Sunday, 18 November 2012

Governar num país de asnos

Meio mundo debate-se com problemas de transporte. Não há chapas e com os Transportes Públicos nem vale a pena contar. Por outro lado, as sirenes aumentam de tom e as escoltas dos dirigentes estampam, na cara dos moçambicanos, que há dois países no país. Um dos oprimidos esmagados pela fome e dos males do subdesenvolvimento. Um país sem medicamentos e água potável de qualidade.
Um país onde 250 mil pessoas morrem à fome num relatório que ignorou outras 500 mil que morrem igualmente do mesmo mal. Esse país, sem meios, sobrevive e mostra as suas ossadas num corpo cada vez mais esquelético. Esse país assiste, sem poder fazer nada, à subida do material de construção e ouve o Governador do Banco de Moçambique a desmentir o ministro da Indústria e Comércio que ‘mentirosamente’ dizia que o custo de vida não sofreria nenhuma espécie de agravamento.
Esse país vê prédios a nascerem no lugar de vivendas enquanto dorme na Polana Caniço. Esse país que vive em casas de bloco cru que a falta de dinheiro deixou construir não sabe quando será a sua vez. Esse país morre de fome e da sua própria independência.
Esse país vive martirizado pelo SIDA dentro de um outro país que recebe rios de dinheiro para combatê-la. Esse país morre disso e de conformismo. Esse país assiste, impávido e sereno, o conforto dos dirigentes de um país subdesenvolvido com luxos que países do primeiro mundo não dão aos seus dirigentes.
Esse país vai fazer, nos próximos dias, a presidente da Assembleia da República circular num Mercedes S500 adquirido pela módica quantia de 500 mil dólares. Esse país, esventrado por uma guerra fratricida, gosta desses luxos.
Esse país gosta de dirigentes megalómanos que atribuem às pontes os seus nomes, mesmo quando elas (as pontes) tudo o que fazem é unir o país. Este país permite esse tipo de coisas e ninguém questiona.
Este país é o quarto pior país do mundo para a população, mas é certamente o melhor do mundo para ser dirigente. Este país não prende quem rouba. Ou seja, este país permite tudo aos seus políticos. Este país permite Cateme; este país permite baypass e derivados. Esse país não está preocupado com os seus.
O preço do transporte público subiu ontem e o país está preocupado em dar conforto aos representantes dos oprimidos. Você, povo, anda de caixa aberta. Eu, dirigente, preciso de um carro que podia ser traduzido em cinco ou seis machimbombos para insuflar o meu ego e mostrar a minha importância.
Esse país desconhece o termo governação. Aliás, há muito que esse termo foi morto e substituído por outro quando se trata de sentar-se na cadeira do poder: tirania.
Esse país é uma mentira.



Editorial, A Verdade.

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