeto ou cidadão com um curso superior? Será que o nível de escolaridade tem alguma influência na forma de conduzir? Será que o analfabeto conduz melhor ou pior do que um cidadão com um curso superior?
Contei tudo isto a um amigo meu, dias depois do meu regresso definitivo de Pretória. Dele veio a resposta, simples e directa: “João, o que custa são os primeiros seis meses, depois habituas-te”.


CORREIO DA MANHÃ – 06.02.2013

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