Saturday, 24 November 2012

@Verdade EDITORIAL: todo o cuidado é pouco

 
 
Em política, todos os argumentos são, por assim dizer, válidos, porém, os últimos comentários do ex-estadista moçambicano Joaquim Chissano roçaram a raia do ridículo. Aliás, diga-se em abono da verdade, Chissano, uma figura respeitável, saiu-se muito, mas muito mal ao proferir tais palavras, uma vez que mostrou estar politicamente fragilizado, ou seja, aproveitou a oportunidade para pôr a nu o esvaziamento do seu discurso desde que deixou o cargo de Presidente da República.
E, desta vez para o país inteiro, revelou, à sociedade que tem vindo a perder a sensatez à medida que o tempo vai passando.
Chissano não pode esquecer do que disse antes quando afirmou, para quem quis ouvir, que enganou a Renamo. Sem pensar nas consequências alardeou que “fabricou” algumas linhas dos acordos gerais de paz e entregou aos mediadores. Ou seja, Chissano troçou da Renamo para atingir outras pessoas.
Portanto, desconfiamos dos pronunciamentos de Chissano. A sua atitude, agora, é típica de alguém que pretende mostrar de que lado está quando, na verdade, antes, acendeu o fósforo que originou todo o problema. Chissano é responsável, em parte, e agora quer vestir a pele de cordeiro.
O seu pronunciamento devia ter ficado guardado. Ou seja, devia aparecer no seu livro de memórias e não hoje. Num momento complicado e de tensão, as palavras de Chissano não podem ser compreendidas de outra forma.
Foram usadas com o objectivo de causar danos mais tarde (hoje). É a filosofia do veneno, mata lentamente e não deixa pistas. Ou seja, quando tudo acontece o criminoso está bem longe. Sobretudo quando tem a possibilidade de colocar a culpa em terceiros.
Com tal posição, não queremos desculpar a atitude de Dlhakama. Quanto a nós a sua atitude é repugnante. Porém, o importante é realçar o papel de alguém que governou o país em tudo isso. Ainda que a sua responsabilidade não seja total, não deixa de ser vergonhosa.
Nada, por outro lado, garante que Chissano e Dlhakama não continuem mancomunados e que a ideia de incendiar o país não tenha sido congeminada nos esgotos da sacanice de qualquer discurso premeditado.
De um estadista da estirpe de Chissano esperávamos, contudo, polidez no discurso. Ou seja, não é típico de Chissano proferir discursos que dividam. Nunca foi assim. Por isso devemos desconfiar da sua postura. Qual é a sua real intenção? O que pretende quando incita, ainda que possa ser implicitamente, a revolta de uma pessoa que tem armas? Todo o cuidado é pouco...


A Verdade

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