Tuesday, 9 October 2012

Um olhar sobre os nossos vizinhos: África do Sul, o arco-íris prometido

Há quem pergunte como é que um país do hemisfério sul, africano, relativamente novo, pode ter uma história tão rica e, em pouco mais de trinta anos, ter visto cidadãos seus galardoados com dois Prémios Nobel da Literatura (Nadie Gordimer e Coetzee) e três da Paz (Nelson Mandela, F. De Klerk e Desmond Tutu).
O mesmo país que viu nascer o ser humano mais famoso da segunda metade do ´sec. XX - Nelson Mandela -, e onde viveu, trabalhou e despontou para a sua luta o mais célebre da primeira metade desse mesmo século - Mahatma Ghandi.
Dizem que a República da África do Sul é uma terra de riquezas, sofrimento, de paixões, de mártires e de heróis.
O primeiro destes últimos, o grande chefe Chaka Zulu iniciou a primeira revolução na população negra, no início no século XIX, transformado o seu exército numa máquina de guerra e chegando mesmo a derrotar o poderoso exército britânico no campo de batalha.
Mais do que qualquer outro país no continente, a África do Sul é o exemplo do sincretismo de culturas tão diversas produzidas com o colonialismo e o movimento dos povos, ao longo dos últimos três séculos.
Os portugueses foram os primeiros europeus a contornar o cone sul do continente, passando do Atlântico para o Índico. Deixaram a sua marca na designação do Cabo da Boa Esperança e no território, hoje província, do Natal, para além de outros registos topográficos, como a Baía de Saldanha.
O nosso país sempre esteve ligado a esta região, quer pela proximidade de alguns grupos étnicos, através da língua tsonga - em Moçambique conhecidas nas suas variantes ronga e changane -, por quer através dos milhares de trabalhadores moçambicanos que desde o início do século XX foram trabalhar nas minas de ouro da África do Sul.
E foi precisamente a descoberta de minas de ouro e diamantes que fez desencadear a Guerra dos Bôeres, com Bôeres e Britãnicos a lutarem pelo controlo destas riquezas. Após a vitória dos Britânicos, o país obteve a independência do Reino Unido em 1910, sob o controle destes últimos.
Por outro lado, durante o chamado período da Guerra Fria, as relações entre os nossos dois Estados foram tudo menos amistosas, como foi o caso do bombardeamento da Matola e do apoio expresso do governo deste país a uma facção política moçambicana - a RENAMO.
Mas o que colocou a África do Sul na agenda internacional do século XX foi o Apartheid. Durante os anos de colonização Holandesa e Britânica, a segregação racial era essencialmente informal, apesar de algumas leis terem sido promulgadas para controlar o estabelecimento e a livre circulação de pessoas nativas.
Os subsequentes governos sul-africanos acabaram por legalizar e institucionalizar o sistema de segregação racial, o que mais tarde ficou conhecido como apartheid. Foram então oficialmente estabelecidas três categorias de estractificação racial: brancos, mestiços e negros, com direitos e restrições específicos para cada categoria.
Em resposta a esta política segregacionista foi criado um movimento numa reunião, em 1912, na província do Estado Livre de Bloemfontein, entre empresários, religiosos, jornalistas, advogados e professores, com o nome Congresso Nacional dos Nativos Sul-Africanos que, a partir de 1923, passou a chamar-se apenas Congresso Nacional Africano, conhecido também pela sigla ANC.
A década de 40 viu chegar uma nova geração de activistas como Walter Sisulu, Nelson Mandela, Govan Mbeki, Oliver Tambo e tantos outros que fundaram a liga juvenil do movimento-partido. O partido foi banido pelas autoridades e o seu então líder, Nelson Mandela, foi preso junto com outros membros.
Nos anos 70 e 80 do século XX a pressão de alguns países e instituições ocidentais começou a fazer efeito, com boicotes aos negócios por causa das suas políticas de opressão racial e de direitos civis.
Após anos de protestos internos, activismo e revolta de sul-africanos negros e de seus aliados, o governo sul-africano libertou Nelson Mandela, em 1990, e iniciou negociações que levaram ao desmantelamento das leis de discriminação, legalizou o ANC e levou às eleições democráticas de 1994.
Apesar da política ter estado quase sempre nas notícias, a África do Sul produziu artistas como a cantora Miriam Makeba, o trompetista Hugh Mazekela, o grupo coral Lady Smith Black Mambazo, entre outros, e uma das músicas mais universais: The Lion Sleeps Tonight.
O país é um grande produtor de vinhos, especialmente na região do Cabo e possui um dos parques naturais mais conhecidos do continente: o Kruger Park, que faz fronteira com Moçambique.
A África do Sul é um país multiétnico, com as maiores comunidades europeias, indianas e racialmente mistas da África. Os negros constituem 79% da população sul-africana e são compostos por diferentes grupos étnicos que falam línguas bantas.
Onze línguas oficiais são reconhecidas pela Constituição do país. Duas dessas línguas são de origem europeia: o africâner, de origem holandesa e que é falada pela maioria dos brancos e mestiços sul-africanos, e o inglês sul-africano, a mais falada na vida pública oficial e comercial.
O país tem uma população de 48.810.427 e como principais cidades Pretória (capital), Joanesburgo, Cidade do cabo, Durban e Bloemfontein.

SAPO

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