Sunday, 25 November 2012

COISAS QUE NÃO ESTRANHAMOS - “Discoteca” a 100 metros das enfermarias do HCM



HÁ sensivelmente quatro meses, na zona do Hospital Central de Maputo, nasceu um bar-lounge no antigo restaurante “1908”, um espaço histórico da cidade, cuja arquitectura nos remete para o passado.
Outrora, este espaço funcionou como restaurante para médicos (aliás, pertence à Associação dos Médicos de Moçambique) e outro pessoal da saúde. Ao longo do tempo foi modernizando-se sob ponto de vista de serviços, é verdade, mas tendo sempre em atenção as exigências do local onde se localiza.
E não foi por mera casualidade ou coincidência que a gerência sempre manteve esses serviços num ambiente discreto e subtil para preservar a serenidade e tranquilidade do espaço. Será por causa dessa calmia que muita gente transitava naquele passeio sem dar conta de que ali funcionava uma casa de pastos. Os seus gestores sempre fizeram questão de não criar ambientes agitados e com “muitos holofotes” em volta deste histórico “1908”, precisamente por se encontrar no quarteirão do hospital, por sinal, o maior do país.
Hoje, este espaço beneficiou de um restauro, alterando, de certa forma, a sua estrutura interna. Diga-se de passagem que para além da sua tradicional vocação de comes e bebes, acrescentou como inovação um ambiente de discoteca, com “música quente”. Aos fins-de-semana, a música tem sido o “cardápio”, um grande atractivo para os clientes mais jovens, alguns que pela noite fora vão testando a capacidade das suas “máquinas”.
O lugar onde se encontra o bar com música preocupa. Basta dizer que há sensivelmente 200 metros se localiza a morgue, onde estão depositados os corpos dos nossos ente queridos e a capela onde se fazem velórios. Não distante ainda, se encontram as enfermarias de medicina e serviços de oncologia, onde os nossos irmãos gritam de dor ou dão o último suspiro. Parece não ficar bem-estar num “tchilling” daqueles com pessoas a sofrerem ali perto. Será que não se pensou naqueles que se encontram ali a lutar pela vida? Parece que vivemos numa cidade em que a moral deixou de fazer parte e tudo o resto não conta quando se trata de negócio!
Igualmente, fica a preocupação em relação aos carros que estacionam do lado de fora do “bar-lounge”, cujos condutores, sobretudo da camada jovem, fazem ralis ao fim de cada sessão de copos ao som de música. Outros que não encontram espaço no passeio do 1908, recorrem ao parte frontal da Medicina, como se pode ver no texto do nosso colega Juma Capela. Como é que as autoridades competentes autorizaram uma actividade como esta naquele espaço?
São coisas que acontecem na nossa cidade e que não estranhamos.



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