Monday, 15 October 2012

Um país decadente

A cada dia que passa parece que ninguém tem dúvidas de que o nosso país está a ser empurrado para a decadência por um grupo de indivíduos sem juízo e, como sempre, o povo, que se deixa levar na conversa de promessas feitas por quem que nunca as poderá cumprir, é que paga a factura.
A nossa justiça, desactualizada, também caminha nesse diapasão. O caso da condenação dos 37 membros do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) é paradigmático disso.
Não se justifica que num Estado de Direito e em 37 anos de independência, continuemos a assistir a atitudes deprimentes (leia-se militares) como a protagonizada pelo Tribunal Judicial da Cidade de Inhambane.
Aquele grupo de membros do MDM foi julgado e condenado a penas não remíveis, correspondentes a dois meses de prisão efectiva para cada um dos sentenciados. E o mais curioso é o facto de, na noite do passado dia 5 de Outubro, terem sido transferidos para as cadeias de fora de Inhambane, tendo sido distribuídos pelas penitenciárias de Maputo, Maxixe, Homoíne e Morrumbene como se de presos políticos se tratasse.
Indubitavelmente, essa situação não passa de perseguição política para intimidar os moçambicanos que queiram abraçar outra cor partidária. Pelo andar da carruagem, tudo indica que continuaremos a assistir ao mesmo comportamento por muitos anos, uma vez que é impossível humanizar as pessoas que se encontram à frente das instituições públicas e/ou do Estado.
Aliada a essa realidade de violação do direito à liberdade partidária está o facto de os moçambicanos serem reduzidos a simples bestas de carga, não havendo espaço para o diálogo e, muito menos, lugar para rectificar o que está mal. O Governo de turno, na sua insensibilidade congénita, continua a falar de confiança no futuro e no mítico combate à pobreza absoluta.
E, quando se fala de confiança e no combate à pobreza, os moçambicanos limitam-se a aplaudir sempre na expectativa de milagres que nunca acontecerão e auto-flagelam-se até à náu- sea, tudo na esperança de que os seus políticos terão compaixão. Mas em vão o fazem porque, nos tempos que se seguem, colocar o interesse do país antes das rivalidades partidárias e interesses pessoais parece utopia.
O povo arregimentado por caciques estala aplausos de forma harmónica para os discursos cheios de banalidades, de frases feitas e de lugares-comuns.
Na verdade, os discursos não passam de projecções, alucinações políticas ou de um documento de matriz poética, pois nada é avançado sobre o que será rectificado na Educação, na Saúde, na Justiça e na Economia de um país que alegremente anda aos papéis e à volta do próprio umbigo.
Os políticos profissionais que hoje temos são um verdadeiro perigo público. São vampiros políticos que medram à custa do sofrimento e do generalizado subdesenvolvimento cultural dos moçambicanos.
Afogados em massificados almoços, regados com cerveja, vinho e uísque pagos com sangue, suor e lágrimas do povo, contribuem, no Governo e na Oposição, para levar o país ao abismo. Numa palavra, os políticos que temos por aí são os principais produtores de pobreza e de pobres em massa.
Humilhantemente enganados pelas falinhas mansas de lobo travestido de cordeirinho, os moçambicanos, ingenuamente, têm-lhes confiado a resolução dos seus problemas e os seus destinos.
Ao serviço de grandes interesses económicos e financeiros pessoais, colocam o povo a ocupar-se exclusivamente em futebóis deprimentes e novelas anestesiantes, porque do destino e da economia do país cuidam eles.
Na verdade, alguns dirigentes e funcionários do Estado parecem ter descoberto a vocação de chulos. Quando lhes são confiados cargos, vêem uma oportunidade para não fazer nada, esquecendo que tal significa mais trabalho.
A primeira coisa que, invariavelmente, fazem quando assumem o posto de trabalho é procurar saber quem é o chefe da Contabilidade e dos Recursos Humanos, por duas razões distintas: roubar e distribuir empregos para familiares, amigos e para os amigos dos amigos. Uma pergunta fica no ar: será que este regabofe vai terminar um dia?



Editorial, A Verdade

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