Saturday, 20 October 2012

EDITORIAL

O DESAIRE da nossa Selecção Nacional, sábado passado, ao ser derrotada de forma humilhante por 4-0, em Marrakech, pelos marroquinos, provocou e continua a provocar uma onda de choque e indignação geral pelo país inteiro aos amantes do desporto e em particular do futebol.
Como foi possível tamanho golpe? Esta é a pergunta colectiva de frustração inconsolável dos moçambicanos.
Todavia, julgamos que não adianta agora o sentimento de auto-flagelação ou a resposta clássica dos pessimistas em tudo, de que já sabíamos que ia ser assim, ou pior ainda dizer que esta é a selecção que merecemos! Como podíamos merecer o que não está bem? Pode ser que uns se revejam sistematicamente no negativo. Nós não.
Não temos pudor nenhum em assim o dizermos. Porque antes e pelo contrário havia razões objectivas para acreditarmos que a selecção se poderia qualificar para o CAN/2013, cuja fase final vai ter lugar na vizinha África do Sul. Face ao resultado que a selecção obteve na Machava e equacionadas todas as probabilidades, isso era possível, bem possível. Isso não aconteceu.
Para que não haja dúvidas: estamos também desapontados, quiçá revoltados com o que está a acontecer ao nosso futebol e que em nada dignifica o país e esvazia, neste sentido, a enunciação da auto-estima. Mas queremos ir para a frente. E para a frente não é só mais reflexões. Essas já dariam para livros e tomos.
Quando perde a Selecção Nacional advoga-se que a primeira cabeça a rolar é a do seleccionador ou a do presidente da Federação, ou que é preciso descobrir quem foi ou foram os jogadores comprados. Desencadeia-se uma teoria de conspiração. Fica-se na periferia e não se vai ao âmago da questão.
Não é necessariamente o caminho certo, porque estamos há muito tempo num problema estrutural. Não estamos a centrarmo-nos na figura do presidente da Federação. Se a vontade é que seja crucificado que assim seja, não lamentaremos. Mas a dúvida prevalece. É suficiente para se resolver o problema?
O nosso eixo de análise parte do seguinte pressuposto: sendo a Selecção Nacional também um assunto de Estado, por que razão as suas instituições fazem pouco ou pelo menos não o suficiente para se sair desta letargia. Sim, porque as evidências empíricas assim o demonstram.
Por que razão a compilação das várias reflexões durante largos anos não conduzem a uma alteração pragmática da forma como se pensa, se projecta, se investe e se altera estruturalmente o lugar do desporto na política nacional?
Aqui recordamos algumas das principais reflexões públicas já feitas: que é imperioso que o país disponha de campos à altura para uma preparação condigna dos atletas, nas modalidades que as instituições do Governo e as federações decidam ser prioritárias; que deveria ser também obrigatório que os clubes nos seus planos e estratégias de desenvolvimento das suas modalidades incluíssem com efectividade, e não só no plano teórico, a formação das camadas jovens, que são o garante técnico e de qualidade do desporto em diversas modalidades.
Mais se disse: a importância que representam os diversos torneios dispersos e desconexos das camadas jovens, nomeadamente o Torneio BEBEC, Jogos Escolares, Copa Coca-Cola, Basket Show, entre outros, precisa de entrar na equação formal do desporto nacional. Nós já o dissemos e continuaremos a dizer enquanto as coisas caminharem nesta direcção.
Por conseguinte, por aquilo que está a acontecer – e sem que isso signifique abandonar os “Mambas” à sua sorte, a FMF devia centrar mais as atenções, por exemplo, nas selecções de Sub-20 e Sub-17, criando-lhes as condições necessárias e dar-lhes o “veneno” necessário para que chegados aos “Mambas” proporcionem à Nação as alegrias que deles se espera.
Defendemos que se impõe materializar uma política do desporto, do futebol, clara com um cronograma conhecido publicamente.
É preciso reorganizar estruturalmente o desporto, o futebol, injectar as condições necessárias para funcionar, apostar mais nas camadas jovens, criando desta forma uma ruptura com o pensamento de querer colher sem semear.
Por que reflectirmos mais do que fazemos enquanto sabemos o que deve ser feito?


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